Carreira

Desenvolvedores de software revelam medo e falta de preparo para desastres

Uma pesquisa mundial com a comunidade de TI confirmou que houve impactos na produtividade e no bem-estar dos profissionais da área ao trabalharem em casa neste período da pandemia da COVID-19. No Brasil, a pesquisa foi comandada pelo Prof. Marcos Kalinowski, do Departamento de Informática do Centro Técnico Científico da PUC-Rio (CTC/PUC-Rio).

Os resultados mostraram que o trabalho remoto, de forma não planejada, a falta de preparação para desastres, o medo relacionado à pandemia e a ergonomia do espaço do trabalho doméstico estão agravando a redução do bem-estar e da produtividade dos profissionais.

Ela revelou ainda que mulheres, pais e pessoas com deficiência podem ser afetados desproporcionalmente. A pesquisa foi lançada em 12 idiomas, respondida por profissionais de cerca de 50 países e, do total de 2.225 respostas válidas, 272 foram do Brasil (12,2%). Ao Convergência Digital, o professor Marcos Kalinowski, da CTC/PUC-Rio, explicou o porquê do impacto nos profissionais de TI.

1) A pesquisa diz que os profissionais de TI perderam produtividade no home office durante a pandemia. Como se percebeu isso? Quais são as áreas de TI mais afetadas?

O que a pesquisa diz é que os desenvolvedores de software perderam produtividade no home office no contexto da pandemia, não necessariamente pelo home-office em si. Muitas pessoas fizeram a migração sem um aviso ou um planejamento prévio, sob condições difíceis e de estresse. A pesquisa observou que, no contexto da pandemia, se obteve perda tanto no bem-estar quanto na produtividade dos profissionais ao migrarem para o formato de home-office. Entre os fatores que mostraram afetar o bem-estar e a produtividade foram observados a falta de preparo para desastres, o medo relacionado à pandemia, e a falta de ergonomia do ambiente de trabalho. Foi observado ainda que a produtividade de mulheres, pais e pessoas com deficiência foi mais fortemente afetadas.


2) Muitas pesquisas dão conta que os funcionários não querem voltar para os escritórios. Por que com os profissionais de TI funciona diferente?

A pesquisa focou em desenvolvedores de software, que normalmente dependem de seus equipamentos (por exemplo, um segundo monitor), de uma infraestrutura técnica (por exemplo, uma VPN, acesso a dados e ferramentas, integração com outros sistemas) e de processos que comumente envolvem comunicação e cerimônias ágeis para a troca de informações.

Uma prática comum em processos de desenvolvimento de software, por exemplo, é realizar a comunicação do status dos projetos utilizando post-its fisicamente dispostos na parede. O excesso de reuniões após a migração para o home office também foi frequentemente apontado como afetando a produtividade negativamente. Logo, é necessário que se disponibilize equipamentos, que se facilite o acesso à infraestrutura utilizada para o desenvolvimento e que se realizem adaptações nos processos e em suas práticas.

O momento de pandemia trouxe uma insegurança em relação à manutenção da receita e do emprego, o medo relacionado à saúde, a mudança repentina para um ambiente de trabalho que nem sempre possui a ergonomia adequada, a sobrecarga com atividades como o apoio à educação dos filhos, entre outros. Logo, ações na direção de assegurar a compreensão no momento de adaptação, de apoiar a ergonomia do ambiente de trabalho, e de apoiar a saúde física e mental dos funcionários também podem ser benéficas. De fato, dependendo de seus processos e da maneira que cada empresa está apoiando o bem-estar de seus funcionários, ela pode até experimentar ganhos de produtividade. Mas a pesquisa aponta nitidamente que este não é o caso para a maioria dos desenvolvedores.

Motivação

O Chief Human Resource Officer da OLX Brasil, Sergio Povoa, diz que a companhia não registrou queda em produtividade em nenhum dos setores, mesmo com 100% da equipe trabalhando à distância desde 16 de março. Mas assume que medidas foram tomadas para impedir a baixa no rendimento. Entre elas, foram disponilizados notebooks, celulares corporativos e modems para acesso à internet, empréstimo de cadeiras dos escritórios, sessões on-line de conversas com psicóloga, ginástica laboral, meditação e yoga. Povoa conta que acontece desde o começo do isolamento social, uma reunião semanal com o CEO para se falar sobre qualquer tema, sem moderação e mostrar o andamento do negócio.

Já o sócio e gerente de área de desenvolvimento da Visagio, Izaías Miguel, conta que houve uma preocupação efetiva com a saúde física e mental dos trabalhadores. Diversas ações foram implementadas como webinars com especialista em saúde mental, happy hours virtuais, discussões individuais e em grupo de mentores com mentorados sobre boas práticas, etc, com uma frequência até muito maior agora, com a pandemia. Segundo Miguel, a receptividade tem sido boa, com nível bem alto de presença nas ações e eventos até agora e boa avaliação do time.

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