Economia digital exige pressa do Brasil na formação de capital humano
O Brasil está perdendo, mais uma vez, o “bonde da história”. Nos últimos anos, “o País perdeu várias posições em todos os rankings internacionais de desenvolvimento econômico e social, pela não utilização na escala exigida para atender às demandas da sociedade brasileira de soluções disruptivas suportadas pelas Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs)”, adverte o secretário-geral da Confederação Nacional da Tecnologia da Informação e Comunicação (ConTIC), Cesar Rômulo.
Em entrevista ao portal Convergência Digital, o executivo observa que o sistema educacional vigente é inadequado para preparar os profissionais – em quantidade e em qualidade – para as novas competências exigidas para a transformação digital do Brasil. Segundo Cesar Rômulo, a Inteligência Artificial chegou ao serviço de atendimento ao consumidor e, certamente, os robôs tendem a substituir o atendente humano no seu primeiro emprego.
O secretário da ConTIC lembra, porém, que haverá necessidade de se ter mão de obra especializada em transformar as interações humanas em procedimentos para os robôs. O executivo sustenta que faltam profissionais qualificados para programar essas transformações, além de mão de obra com competência para avaliar o desempenho desses atendimentos inteligentes e também identificar e especificar os aperfeiçoamentos necessários para a melhoria da qualidade do atendimento ao usuário.
“Novas soluções demandam profissionais com perfis a elas adequados, só que hoje esses especialistas estão sendo formados por uma estrutura habituada a formar – quando forma – profissionais para a economia material e não para a nova economia digital, que demanda uma nova forma de pensar, uma nova forma de ver o mundo, uma nova forma de capacitar recursos humanos. E, dadas as circunstâncias vividas pelo País, estamos parados no Século XX”, exemplifica Cesar Rômulo.
O secretário-geral da ConTIC afirma que a criação do sistema S para as TICs não virá apenas para suprir o déficit de mão de obra existente, mas, principalmente, para acelerar a capacitação do capital humano exigido pela Estratégia Brasileira para a Transformação Digital, promulgada, em março, pelo governo federal e que reúne 100 iniciativas para o desenvolvimento do Brasil Digital.
“A carência desses profissionais é grave, muito grave, para a recuperação do tempo perdido pelo Brasil na sua digitalização. Só com a acelerada capacitação de recursos humanos para as novas tecnologias disruptivas com as TICs, poderemos atender, com maior abrangência e produtividade, e, por consequência, mais competitividade, as demandas históricas da população brasileira que, em muitos países, já estão plenamente atendidas”, adverte o secretário-geral da ConTIC.
Aproveitamento da estrutura do ensino profissionalizante
Cesar Rômulo assegura que o projeto do Sistema S para as TICs prevê a atuação em sinergia e complementaridade com toda a estrutura de ensino profissionalizante, pública e privada, existente no País, inclusive aquelas do atual Sistema S. O modelo prevê ainda a assinatura de convênios para, sempre que necessário, complementá-las e capacitá-las visando ao desenvolvimento e capacitação de recursos humanos demandados para o Brasil Digital.
“Não haverá gastos com construção de prédios, laboratórios, salas de aula, computadores centrais etc. Vamos aproveitar toda a infraestrutura já existente no sistema de ensino profissionalizante do País. Vamos usar intensivamente o ensino a distância com os melhores professores existentes no mercado, complementados pelos professores já existentes na atual estrutura em todo o território nacional e a computação em nuvem para armazenar os conteúdos psicopedagógicos para o ensino a distância”, adianta.
Ainda de acordo com Cesar Rômulo, “determinados cursos terão por objeto o desenvolvimento, programação, testes e implementação de ‘Solução Completa com TICs’ para suportar o enfrentamento de ‘Questão Crítica’ que esteja a obstar o atendimento de demandas históricas da população brasileira, desde a sua identificação qualificada até o teste em campo da ‘Solução de Referência’”.
Os cursos serão ministrados pelos melhores professores do mercado conforme as fases e etapas do processo de produção de cada uma das ‘Soluções de Referência’, segundo as complexidades dos temas abordados: da “descrição qualificada da questão crítica a ser enfrentada” até a “utilização da solução de referência em campo”.
Uma equipe nuclear cuidará da avaliação, da integração e da produção da ‘Solução de Referência’ a partir das partes construídas pelas equipes de ensino–aprendizagem nos locais remotos como parte essencial do ensino a distância. No final dos cursos, se terá uma ‘Solução de Referência’ que será colocada à disposição do mercado para a sua plena implementação e utilização no enfrentamento da “Questão Crítica” para a qual foi produzida.
Dentre as “Questões Críticas” já identificadas que poderão ser utilizadas como referência para a capacitação de recursos humanos para o Brasil Digital, destacam-se: a) Sistema Público de Registro de Pessoas Naturais (do nascimento ao óbito – milhões de brasileiros sem registro); b) Sistema de Identificação Digital de Pessoas Naturais; c) Controle de Movimentação de Pessoas Naturais em Presídios; d) Sistema Público de Registro de Terras: Devolutas, Públicas e Privadas (conflitos fundiários com alto custo social); e) Sistema Público de Registro de Imóveis no “Mercado Informal”: Capital Morto; f) Seguridade Social, incluindo Previdência e Assistência Social (apenas 1.209 postos de atendimento, incluindo os móveis); g) Sistema Integrado de Informação para os Serviços de Atenção Básica de Saúde; h) Programa Nacional de Imunizações (da projeção de demanda aos efeitos da vacinação – Carteira de Vacinação); i) Sistema Integrado de Informação para o Transplante de Órgãos e Tecidos; j) Logística de Material Médico-Hospitalar (incluindo medicamentos); l) Sistema Integrado de Gestão da Responsabilidade Fiscal em Municípios de Pequeno Porte (menos de 100.000 habitantes); m) Gestão de Municípios de Pequeno Porte (menos de 100.000 habitantes – Cadastros Multifinalitários).
Outros cursos serão dados através da estrutura sindical dos trabalhadores, também aproveitando as estruturas de capacitação de recursos humanos por eles instaladas. Serão efetivadas parcerias entre o Sistema S para as TICs com as federações integrantes do seu Conselho Diretor, para a elaboração de propostas de projetos para utilização de recursos do FAT [Fundo de Amparo do Trabalhador], que são pouco utilizados para a finalidade de capacitação de recursos humanos para o Brasil Digital.
Patrões e trabalhadores unidos
A capacitação de recursos humanos em projeto, instalação, operação, manutenção e reparo de redes de telecomunicações e de informática será muito demandada com a adoção das novas tecnologias de Internet das Coisas (IoT), do 5G, das aplicações das Cidades Inteligentes e de Logística de Transporte de Pessoas e Cargas, que contarão com centenas de milhões (ou dezenas de bilhões?) de terminais de acessos e respectivas redes de acesso espalhados por todo o território nacional. Somente para essa modalidade, estima-se a demanda de 150 a 200 mil profissionais capacitados por ano.
“A criação do Sistema S para as TICs vai entrar em discussão no Congresso Nacional logo após a apuração das eleições. O Brasil não pode esperar muito mais. Cada dia que passa, mais distantes ficamos das soluções estruturantes para o Brasil Digital inteligente, inclusivo, inovador e competitivo absolutamente essenciais para a recuperação do processo de melhoria da qualidade de vida dos brasileiros”, completa Cesar Rômulo.