Fazenda vertical, a Covid-19 e a emergência da produção de alimentos
Um dia desses estava “paquerando” umas publicações de agricultura digital [1] e me deparei com um tema novo que me deixou bastante curioso que foi o assunto da “Vertical Farm” [2] e a matéria que “paquerei” foi esta aqui que tratava sobre energia eólica para uma “fazenda vertical” na Dinamarca [3]. A energia elétrica é um insumo muito crítico nesse tipo de “fazenda”!
O que é isso hein gente? Segundo o Wikipedia a “Agricultura Vertical é a prática de cultivo em camadas empilhadas verticalmente. Muitas vezes incorpora agricultura de ambiente controlado, que visa otimizar o crescimento das plantas, e técnicas de cultivo sem solo, como a hidroponia e outras práticas equivalentes. Algumas opções comuns de estruturas para abrigar sistemas agrícolas verticais incluem edifícios, contêineres de transporte, túneis e poços de minas abandonados.
Em 2020, havia o equivalente a cerca de 30 hectares (74 acres) de terras agrícolas verticais operacionais no mundo. O conceito moderno de agricultura vertical foi proposto em 1999 por Dickson Despommier [4], microbiologista e professor de Saúde Pública e Ambiental na Universidade de Columbia. Despommier e seus alunos criaram um projeto de uma fazenda em arranha-céus que poderia alimentar 50.000 pessoas. Embora o projeto ainda não tenha sido construído, ele se popularizou com sucesso a ideia da agricultura vertical. As aplicações atuais de lavouras verticais combinadas com outras tecnologias de ponta, como lâmpadas LED especializadas, resultaram em mais de 10 vezes a produção da safra do que receberia por meio de métodos agrícolas tradicionais.”
Conheça aqui (e veja o vídeo) de uma dessas plataformas de Agricultura Vertical da iGrow [4.1].
As “fazendas verticais”, que podem ser encontradas em todo o mundo, usam luzes LED e ambientes internos cuidadosamente controlados para cultivar produtos com muito menos água, espaço e fertilizante do que os ambientes de cultivo tradicionais usam. O consumo de energia nesse tipo de agricultura demanda uma quantidade alta de energia e, dessa forma, precisa de energia barata. Acima na referência [3] citamos um caso de uma “fazenda vertical” na Dinamarca que utiliza energia eólica.
A pandemia de Covid desse ano tornou “quente” o tema da “fazendo vertical” por causa do receio de interrupção no fornecimento de alimentos [5]. Na pauta do dia do “new business” desenvolvimentos incluem a construção da maior “fazenda vertical” da Europa [6], planos para construir a maior fazenda coberta do mundo no deserto de Abu Dhabi [7] e uma rodada de arrecadação de fundos de 140,0 MUS$ para a startup Plenty apoiada pela SoftBank [8]. A norueguesa Kalera anunciou recentemente uma colocação de um IPO de 100,0 MUS$ antes de ser listada no Mercado Merkur da Bolsa de Valores de Oslo em 28 de outubro. Muito dinheiro “novo” apostando na onda da “fazenda vertical”.
Uma grande vantagem da utilização de tecnologias agrícolas verticais é o aumento do rendimento da safra por uma menor área unitária de necessidade de terra. A “fazenda vertical” é muito usada para o cultivo de hortaliças (e também frutas) e deve ser localizada perto de grandes centros urbanos de consumo.
Mas nem tudo são flores. A “fazenda vertical” enfrenta alguns desafios econômicos, a saber: 1) o custo do metro quadrado (nos centros urbanos) comparado ao das fazendas convencionais; e 2) Elas também são submetidas a grandes demandas de energia devido ao uso de luz suplementar como LEDs. Além disso, se a energia não renovável for usada para atender a essas demandas de energia, as fazendas verticais podem produzir mais poluição do que as fazendas ou estufas tradicionais.
O setor – apesar da pandemia – ainda continua pouco lucrativo e minúsculo mas com grande interesse em investir nele. A agricultura vertical ocupa o equivalente a 30 hectares de terra em todo o mundo, de acordo com a analista do Rabobank Cindy Rijswick, em comparação com o cultivo ao ar livre de cerca de 50 milhões de hectares e 500.000 hectares para estufas.
O alto investimento do capital inicial e os custos de operação significam que é difícil obter lucro. As empresas devem pagar por mão de obra especializada e enfrentar enormes contas de luz para iluminação e ventilação, além de oferecer preços competitivos para atrair consumidores. O preço da energia é um ponto muito crítico do negócio.
Outra empresa do seto, a IGS (Intelligent Growth Solutions) [9], também diz que a pandemia gerou um aumento no interesse em “fazendas verticais”. Na fazenda de demonstração da IGS em Invergowrie, perto da cidade escocesa de Dundee, bandejas de produtos empilhados em torres de 9 metros de altura são gerenciadas remotamente, desde a semeadura até a embalagem. Os seres humanos só precisam entrar nas torres para manutenção ocasional. A operação pode ser efetuada inteiramente por robótica. A manutenção só precisa visitar a “fabrica” a cada seis meses [10].
Um lugar onde a agricultura vertical finalmente tem crescido é no Japão. Fábricas redundantes oferecem solo fértil para a agricultura interna sem solo. Apesar de um passado de prejuízos, o conceito agora está atraindo um aumento de investimento corporativo, ilustrado por empresas como Spread and Plenty, uma start-up dos EUA apoiada por 200,0 MUS$ de investidores como Masayoshi Son da SoftBank e Jeff Bezos da Amazon [11].
Recentemente tivemos um movimento interessante nesse segmento: a operadora de telecomunicações espanhola Telefónica anunciou uma parceria com a empresa espanhola Vertical Green [12] de agricultura vertical [13-14]. O objetivo principal da Telefónica é potencializar a coleta de dados de temperatura, umidade e iluminação coletados por meio de sensores de IoT (“Internet of Things”) de alta precisão posicionados nas lavouras. Esses dispositivos são conectados a servidores centrais por meio de redes de dados que são gerenciadas através da Plataforma IoT Kite [15] da operadora.
Por meio de algoritmos, esses servidores centrais analisam as melhores medidas de nutrientes, radiação fotossintética e irrigação e os valores atmosféricos necessários para cada uma das culturas em cada uma das fases de seu crescimento. Um banco de dados ajudará os agricultores a melhorar a produção e garantir os melhores parâmetros de cultivo, sem a necessidade de uso de fertilizantes e sem a constante vigilância do clima.
A Telefónica desenvolveu uma solução de IoT abrangente que permite conectar objetos por meio da rede Narrow Band IoT (NB-IoT do 4G) [16] da operadora, enquanto o sensoriamento IoT garante que os parâmetros definidos pelos agricultores sejam atendidos.
Todo mundo que está apostando na “fazendo vertical” tem na sua mente a IA e a Robótica … sem chance de não considerá-los nesse negócio [17-18].
Finalmente, lembre-se: esse negócio só será alavancado com energia barata e alto grau de automação!
Referências:
[1] Digital Agriculture, Wikipedia – https://en.wikipedia.org/wiki/Digital_agriculture
[2] Vertical Farming, Wikipedia – https://en.wikipedia.org/wiki/Vertical_farming
[3] Wind powers this new, enormous vertical farm in Denmark, Electrek, 11.dec.2020 – https://electrek.co/2020/12/11/wind-power-vertical-farm-denmark
[4] Dickson Despommier, Wikipedia – https://en.wikipedia.org/wiki/Dickson_Despommier
[4.1] Video: A Leader in The Localization of Agriculture , Igrow, Financial Times, 31.oct.2020 – http://bit.ly/2Ww2utM
[5] Vertical farming: hope or hype?, Financial Times, 20.oct.2020 – http://on.ft.com/3aotPpU
[6] Europe’s Biggest Vertical Farm Will Be Powered by Wind and Planted by Robots, Singularity Hub, 11.dec.2020 – http://bit.ly/2WDXp2l
[7] Referências do Google = the world’s biggest indoor farm in the Abu Dhabi desert – http://bit.ly/2KFI9PV
[8] Referências do Google = $140m fundraising round by a SoftBank-backed start-up Plenty – http://bit.ly/2WKHLCJ
[9] IGS (Intelligent Growth Solutions) – https://www.intelligentgrowthsolutions.com/
[10] Coronavirus crisis fuels interest in vertical farming, Financial Times, 17.aug.2020 – http://on.ft.com/3mz2W4V
[11] Vertical farming finally grows up in Japan, Financial Times, 23.jan.2020 – http://on.ft.com/3pgGwaB
[12] Vertical Green – http://vertical.green/
[13] Telefónica e Vertical Green digitalizam produção agrícola na Espanha, Telefónica, 15.dez.2020 – http://bit.ly/3oXVn9C
[14] Vídeo: Telefónica and Vertical Green digitize agricultural production in Spain, 15.dez.2020 – https://bit.ly/34xP6tt
[15] Kite Platform Telefónica IoT – http://bit.ly/2KKjXMs
[16] NB-IoT, Wikipedia – https://en.wikipedia.org/wiki/Narrowband_IoT
[17] This robot-tended vertical farm will grow 1,000 metric tons of greens per year, Digital Trends, 16.dec.2020 – http://bit.ly/3mCDdZv
[18] Referências do Google = AI Robotic Automation in Vertical Farm – http://bit.ly/3mGRyUC
Emitido por Eduardo Prado
Twitter: https://twitter.com/eprado_melo
Data: 21.dez.2020