Desafios de liderar em uma cultura aberta
Estar à frente de uma organização é sempre um desafio. Algo que se torna ainda mais complexo quando a empresa em questão funciona sob a premissa da chamada cultura aberta. Se viver fora da zona de conforto for um problema para o gestor ou seus colaboradores, algumas pessoas podem temer que a cultura open irá carecer de objetividade, e prejudicar o foco e a direção das operações. Mas, na prática, o efeito é exatamente o contrário: uma cultura de visão e colaboração facilita a inovação e permite a evolução dos negócios.
A cultura de uma companhia é produto do seu estilo, valores e processos de liderança. Na modalidade open, ao contrário da ênfase hierárquica presente em discussões e em tomadas de decisão nas empresas tradicionais, todos os colaboradores têm a possibilidade de participar e expressar suas ideias e opiniões de forma aberta. E este mindset não se traduz apenas em um melhor ambiente de trabalho. Uma gestão aberta, baseada em princípios como a transparência e a cooperação, influencia a paixão e a performance de uma comunidade. Em vez do líder diretivo, acadêmico e hierárquico, nesse ambiente valoriza-se o facilitador, articulador e coach.
Mas quais são as providências necessárias para catalisar o amadurecimento da cultura corporativa convencional rumo à abertura e à colaboração? O primeiro passo é reconhecer que não é possível transformar a cultura diretamente. Contudo, é possível promover mudanças nas variáveis que a compõem. Para que o impulso colaborativo possa florescer em um time, a interação entre gestores e colaboradores deve ser uma via de mão dupla margeada pela confiança.
LÍDER E LIDERADOS: INSPIRAÇÃO E RECONHECIMENTO
Bons líderes inspiram. Líderes genuínos são reconhecidos de longe como uma referência em determinados assuntos ou temas. Para que um líder seja capaz de inspirar, o reconhecimento da liderança precisa ser natural, espontâneo e intuitivo – jamais imposto. A partir do momento em que o colaborador é compelido de alguma forma a demonstrar admiração ou submissão, o gestor é destituído da capacidade de liderar. Inspirar pessoas vai muito além de popularidade e carisma: envolve jogo de cintura, flexibilidade e uma mente sempre aberta para o mundo. Acima de tudo, liderar demanda a habilidade de ouvir as pessoas de verdade, se colocar no lugar do outro, e entender suas necessidades naquele momento.
POLÍTICA DE PORTAS ABERTAS
Em uma cultura colaborativa, o ponto principal é aprender. Todos têm a liberdade de expressar seu ponto de vista e colaborar com ideias, seja você o presidente ou um executivo da companhia. E mais: as pessoas também podem demonstrar suas emoções. A ideia de que o profissionalismo é sinônimo de rigidez e de compostura está ultrapassada.
Os melhores líderes alimentam paixão por trás das ideias e convicções dos associados. Você não pode pedir às pessoas que tragam entusiasmo e outras emoções ‘positivas’ ao trabalho, e esperar que elas deixem todo o resto em casa. Há uma ligação direta entre inovação e emoções humanas. Se você fica frustrado com alguma situação é porque você se importa. Incentivar e estar perto da expressão aberta de emoções tão apaixonadas é um catalisador ainda mais profundo do pensamento inovador.
DECISÕES CONSENSUAIS E ASSERTIVAS
Embora todos os participantes de uma cultura aberta possam contribuir com suas opiniões e visões de mundo, ainda assim uma decisão se faz eventualmente necessária. E cabe ao líder oferecer uma ponderação final válida. Porém, como é possível tomar decisões consensuais e assertivas em uma cultura open? Antes de qualquer coisa, é preciso haver confiança. A identificação aliada ao reconhecimento e à admiração compõe um ambiente propício à confiança na liderança.
Conhecer o olhar do líder sobre determinado tema em relação aos diferentes pontos de vista colocados sobre a mesa, bem como as reações gerais dos colaboradores, é uma aspiração coletiva em uma cultura colaborativa. Somente quando o objetivo comum é a conquista de novas formas de geração de valor, e de resultados cada vez mais significativos, por meio de uma comunicação aberta e horizontal, a cultura colaborativa tem condições de germinar e crescer no sentido da inovação contínua.
*Gilson Magalhães é CEO da Red Hat Brasil