
Ana Paula Lobo, de Hulunbuir, Mongólia Chinesa*
A Yimin, maior mina de carvão a céu aberto do mundo, localizada em Hulunbuir, na Mongólia Chinesa, combina desde maio, a partir de uma parceria com a Huawei, o uso do 5G Advanced, da Inteligência Artificial e da computação em nuvem. Também se tornou pioneira no uso de uma frota de 100 caminhões elétricos autônomos não tripulados para ganhar mais eficiência e buscar um novo padrão de mineração inteligente, com zero emissão de carbono, essencial para um país que ainda tem o carvão como a principal fonte de energia.
Localizada em uma região – na fronteira da China com a Rússia que sofre bastante com as mudanças climáticas – tendo temperaturas de menos 30 graus no inverno, e muita chuva no verão, como agora, em setembro – a Yimin estabeleceu uma meta para ser uma mina inteligente capaz de produzir energia mais limpa e verde, mesmo vinda da exploração do carvão.
“Começamos com nove caminhões em maio e, hoje, já temos 100 caminhões elétricos autônomos não tripulados na produção e a previsão de chegarmos a 200 até dezembro. E o melhor é que nesses quatro meses de uso, nenhuma falha foi registrada no processo”, contou aos jornalistas da América Latina o subsecretário da gerência geral da fabricante dos caminhões, Huaneng Yimin Coal and Electricity, Shu Yingquiu.
Coube às operadoras chinesas estatais, entre elas a China Mobile, construírem a rede privativa baseada no 5G Advanced, com uplink de 500 Mbps e latência de 20 ms, e oferecendo suporte de rede para backhaul de vídeo HD para a transmissão pela nuvem – ofertada pela Huawei – dos dados coletados nos caminhões autônomos. No futuro, a cobertura 5G-A suportará operações 24 horas por dia, 7 dias por semana.
O diretor de Negócio de Petróleo, Gás e Mineração da Huawei, Shao Qi, diz que a China tem 300 minas de carvão a céu aberto e 3.700 minas subterrâneas, cada uma com cerca de 2 mil funcionários em funções inóspitas e perigosas. “A nossa ideia é reduzir em até 70% o número de trabalhadores em minas de alto risco. Já há uma grande dificuldade para acharmos profissionais dispostos a trabalhar na modalidade. E a combinação do 5GA, da nuvem e da IA nos permite oferecer segurança”, diz.
Shao Oi assume que a iniciativa da mina Yimin é o primeiro passo para atuar na própria China e, especialmente, em países como Brasil, Chile e México, onde há muitas mineradoras em situações semelhantes. No Brasil, o executivo da Huawei revelou que conversa com a Vale para a realização de um piloto com a combinação das tecnologias, mas não adiantou detalhes sobre quando esse piloto poderia acontecer. Há também interesse em atuar no Chile e no México.
Veículos autônomos ainda precisam de regras
O executivo da Huawei admitiu que é preciso definir normas para a condução de veículos autônomos sem motoristas. “Na prática, eles são dirigidos por um motorista virtual conduzido pela Inteligência Artificial, mas há ainda dificuldades a serem tratadas. Esses motoristas autônomos, não humanos, também têm de cumprir regras de trânsito a serem estabelecidas pelas autoridades. Aqui instituímos as buzinas e temos um monitoramento 100% real pela nuvem”, pontuou.
Indagado se os veículos autônomos não tirariam empregos de humanos, Shao Oi disse que há uma dificuldade imensa de conseguir novos profissionais dispostos a trabalhar em minas de carvão. “Os jovens não querem e vão para a capital. Mas estamos criando empregos com o uso das tecnologias avançadas. A ideia é reter os jovens nas suas cidades”, adicionou.
O uso da computação em nuvem é essencial para o sucesso da transição inteligente e verde das minas de carvão, especialmente associada aos dados coletados pela inteligência artificial para viabilizar as operações em tempo real. Os números impressionam: os caminhões elétricos autônomos têm a capacidade de transportar 90 toneladas por vez, e fazem o trajeto 28 vezes ao dia. Isso significa que numa mina com capacidade de produção de 35 milhões de toneladas de carvão/ano, esses caminhões transportam e coletam 2.520 toneladas por dia. Isso agora que ainda não estão funcionando 24 horas por sete dias da semana.
“Aqui entra a exigência do monitoramento em tempo real para assegurar a transmissão dos dados e a segurança de toda a operação. E fazermos estatísticas de big data para saber qual a quilometragem de cada veículo, quantas vezes ele trocou de bateria. E sem os dados na nuvem, esse monitoramento não existiria”, detalha Shao Oi.
Os executivos não falaram sobre investimentos, mas o projeto de transformar a mina de Yimin em inteligente e mais verde teve o apoio do governo chinês e participação da construtora dos caminhões autônomos, China Huaneng Group Co., Ltd. (China Huaneng), da Xuzhou Construction Machinery Group Co., Ltd. (XCMG), da Huawei Technologies Co., Ltd. (Huawei) e a State Grid Smart Internet of Vehicles Co., Ltd. Além das operadoras de telecomunicações estatais – China Telecom, China Mobile e China Unicom.
Ana Paula Lobo viajou à China a convite da Huawei Brasil