Com 12 meses no vermelho, Oi prepara fatiamento e nova negociação com credores
Dois anos e meio depois da aprovação do plano de recuperação judicial junto aos credores, a Oi tem uma nova proposta de reestruturação da companhia, com fatiamento e venda até mesmo do controle sobre as redes fixas, além da já prevista alienação da operação móvel e ativos ‘não essenciais’.
A nova proposta, formalizada no âmbito da recuperação judicial e apresentada ao mercado junto com os resultados do primeiro trimestre de 2020, vem na sequência de 12 meses de prejuízos. O mais recente, entre janeiro e março deste ano, bateu em R$ 6,2 bilhões, com especial impacto do câmbio.
Os números mostram alguma variação do mergulho no vermelho ao longo de cada um dos últimos quatro trimestres. No segundo trimestre de 2019, o resultado foi negativo em R$ 1,5 bilhão, seguido por prejuízos de R$ 5,7 bilhões e R$ 2,3 bilhões nos trimestres seguintes.
Já a queda nas receitas é mais constante: de R$ 5,09 bilhões naquele segundo trimestre do ano passado para R$ 5,01 bilhões, depois R$ 4,91 bilhões e agora R$ 4,74 bilhões. Entre janeiro e março, os recuos foram de 2,5% na operação móvel, 12% na fixa e de 7,1% no corporativo.
Isoladamente, a Oi tem números positivos na rede de fibra óptica, que se tornou o carro-chefe da estratégia no último ano. São 6 milhões de casas passadas, com cerca de 1 milhão delas conectadas. Esse segmento gerou R$ 205 milhões em receitas no primeiro trimestre, o que é 700% acima de um ano antes. Mas são valores que ainda representam apenas metade das receitas de dados no cobre (R$ 408 milhões) ou com DTH (R$ 402 milhões) e apenas uma fração dos R$ 1,6 bilhão de faturamento no móvel.
Nesse cenário, a apresentação de resultados nesta terça, 16/6, foi dominada pela apresentação do aditamento ao plano de recuperação judicial, a resultar no que o presidente da operadora, Rodrigo Abreu, chamou de “uma nova oi, mais leve e ágil, focada no futuro”.
Leve, certamente. O novo plano, a ser votado pelos credores em assembleia prevista para agosto, quebra a Oi em unidades a serem vendidas: operação móvel, torres, datacenters e uma para a rede fixa de transporte e FTTH. O que sobra, ou seja, os clientes, ficam na ‘Client Co’.
Com as vendas – toda a operação móvel, torres, datacenters e até 51% da Infra Co – a Oi espera arrecadar R$ 22,8 bilhões. Paralelamente, o plano prevê novas condições para as dívidas que persistem, inclusive aquelas junto à Anatel, que pela versão atual do plano de recuperação são as últimas da fila.
Para tanto, a Oi espera se valer da recente Lei 13.988/20, que prevê a possibilidade de descontos nas multas e juros de dívidas tributárias, além de outra que está à caminho, o PL 6229/05, que também prevê condições facilitadas para empresas que estejam em recuperação judicial.
“É possível primeiro passar pela Lei 13.988/20 e se uma nova regulação surgir, melhorando as nossas condições, podemos migrar a negociação para essa nova regulamentação que poderá entrar em vigor no futuro”, afirmou Rodrigo Abreu. No caso a dívida com a Anatel, parte em dívida ativa, parte administrativa, o executivo indicou que “poderemos cortar a dívida pela metade”.
No caso da parcela ainda na instância administrativa, a ideia é costurar com a Anatel a transformação em compromissos de investimentos. “Podemos trabalhar com a Anatel em um mecanismo que a agência já vem discutindo, relacionado a obrigações de fazer. Isso permitiria reduzir a dívida e converter em obrigações de Capex, de serviço, muito melhor do que ter que considerar. Seria mais uma obrigação de investimento.”
Adicionalmente, o novo plano prevê descontos de 60% sobre o valor de face de obrigações com bancos. “Estaremos eliminando o risco dos bancos em 100% e haverá monetização de pagamentos agora. Isso sinaliza o valor justo, porque vamos eliminar o risco completamente. Essa é a premissa principal”, completou Rodrigo Abreu.