Brasil vive momento decisivo em relação ao seu futuro digital
Brasil para ser um hub global na economia digital precisa tratar da renovação das redes; ter uma regulação flexível e trabalhar pelo ecossistema, e não apenas, por um segmento, como os de data centers.


Durante o painel Sustentabilidade de Rede – Investimento em Infraestrutura e Energético, realizado no Congresso Futurecom 2025, diversos especialistas destacaram tanto os avanços, quanto o potencial e os desafios do país na área de conectividade e infraestrutura. O painel gerou um debate acalorado sobre como o Brasil pode, de fato, se tornar um hub de data centers e como a regulação, a infraestrutura e o setor energético precisam se alinhar para esse futuro.
Juliano Stanzani, diretor do Departamento de Política Setorial do Ministério das Comunicações, iniciou sua fala destacando a importância da renovação constante das redes. Segundo ele, “a renovação das redes é uma necessidade contínua e permanente”, não apenas por questões de obsolescência, mas para garantir que os serviços oferecidos sejam sempre os melhores disponíveis para a sociedade. O executivo enfatizou ainda que a universalização das redes deve ser uma prioridade, garantindo acesso de qualidade a todos, sem exceção. “Precisamos nos preocupar para que o conceito de universalização também se aplique ao setor privado”, afirmou.
Destacando o potencial do Brasil no setor de datacenters, Rodrigo Schuch, presidente da Associação NEO, elogiou a descentralização da infraestrutura de rede no Brasil. Ele comentou que o país possui uma das redes mais fragmentadas e diversificadas do mundo. “O Brasil é o país mais descentralizado em termos de infraestrutura de rede. Isso é algo para se comemorar”, disse Schuch. Além disso, ressaltou o potencial do Brasil em se tornar um grande exportador de serviços relacionados a data centers, mencionando que apenas 40% do que é consumido em data centers no Brasil é produzido localmente. Para ele, a chave está em aproveitar a infraestrutura existente, com um aumento no número de data centers para criar um grande cinturão de dados no país.
Priscila Honório, gerente de Acompanhamento Econômico da Anatel, reforçou o potencial do setor no Brasil ao acrescentar que o país possui uma matriz energética limpa, mais de 200 milhões de internautas e recursos hídricos abundantes. No entanto, ela observou que o Brasil ainda carece de uma regulação econômica mais focada no mundo digital.
Já Alessandro Molon, diretor-executivo da Aliança pela Internet Aberta (AIA), se mostrou cético quanto à necessidade de regulação intensa. Para ele, a relação entre provedores de serviços de conectividade e streaming é uma verdadeira simbiose, e não uma fonte de problemas. “Não há risco de paralisação das redes, e o investimento em infraestrutura continua saudável”, afirmou Molon. Segundo ele, a verdadeira questão é que o mercado está funcionando bem, mas a regulação pode criar problemas desnecessários onde não existem. Ele ainda destacou o papel dos pequenos provedores, que são responsáveis por conectar 64% das residências brasileiras à internet, especialmente em áreas mais afastadas.
Marcos Ferrari, presidente executivo da Conexis Brasil Digital, assegurou que o Brasil será, até o final da década, um dos maiores hubs digitais do mundo. “Estaremos entre os cinco maiores do mundo, e eu não tenho nenhuma dúvida quanto a isso”, disse. Para Ferrari, a chave para o sucesso está em incentivar os investimentos em data centers e na implementação de políticas públicas flexíveis que atendam às necessidades do mercado. “A regulação tem que ser flexível, leve e incentivar os investimentos”, afirmou.
Fazendo um contraponto, Luiz Henrique Barbosa, presidente executivo da Telcomp, criticou o foco excessivo e exclusivo nos data centers. em sua visão, essa visão míope, como ele próprio classificou, ignora a complexidade do ecossistema de telecomunicações como um todo. “É injusto focar apenas nos data centers, é preciso olhar o ecossistema como um todo”, disse Barbosa. Babosa destacou que o setor enfrenta desafios relacionados ao retorno de investimento e à concorrência desleal, e que a sustentabilidade das redes depende de um equilíbrio entre todos os elementos que compõem a infraestrutura digital, não apenas dos data centers.
Ao final do painel, Juliano Stanzani ressaltou que o governo está fazendo um esforço contínuo para melhorar a infraestrutura digital no Brasil, com iniciativas como o Redata, que visa diminuir custos tributários para data centers, e a realização de workshops internacionais para discutir como melhorar ainda mais o setor. Ele também afirmou que é fundamental ouvir a sociedade e os diversos stakeholders do setor antes de tomar decisões. “Não podemos mais impor soluções sem ouvir a sociedade”, afirmou Stanzani.
O painel ainda tratou dos caminhos que o Brasil deve seguir para aproveitar seu enorme potencial no setor de infraestrutura e energia digital. Aqui os painelistas foram unânimes: se o Brasil conseguirá superar os desafios regulatórios e de infraestrutura, como o alinhamento entre a Anatel e a Aneel, e consolidar-se como um hub digital global, dependerá da coordenação entre os diferentes atores do setor. “Com mais coordenação, avançamos mais”, concluiu o Molon, lembrando que o Brasil tem tudo para se tornar um hub de data centers, mas que isso não será alcançado sem uma ação coordenada entre governo, empresas e reguladores.