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Care Plus: IA vai levar saúde para onde o paciente quiser

Em julho, a operadora de saúde Care Plus anunciou que havia conseguido uma economia de cerca de R$ 50 milhões desde 2023 a partir da gestão do uso estratégico de dados por meio do modelo data analytics. A cifra chamou a atenção do Convergência Digital que entrevistou Ricardo Salem, diretor de saúde da Care Plus, para entender como a operadora de saúde vem adotando inteligência artificial. Salem, está há 10 anos na Care Plus e é o responsável-técnico junto aos órgãos regulatórios e por garantir as melhores práticas clínicas oferecidas aos beneficiários e aos clientes da operadora.

A Care Plus opera no Brasil há 32 anos e, atualmente, faz parte da Bupa, grupo britânico com atuação em mais de 190 países e com mais de 38 milhões de beneficiários. Um dos diferenciais da companhia é ser globalizada, estando presente em todos os continentes. Isso dá à Care Plus capacidade de criar inovações —tendo em vista que, normalmente, as pessoas enfrentam problemas de saúde semelhantes — e com a possibilidade de testar as soluções em localidades diversas.

“A Bupa consegue juntar diversas iniciativas e novas formas de endereçar saúde”, disse Ricardo Salem, explicando que a adoção de inteligência artificial entrou no roadmap como parte da esteira de inovação. Um exemplo é o escaneamento intraoral. “95% do nosso negócio é plano de saúde, mas temos também no Brasil sete clínicas odontológicas — no mundo, são mil — e uma das tecnologias que usamos muito no Brasil é o escaneamento intraoral que tem embarcado nele algoritmo de IA. Na hora que fazemos o escaneamento, o robô de IA faz cenário de simulação de como vai ficar a arcada dentária depois do tratamento”, detalhou.

Outro exemplo está na medicina ocupacional. A companhia tem empresas de medicina ocupacional e de vacinas. “Com a pandemia, muita gente que foi para home office não tinha condição de garantir a ergonomia adequada para o trabalho adequado. Usamos uma ferramenta de IA que captura a imagem do ambiente de trabalho do colaborador no home office para avaliar a adequação”, explicou Salem.

Para o executivo, a tecnologia será cada vez mais uma aliada para melhorar a saúde das pessoas. “Enxergamos que o futuro será com soluções digitais e em casa, que é o conceito de desospitalizar. A saúde será onde e como o paciente quiser, com o paciente, cada vez mais,participando da sua jornada de saúde. Acreditamos em um modelo menos centrado em médicos e hospitais e empoderando pacientes para participar da sua jornada de cuidado”, frisou.


Futuro da saúde é onde paciente quiser

Tendo esta crença de que a saúde será digital, em casa e com o paciente empoderado, a grande inovação é usar inteligência artificial para endereçar os desafios que emergem. Salem citou como exemplo uma tecnologia desenvolvida pela NuraLogix, que lançou um aplicativo (Anura), que promete dizer se o usuário está saudável com apenas uma selfie.

“Através de escaneamento da face pela câmera do celular, o algoritmo baseado em IA vai dar um relatório com uma série de parâmetros clínicos da pessoa”, explicou Salem para contar que Care Plus incorporou a tecnologia no aplicativo para o beneficiário fazer o escaneamento na hora que quiser.

“Não é diagnóstico”, ressaltou. “É uma ferramenta usada para ser pré-triagem e que pode sensibilizar o indivíduo para saber, por exemplo, como é a pressão dele. Ele pode consultar os parâmetros, enviá-los a um médico. Mas com isso começo a facilitar a percepção de cuidado”, detalhou. A Care Plus tem cerca de 180 médicos que atendem no pronto-atendimento virtual e poderiam se valer das informações coletadas para complementar a consulta.

Outra ferramenta adotada é o TytoCare, um dispositivo que possibilita que exames sejam feitos de qualquer lugar, bastando ter sinal de internet, e sejam acessados pelo profissional de saúde de maneira remota. “O gadget fica com paciente que coloca o dispositivo no coração e o médico do outro lado da teleconsulta escuta o coração”, exemplificou. O TytoCare fornece, em tempo real, dados de temperatura, batimentos cardíacos, ausculta cardíaca e pulmonar, avaliação de rede orofaringe e ouvido. A ideia é usar o dispositivo nas consultas de telemedicina em casos de intercorrências.  

A tecnologia exerce um papel transformador na indústria como todo; e a tendência é culminar em tratamentos personalizados dentro da chamada medicina de precisão. Mas ela ainda é cara e uma maneira de conseguir deixá-la mais acessível é, na visão de Salem, diminuindo os desperdícios de todo resto da jornada, tal como uma ida desnecessária ao pronto-socorro. “Para isso, precisamos melhorar o início do acesso à saúde e fazer isso de forma exponencial com uso de IA”, destacou.

Diante do avanço da IA na telemedicina, qual é o futuro do médico? “Eu sou médico e a sociedade vai precisar sempre de médicos, mas acho que os médicos do futuro vão ter a IA como uma ferramenta de trabalho. A IA vai começar a fazer parte das anamneses. Por exemplo, estou conversando com o paciente e a ferramenta vai ouvindo o que está acontecendo. Ela pode me guiar a fazer perguntas para conduzir a conversa  e buscar melhor diagnóstico, sendo um apoio ao médico”, vislumbrou.

Ricardo Salem não abriu os números de investimentos seja em inteligência artificial, seja em tecnologia da informação como um todo, mas reforçou que os R$ 50 milhões — dado que abre a matéria — são o retorno que a operadora teve com o uso de data analytics. “Criamos uma área de data analytics há oito anos, antes da Bupa comprar a Care Plus, porque nós reconhecemos a importância de usar os dados para melhorar a saúde. Nossas decisões passam por dados também”, destacou.  

Atualmente, a Care Plus no Brasil conta com uma equipe multidisciplinar de 15 pessoas, incluindo médico, cientista de dados, engenheiro, enfermeira, entre outros, que estão usando dados do data lake para diversas funções — uma delas é conseguir comparar prestadores para ver quem tem melhor desfecho clínico.

“Nosso investimentos em data analytics passam muito pelo propósito que temos de ajudar beneficiários a tomar melhores escolhas em saúde”, destaca Salém. Na parte administrativa, a IA vem sendo usada na construção de modelos para ajudar o analista de sinistro a tomar melhores decisões sobre o que pode ser uma possível fraude e o que não é. 

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