“Será uma honra ser sucedido pelo Rodrigo”, diz Eurico Teles, da Oi
Em processo de recuperação, a Oi é a maior interessada nas oportunidades abertas com revisão do marco legal das telecomunicações, que promete investimentos em banda larga e combina com o novo plano estratégico da companhia, centrado na expansão da rede de fibra óptica. Mas para o presidente da empresa, Eurico Teles, os ganhos são extensivos a todo o setor. “A lei não foi feita para ajudar a companhia A ou B”, afirma nesta entrevista ao Convergência Digital.
Ao lado dele, o vice-presidente de operações e iminente sucessor de Teles no comando da operadora, Rodrigo Abreu, rejeita a nova onda de boatos sobre venda e fatiamento da empresa, inclusive o braço de telefonia celular, ressaltando que foco é no plano estratégico. “Nossas operações móveis têm um papel importante na geração de valor para a companhia e protegeremos essa capacidade”, diz ele, que conta com apoio total do CEO: “Será uma honra ser sucedido pelo Rodrigo”, garante Eurico Teles.
Por conta da recuperação judicial e dos custos envolvidos na concessão, a Oi é tida como maior beneficiária do novo marco legal de telecom. Mas há risco de judicialização. Qual é a importância do fator tempo na efetiva aplicação da nova lei, especialmente no caso da Oi?
Eurico Teles – A Lei Geral de Telecomunicações, quando sancionada inicialmente, era excelente, e muito adequada ao momento da privatização das telecomunicações. Porém, passados 20 anos, sem dúvida nenhuma a regulamentação se tornou não apenas obsoleta, mas um impedimento ao desenvolvimento do setor, para todas as empresas, ao não evoluir temas importantes como bens reversíveis de telefonia fixa, obrigações anacrônicas, serviços desatualizados tecnologicamente, entre outros problemas. A nova Lei, aprovada com o PLC 79, é importante assim para todo o setor, não apenas para a Oi. É importante dizer que ela não foi feita para ajudar a companhia A ou B, mas sim para modernizar o setor e estimular o investimento em uma indústria que tem um ritmo de evolução tecnológica e de demandas de mercado muito acelerado. A construção de nosso plano estratégico, no entanto, não considerou efeitos de curtíssimo prazo como premissas para a nossa execução, o que garante uma participação efetiva nas discussões que não esteja influenciada por aspectos puramente operacionais. Em caso de judicialização, acreditamos que qualquer análise que venha a ser feita sobre o tema vai considerar a importância da aprovação do PLC para o país, pelo volume de investimentos que vai destravar e por fazer o Brasil avançar na era digital.
Caso o Marco Legal de Telecom seja rapidamente legalizado, a Oi vai pedir migração de concessão para autorização? Já há ideia de quanto a Oi terá de investir como contrapartida à migração para autorização caso seja essa a intenção?
Eurico Teles – Acreditamos que após a sanção presidencial do projeto de lei, exista um período de discussão adequado da sua regulamentação detalhada, com a participação da Anatel e do TCU, que nos possibilite iniciar nossas análises de possível migração da concessão e também estratégias de investimento e possibilidades de otimização da operação o mais rápido possível. Porém ainda é cedo para falar em dimensionamento das contrapartidas. É preciso aguardar a definição da regulamentação pela Anatel, e segundo estimativas do próprio mercado todo o processo pode levar de seis meses a mais de um ano.
Há muitas especulações no mercado. O senhor deixa o comando da Oi em dezembro?
Eurico Teles – Minha preocupação é ajudar a garantir a sustentabilidade futura da companhia e estou trabalhando para isso. No momento, estamos dando continuidade à implementação do plano de Recuperação Judicial, acordado com credores e homologado pela Justiça, e também trabalhando intensamente para garantir a execução do plano estratégico de transformação da companhia. Tenho uma missão a cumprir, no sentido de trabalhar para deixar a companhia sustentável. O plano de RJ que foi aprovado vai nessa direção, sendo agora complementado pelo plano estratégico, que tem como foco garantir a sustentabilidade da empresa e o Rodrigo terá meu total apoio para implementá-lo. Não tenho preocupação sobre data para minha permanência, e para mim será uma honra ser sucedido pelo Rodrigo.
O senhor viveu o pior momento da empresa que foi o pedido de recuperação judicial. Agora a empresa passa de novo por muitas especulações de quebra de caixa. Como senhor entende esse novo ciclo? Ele se encerra com uma possível aquisição ou com a sanção do novo marco legal de Telecom?
Eurico Teles – A Oi entrou em processo de Recuperação Judicial, negociou a dívida com os credores, sem deixar de prestar os serviços, investir em qualidade e atender as demandas de mercado, e o fez até aqui de maneira extremamente bem sucedida. A companhia vem cumprindo todos os ritos do processo de recuperação judicial, tem um nível de caixa suficiente para manter sua sustentabilidade operacional e cumprir os pagamentos acordados no Plano. Paralelamente, neste novo ciclo, a companhia está focada na execução do seu plano estratégico de transformação, para garantir a sustentabilidade de curto, médio e longo prazo. Dessa maneira, entendemos que esse novo ciclo traz diversas oportunidades para a companhia, e que a mesma não seja dependente de aquisições ou mesmo, no curto prazo, da sanção do novo marco legal, pois a regulamentação ainda leva um tempo para produzir os seus efeitos, e nosso plano foi focado na estratégia de investimentos em fibra que possam alavancar todos os nossos negócios principais, entendendo que os serviços da concessão de fato venham a perder muita relevância daqui para a frente.
Qual é o papel que a Oi tem na construção de um Brasil Digital?
Eurico Teles – A Oi é a empresa de maior presença nacional, e a única que chega a todos os estados e a mais de 5 mil municípios no país, com infraestrutura de transporte, backhaul e capilaridade de acesso. Dessa maneira, é natural a vocação da Oi para ser uma das grandes responsáveis pela infraestrutura que permita a construção de um Brasil Digital, seja através de sua atuação direta, em todos os serviços de telecomunicações, seja através de sua atuação como grande provedora nacional de infraestrutura, habilitando, por exemplo, a construção do 5G e o crescimento da conectividade de banda larga em todo o país.
As especulações voltaram a ter a Oi no centro das atenções em telecom. A Oi pode, de fato, ser fatiada para atender à reestruturação da empresa? Há o interesse de vender a telefonia móvel? É possível ficar no mercado de telecom, com protagonismo, só com a banda larga?
Rodrigo Abreu – Não existe nenhuma discussão de “fatiamento” da companhia como chegou a ser aventado, de maneira superficial, e nosso grande foco é na execução de nosso plano estratégico de transformação, que como já mencionado traz prioridades de investimento bastante claras, e também define um caminho estratégico de crescimento que contempla várias possibilidades de geração de valor no longo prazo.
Temos confiança no atingimento da sustentabilidade da companhia, com base em uma estratégia centrada nos investimentos em infraestrutura de fibra, que possibilitam um grande crescimento nas nossas operações de banda larga residencial, e que dão sustentação também para nossas atividades no mercado B2B, no atacado e na manutenção de nosso bom desempenho no mercado móvel, onde temos focado na reutilização de frequências e expansão da nossa capacidade em áreas prioritárias.
A partir do plano, anunciamos a aceleração do ritmo de construção de fibra em número de “casas passadas”, “homes passed”, e aumentamos a nossa previsão de construção para 2019, que agora é a de terminar o ano com quase 5 milhões de casas passadas, o que por sua vez tem gerado excelentes resultados em relação ao número de “casas conectadas” com contratação dos serviços de banda larga de alta velocidade.
Em relação a uma possível venda das operações móveis, é importante mencionar que temos hoje uma operação móvel sustentável, que gera caixa, e que tem apresentado ótimos resultados operacionais, em particular com nosso crescimento nos últimos 12 meses na aquisição de clientes pós-pagos, onde apresentamos desempenho bastante destacado.
Dessa maneira, vale enfatizar que nossas operações móveis sem dúvida nenhuma têm um papel importante na geração de valor para a companhia, e que protegeremos essa capacidade para que possam ser tomadas as melhores decisões de evolução futura.
A consolidação é uma realidade no mercado nacional? Há, na sua opinião, operadoras demais no Brasil?
Rodrigo Abreu – Como eu mesmo já mencionei em um passado não tão distante, o Brasil é um dos maiores mercados de telecomunicações do mundo, e pelo seu tamanho, diversidade, dimensões continentais e característica de nossa população de adotar rapidamente e consumir intensamente novas tecnologias, permite um número razoável de participantes no mercado.
É inegável, no entanto, reconhecer que as operadoras de telecomunicações, em todo o mundo, se beneficiam de fatores de escala e número de clientes para um aumento da sua competitividade, rentabilidade e capacidade de investimento e sustentabilidade de longo prazo. Vimos um exemplo disso com o recente movimento de aquisição da Nextel pela Claro, uma vez que a primeira não havia atingido uma escala mínima necessária para competir e gerar valor de maneira adequada.
Nesse sentido, temos diversas possibilidades futuras para o mercado, sempre reconhecendo a nossa participação fundamental como a operadora com a maior infraestrutura de fibra do país, o que nos permitirá participar sempre de maneira destacada de qualquer processo futuro de possível reconfiguração de mercado.
As margens do serviço de telecomunicações são muito baixas para os investidores. Como atrair investimentos para uma empresa como a Oi, que está em reestruturação?
Rodrigo Abreu – É importante lembrar que a Oi apresentou ao mercado, recentemente, um plano estratégico de transformação bastante coerente, e com um enorme potencial de geração de valor e sustentabilidade no médio/longo prazo, com base, principalmente, nos seus ativos de infraestrutura nacionais, não replicáveis, de grande capilaridade, e que serão imprescindíveis para a evolução do mercado brasileiro de telecomunicações, incluindo aí o crescimento dos serviços de banda larga de alta velocidade, dos serviços empresariais e a evolução das redes móveis com a chegada do 5G.
Paralelamente aos investimentos centrais, a companhia continuará trabalhando para intensificar e aprofundar seu processo de transformação estrutural e busca de eficiência operacional, a partir de ações como aumento dos índices de digitalização e otimização de processos, garantindo melhores índices de retorno no médio/longo prazo. Dessa maneira, eu diria que existe sim o apetite de investidores no mercado para financiar o plano de investimento e de crescimento da Oi, pois o mesmo apresenta retornos muito interessantes no médio/longo prazo.
Uma das maiores dificuldades do setor de Telecomunicações é estabelecer uma boa relação com os seus consumidores. O setor fica atrás dos bancos, das companhias aéreas, das distribuidoras de energia. Como você acredita que o setor precisa agir para se aproximar do seu cliente?
Rodrigo Abreu – Eu já disse no passado que o setor enfrentava uma situação na qual os seus clientes adoravam os seus serviços, celulares, banda larga de alta velocidade, mas não gostavam das suas operadoras. E embora ainda exista um longo caminho pela frente, acredito que esta situação venha melhorando consistentemente, o que pode ser verificado pela evolução nos índices de qualidade, satisfação de clientes e no número de reclamações sobre os serviços. A continuidade dessa evolução só será possível através de uma combinação de ações, e não existe uma bala de prata para conseguir isso.
Precisamos continuar a entregar serviços de qualidade, aderentes às necessidades dos clientes e a preços competitivos. No entanto devemos também fazer isso aumentando nossos índices de transparência, dedicando atenção especial à experiência dos clientes em todos os momentos de sua relação conosco, do contato através de nossa comunicação e marketing até os serviços de atendimento e relacionamento pós-venda, passando pelo processo de venda, ativação, utilização dos serviços e otimização futura.
Como exemplo disso, destacaria algumas ações, incluindo a imensa evolução de nosso atendimento digital, através do Minha Oi, e a atuação conjunta com as demais operadoras para criar um código de conduta do setor, uma autorregulação, que estabelece regras para a atuação das campanhas de contato de telemarketing. Sem dúvida ainda há espaço para melhorar e estamos constantemente avaliando novas medidas que estimulem o desenvolvimento de uma relação mais próxima entre a Oi e seus clientes.