América Latina se divide sobre uso de ondas milimétricas
A combinação das faixas médias com bandas mais altas, as chamadas faixas milimétricas, divide os reguladores de telecomunicações na América Latina. Em debate online com representantes do México, Colômbia, Costa Rica, El Salvador, Argentina e Brasil, viu-se que muitos não tem planos para fatias de espectro mais altas nos leilões de 5G.
O Chile é o único país da região que já licitou espectro em faixa milimétrica, no caso, 26 GHz, mas que teve uma única interessada, a Claro. O edital do 5G no Brasil também prevê a oferta da faixa de 26 GHz, assim como a Costa Rica indicou que pretende colocar no leilão um grande naco entre 26 e 28 GHz. Mas essa parece ser uma exceção entre os países da América Central.
“Não entendemos que se deva licitar todas as bandas no mesmo processo. A solução tecnológica para bandas médias não é a mesma para ondas altas. E precisamos saber como fazer que nas redes milimétricas a distância entre uma infraestrutura e outra seja menor”, afirmou o secretário adjunto da Comissão Técnica Regional de Telecomunicações, Jorge Torres. A Comtelca integra, além da Costa Rica, República Dominicana, Panamá, Nicarágua, Honduras, El Salvador, Guatemala e México.
O debate se deu na segunda edição do E-Fórum 5G MMWave, promovido pela Network Eventos e pela Convergência Digital nesta quinta, 15/4. E como a reforçar a posição da Comtelca, o chefe da unidade de espectro do Instituto Federal de Telecomunicações do México, Alejandro Navarrete, destacou ressalvas às bandas altas para, igualmente, não incluir essa parte do espectro no leilão de 5G no país.
“Uso das ondas milimétricas para conectividade fixa sem fio acho mais complicada, especialmente pela infraestrutura necessária. Podemos pensar entre 26 GHz a 40 GHz, mas nessas bandas teremos que implementar pequenas células a cada 400 ou 800 metros, o que exige planos de negócios com muito cuidado. Elas oferecem menos latência, o que pode ser bom para aplicações industriais. Mas em outros serviços, como acesso sem fio, as ondas médias podem servir.”
Na Colômbia, o primeiro leilão de 5G também não deve incluir faixas milimétricas. “Vamos abrir licitação de 3,5 GHZ e precisamos de complementariedade em bandas baixas ou em bandas milimétricas, mas isso deve acontecer mais à frente, porque grande parte das operadoras não manifestou interesse. Talvez porque a oferta de dispositivos em ondas milimétricas ainda não é muito grande”, apontou o diretor Geral da Agência Nacional do Espectro, Miguel Felipe Espinosa.
É um cenário distindo da Costa Rica, como revelou o diretor geral da Superintendência de Telecomunicações Glenn Fallas. “Quanto às ondas milimétricas, recomendamos no curtíssimo prazo as bandas de 26 GHz e 28 GHz para um total de 3 GHz que estarão sendo licitados em pouco tempo. O governo lançou uma consulta e teve resposta de 12 empresas interessadas, entre operadoras e novos empreendimentos, nacionais e internacionais, e muitos centraram o interesse no serviço fixo.”
No Brasil, a aposta é de que o 5G vai demandar um mix de frequências para atender diferentes necessidades e aplicações. “A faixa de onda milimétrica é importante para o modelo de negócios em que o operador sopesa as faixas para fazer overlay ou escoamento de tráfego. Ou, no lugar de fibra em locais mais complexos, também fazer a conexão fixa com ondas milimétricas, usar o IAB, FWA. Temos já 132 CPEs FWA registrados. Então é um ecossistema promissor”, disse o superintendente de Outorgas e Recursos à Prestação da Anatel, Vinícius Caram.
Segundo ele, o uso da faixa de 26 GHz é flexível inclusive na demanda por infraestrutura. “O receio que se tinha de que a faixa milimétrica não seria usada, pelo alcance, pela falta de dispositivos, já virou mito. Tem diversos casos de uso mostrando possibilidade de cobertura de 5 km usando CPEs, ou entre 300 e 400 metros usando smartphone na onda milimétrica. A flexibilidade que o 5G dá é mandatória. Redes midband e rede milimétrica se casam. No Brasil, 3,5 GHz e 26 GHz são a porta de entrada do 5G.”