Fibra na Amazônia testa modelo em que governo constrói e setor privado mantém
Com lançamento do cabo com 24 pares de fibras ópticas estimado para o segundo semestre, o governo federal vai testar um arranjo econômico para a manutenção de uma rede submersa nos rios da Amazônia. Diferente de outras áreas no Executivo, nesse caso a transição é um desembarque da abordagem militar em busca de uma saída comercial.
Especificamente, o governo vai aportar R$ 83 milhões nos 750 km de fibra para ligar Santarém (PA) a Macapá (AP) por um cabo no leito do Rio Amazonas, além dos contêineres para cinco pontos de presença nesse trajeto e um sistema DWDM inicial, de 40 canais, pronto para uso. Essa rede será transferida à iniciativa privada, a quem caberá assumir os cerca de R$ 4 milhões anuais de manutenção e garantir, sem custo, pelo menos um par de fibra iluminada para o Poder Público.
O caminho para transferir a infraestrutura a empresas privadas – se por licitação ou pela criação de um consórcio aberto a qualquer interessado – está em consulta até 26/2. Em mais duas ou três semanas, a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa, que já contratou todo o resto, pretende abrir o processo de contratação do lançamento do cabo.
“Vamos construir a infraestrutura e compartilhar com o setor privado, por meio de um operador neutro para fazer a operação sem que o setor público tenha que gastar com essa parte. A ideia é ter um modelo robusto que possa ser reproduzido nas outras infovias. A consultoria indicou que nesse trecho há negócio. E também no trecho até Manaus. Mas se chegarmos a ir para o trecho de Tefé a Tabatinga, pode ser mais difícil de ter mercado”, explicou o diretor de Engenharia e Operações da RNP, Eduardo Grizendi.
A RNP está envolvida desde que a ideia de conectar a Amazônia por fibras ópticas no leito dos rios começou o teste de viabilidade em um projeto com o Exército, em 2014, quando o programa Norte Conectado ainda era chamado Amazônia Conectada. O que então eram sete infovias subfluviais, viraram 10, especialmente pela expansão do projeto para o leste. A seguir do trecho entre Santarém e Macapá, já estão garantidos os R$ 163 milhões para a ligação entre Manaus e Santarém. E a ideia é usar o edital do 5G para financiar o restante.
“Das infovias a serem construídas, uma está bem avançada, com orçamento garantido, para ligar Macapá a Santarém. Um segundo trecho, que liga Santarém a Manaus, vai ser construído com recursos do Gired, com as sobras do programa de digitalização do sinal analógico, e vai custar em torno de R$ 163 milhões em recursos que já estão dedicados. As demais infovias são alvo do edital do 5G”, detalhou o secretário executivo do Ministério das Comunicações, Vitor Menezes.
Segundo Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco, que avaliou a viabilidade comercial do trecho Santarém-Macapá, a região conta com três dezenas de provedores de diferentes portes com algum interesse no negócio. “De partida há interesse em garantir redundância ao linhão OPGW, tanto pelas operadoras de celular e muitos provedores regionais. Especialmente em cada uma contar com seu próprio par de fibra. São quase 30 operadoras e cabem 18 no operador neutro.”