Dez anos sem Renato Guerreiro
Dez anos já se vão sem o Renato Guerreiro entre nós, contudo cabe aqui lembrar a sua memória. Renato Navarro Guerreiro, filho de Guilherme Imbiriba Guerreiro e Marluce Navarro Guerreiro, nasceu em 15/01/1949, em Oriximiná, no Pará, uma cidade às margens do Rio Trombetas (um dos afluentes do Rio Amazonas). Faleceu aos 62 anos de idade, em Brasília DF, no dia 28/02/2011. Aos 11 anos de idade deixou a cidade natal e foi para Belém do Pará, a fim de cursar a quinta série do primário e se preparar para o exame de admissão ao ginásio. Em Belém, no ano de 1968, concluiu o Científico no Colégio Estadual Paes de Carvalho.
Em 1969 foi aprovado no vestibular para Engenharia na Universidade Federal do Pará, mas preferiu se transferir para a PUC, no Rio de Janeiro, onde, em 1973, graduou-se Engenheiro Eletricista, apostilado em Telecomunicações. Na PUC exerceu monitoria de Física a lhe complementar a bolsa de estudo integral, que foi devolvida após se formar. Como tricolor obstinado, no Maracanã, vibrava ao assistir jogos do Fluminense. Nesse mesmo ano casou com a Carol (Carolina Castelo Branco Guerreiro), para daí, mais tarde, nascerem a Vívian e o Thiago.
Seu primeiro emprego como engenheiro foi na TV Educativa do Rio de Janeiro, onde desenvolvia estudos de viabilidade técnica para a inclusão de canais no plano básico de radiodifusão. Em 1974, convidado pelo Abraham Jayme Levy, ingressou na Telepasa (depois Telepará). O Levy foi um dos engenheiros da Embratel que liderados pelo Roberto Lamoglia de Carvalho foram os primeiros diretores da empresa do Sistema Telebrás no Pará.
Assim ele voltou para o seu estado natal. Trabalhou na Divisão de Transmissão, da Diretoria Técnica, que era composta por mais quatro divisões: Redes, gerenciada por mim; Comutação, pelo Marco Aurélio; Obras Civis, pelo Machado; e a de Energia, pelo Santana. Todos jovens engenheiros e motivados, sob a liderança do Jayme Levy. A responsabilidade do Guerreiro, na Divisão de Transmissão, era projetar e implantar as rotas de transmissão de longa distância dentro do estado do Pará. As rotas para fora do estado eram da Embratel.
O destino, todavia, ceifou a vida do grande Levy que, ao retornar de uma viagem de trabalho, sofreu fatal acidente com o carro que o transportava. A triste ocorrência foi um choque para todos nós. No início de 1976, a Telebrás recompôs a diretoria da Telepará. Para a Diretoria Técnica o Lamoglia indicou o Afonso Negrão, que ocupava a Diretoria de Operações, que por sua vez, convidou o Guerreiro para gerenciar a Assessoria de Desenvolvimento Técnico.
Na Assessoria de Desenvolvimento Técnico, Guerreiro coordenou o grande projeto de integração do estado. Foram instalados sistemas de transmissão em micro-ondas com capacidade da 300 a 960 canais, assim como rotas secundárias em UHF de 60 canais. Foram implantadas e ampliadas as redes locais em Belém e no interior. Ao mesmo tempo foram instaladas novas centrais telefônicas em várias cidades do estado. Foram muitas as realizações.
Em 1978, Guerreiro saiu da Telepará e foi para a Telebrás com a responsabilidade de gerenciar os Ciclos de Reuniões de Coordenação e Planejamento do setor. Em 1979, Lamoglia o convidou para voltar e assumir a Diretoria de Operações da empresa. Em 1980, Lamoglia me indicou para ser diretor da Teleacre e no mesmo ano, transferiu-se para Minas Gerais para ser o vice-presidente da Telemig. Após três anos como diretor de Operações, Guerreiro mudou para a Diretoria Técnica e eu, então diretor Técnico-Operacional da Teleacre, retornei à Telepará e o substitui na Diretoria de Operações.
Em 1984, Guerreiro renunciou ao cargo de diretor Técnico da Telepará e retornou à Telebrás para gerenciar o Departamento de Gestão de Investimentos, da Diretoria de Planejamento e Engenharia. Permaneceu nesse departamento até 1988. Em 1985 na ocasião em que eu concluía o mandato de diretor na Telepará, o Paulo Edmur Pollini, diretor de Coordenação de Operações da Telebrás, interessado em me convidar para gerenciar um departamento da Telebrás, consultou o Guerreiro que, de imediato, apoiou a idéia e assim eu vim para Brasília, onde fiquei até 1986, quando fui transferido para o Acre como presidente da Teleacre.
Em 1989, Guerreiro assumiu o Departamento de Operações da Telebrás. Em 1990, o ministro da Infraestrutura, Ozires Silva, prestigiou o Joost Van Damme (ambos itianos) para presidir a Telebrás. Para minha surpresa, fui distinguido pelo Joost que me convidou para deixar a Teleacre e assumir a Diretoria de Coordenação de Operações da Telebrás, onde o Guerreiro gerenciava um departamento. Ao mesmo tempo, o Sérgio da Silva Braga (outro paraense, oriundo da Telemig) que também fez parte da nova gestão da Telebrás, como Diretor de Recursos Humanos e Materiais, convidou o Guerreiro para gerenciar o Departamento de Desenvolvimento de Recursos Humanos. Foi uma desafiante e honrosa missão.
Em 1991, para solucionar uma crise administrativa na Telpe, Guerreiro teve que assumir a presidência da empresa. No final do mesmo ano ele deixou Recife e retornou à Telebrás para, desta vez, assumir o Departamento de Coordenação de Planejamento e Controle Empresarial, da Vice-presidência. Em 1992, quando eu acumulei a Diretoria de Planejamento e Engenharia da Telebrás, o convidei para gerenciar o Departamento de Gestão de Investimentos. Guerreiro aceitou, mas não demorou no cargo, pois foi cedido ao Ministério das Comunicações para assumir a Diretoria de Tarifas, onde inovou importantes trabalhos.
Em 1993, com o Djalma Bastos de Moraes, ministro da Comunicações, e o Jorge Jardim, na Secretária Executiva, Guerreiro assumiu a Secretaria de Serviços de Comunicações. Em 1994, ele elaborou um relatório, cujo foco era a atenção à demanda da sociedade brasileira por comunicações mediante investimentos, que só seriam possíveis com a participação da iniciativa privada e em regime de competição. Destacou a necessidade de uma emenda constitucional que permitisse a privatização do setor, de um projeto de lei que modificasse o Código Brasileiro de Telecomunicações e que instituísse um órgão regulador. O relatório chegou à coordenação do programa de governo de Fernando Henrique Cardoso, recém-eleito presidente da República.
No final de 1994, Sérgio Motta, que havia lido o relatório e viria a ser o ministro das Comunicações, conversou com o Guerreiro. Com a posse presidencial, o Guerreiro continuou na Secretaria de Serviços de Comunicações, e eu, ao concluir o meu mandato de diretor da Telebrás, fui chamado pelo Guerreiro para a Diretoria de Serviços Públicos. Fernando Xavier Ferreira, Secretário Executivo do ministério, ao final de 1995, foi presidir a Telebrás e Guerreiro o substituiu na Secretaria Executiva. Novamente fui prestigiado pelo Guerreiro, que sugeriu ao Sérgio Motta que eu assumisse a Secretaria de Fiscalização e Outorgas.
Com a vontade política do presidente Fernando Henrique e o empenho executivo do ministro Sérgio Motta foi montada uma equipe a revolucionar o setor. A Emenda Constitucional nº 8 foi promulgada, foram elaborados os projetos da Lei Mínima (Lei 9.295/1996) e depois o da Lei Geral de Telecomunicações (Lei 9.472/1997). Tudo foi acontecendo com o acompanhamento permanente do Guerreiro. As leis prosperaram, a Anatel foi instalada e o Guerreiro foi empossado presidente da Agência (5/11/1997), juntamente com os conselheiros: Luiz Perrone, Mário Leonel, José Leite e Antonio Carlos Valente. Com a Anatel em ação, em 1998, aconteceu o grande leilão de privatização das empresas do Sistema Telebrás.
Mais uma vez trocamos de cargos e encargos. Com a ida do Guerreiro para a Anatel, eu o substituí na Secretaria Executiva do Ministério das Comunicações. Ele presidiu a Anatel nos momentos mais importantes da história das telecomunicações do Brasil. Cumpriu dois mandatos; o primeiro, completo (1997/2000) e o segundo, incompleto (2000/2002); pois, em março de 2002, renunciou ao cargo, mas até hoje a Anatel é a cara do Guerreiro. Foram muitos os seus amigos. Ele criou vitórias magníficas no setor.
(*) O autor é Engenheiro Eletricista. Foi ministro de Estado das Comunicações e presidente da Anatel.