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Liquidar Ceitec vai custar R$ 300 milhões ao Governo

Empregados do Ceitec reúnem-se na próxima semana com o secretário especial de desestatização, José Salim Mattar, para alertar que a liquidação da estatal do chip custa mais caro que a economia em cortar o oxigênio da empresa na antevéspera da independência financeira. 

A recomendação pela dissolução foi formalizada pelo conselho do Programa de Parceria de Investimentos e tudo indica se sustentar em que apesar de aportes de R$ 800 milhões em duas décadas, a estatal ainda depende de injeções anuais de pelo menos R$ 50 milhões para cobrir a diferença entre receitas e despesas. 

Números do próprio PPI projetam, no entanto, que essa diferença deixa de existir até 2028, mesmo no cenário mais pessimista. E essa trajetória pode ser acelerada para um balanço no azul na metade do tempo estimado, a julgar pelo plano dos empregados, que envolve cortes de custos e salários e perspectivas comerciais já em curso. 

“O faturamento tem aumentado. De 2017 a 2019, dobrou. De 2019 a 2021 vamos dobrar de novo. Portanto cada vez vai custar menos em termos de investimento para o governo. Temos um plano de gestão para em quatro anos chegar no zero a zero. Quer dizer, em quatro anos o governo não precisar investir nada”, diz o engenheiro Júlio Leão, porta voz da associação dos colaboradores do Ceitec, que reúne 80% dos 180 empregados. 

É menos do que vai custar a liquidação da estatal. “Se o Ceitec fechar, precisa de R$ 300 milhões para descomissionar os equipamentos. Porque não estamos falando de simplesmente tirar da tomada. É um parque com químicos, com gases tóxicos. Precisa fazer uma licitação internacional para selecionar uma estrangeira, licenciada para isso, vir desconectar”, afirma Leão. 


Do ponto de vista mais amplo, o Ceitec já se pagou. Ainda conforme dados do PPI, é a segunda estatal que menos recebeu aportes públicos, aqueles R$ 800 milhões, mas em volta do qual foi criado um ecossistema privado que hoje fatura mais de R$ 3 bilhões por ano. 

Os empregados do Ceitec acreditam, no entanto, que há motivos financeiros concretos para convencer o comissário de privatizações, com base na curva de faturamento e inputs até aqui não considerados pelo governo. A empresa já está no mercado de chips de logística. Tem a patente que lhe garante o fornecimento global de chips RFID para os pneus da Pirelli. Tem acordo comercial para fornecer sensores de saúde, em nova linha que pode ser expandida para o setor agrícola. 

“Inventamos um processo de fabricação inédito de sensores e estamos depositando patentes. Já temos protótipos homologados. Temos clientes comerciais alinhados e podemos começar ainda em 2021, com capacidade reduzida, e em 2022 com plena capacidade. E a partir desse caminho na área médica, abre-se um similar na agricultura, pelo desenvolvimento de sensores nessa área, que medem umidade, temperatura”, diz o porta voz da ACCeitec.

Ao lado de perspectivas comerciais concretas, o plano dos empregados envolve a redução de custos com salários e operacionais. “Na nossa proposta, a gente consegue trazer aqueles valores para mais cedo. Tem readequações de custos em RH, em custo operacional de fábrica, e já estamos falando em redução de 10% a 15% do custo operacional. Temos uma proposta agressiva no RH, com redução de 14% da folha. São dados que o PPI não tem. Em cinco anos a empresa estará se pagando. Se esperar, o governo vende parte da participação com lucro e ainda garante ganhos futuros”, completa Leão. 

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