Governo erra ao não entender Ceitec como o Senai da microeletrônica
O governo federal comete um erro de cálculo ao justificar a venda da Ceitec pelo fluxo de caixa da empresa. Trata-se muito mais de um centro de inovação, que gerou um ecossistema nacional no campo da microeletrônica e que só não fatura mais por restrições impostas pelo próprio governo.
“A Embrapa não se mede a importância no que ela fatura menos o que ela custa. Todo o setor agropecuário do Brasil reconhece a importância das mais de 100 unidades de pesquisa da Embrapa no Brasil. A Ceitec nada mais é que uma unidade de pesquisa da indústria eletrônica estratégica para o Brasil, como é uma unidade da Embrapa para a indústria cacaueira na Bahia, como é o centro de biotecnologia em Brasília. São centros de P&D, não se medem por despesa menos receita”, destacou o pesquisador de microeletrônica e ex-diretor técnico da estatal Sérgio Bampi.
Ao participar de audiência pública da comissão de ciência e tecnologia do Senado Federal nesta segunda, 25/10, Bampi ressaltou que a conta do PPI que mede o Ceitec por gerar R$ 7 milhões e custar R$ 80 milhões, ignora o próprio papel dos centros de desenvolvimento.
“Essa entidade é muito mais do que uma empresa, e isso não entendeu o comitê coordenador do PPI, é parte de uma estratégia de política tecnológica industrial de Estado. Avaliar VPL é apenas uma metodologia e essa empresa não se mede pelo seu fluxo de caixa”, disse Bampi. “Há uma crescente componentização dos sistemas eletrônicos. Tudo, seja no carro, na energia elétrica, na atividade comercial, no dia a dia, tem funcionalidade embarcada nos chips. A convergência da microeletrônica para dentro de todos os segmentos econômicos faz que ela seja estratégica a todos os países com pretensão na área industrial. O próprio 5G só se viabiliza com chip”, emendou.
“Precisa manter o Ceitec porque ele é um centro de inovação. É um Senai da indústria eletrônica, da microeletrônica. E o Senai não terá condições de fazer investimento de US$ 160 milhões para indústria eletrônica no Brasil. Se o Ministério da Economia ainda não assim compreendeu, está completamente equivocado”, disse Bampi.
Ele ressaltou a importância de uma sala limpa de 1060 metros quadrados, sem paralelo na América Latina. Mas lembrou que os atores privados do mercado no país não vão absorver a estrutura. “Com o Padis, que termina em 2022, o setor privado existente no Brasil faz complementariedade, não faz competição com Ceitec. Produz R$ 3 bilhões por ano em etapas finais de produção, não têm interesse na sala limpa.”