Inteligência Artificial: Com estratégia certa, impacto de quatro pontos no PIB do Brasil até 2030
A inteligência artificial exige que se forme e qualifique profissionais no país, advertem especialistas. Para eles, a IA evoluiu e já passou da etapa de experimentação pra uso industrial. Para Fábio Cozman, da USP, a IA leva o país para a Sociedade 5.0, quando máquinas e seres humanos vão interagir de forma harmoniosa.
A maior adoção de inteligência artificial pelas instituições financeiras, incluindo técnicas mais sofisticadas, como códigos automatizados, vai revolucionar ainda mais o setor. Durante painel no Ciab Febraban 2021, que acontece esta semana, Marino Aguiar, CIO do Santander Brasil; Marcelo Braga, vice-presidente de vendas da IBM Brasil; Tania Cosentino, presidente da Microsoft Brasil; e Fábio Cozman, diretor do Centro de Inteligência Artificial na USP, debateram sobre os caminhos até agora percorridos e o que esperar para o futuro.
Um dos consensos é que a IA evoluiu e já passou da etapa de experimentação para uso industrial. “O que é repetitivo tende a desaparecer e o que depende do atendimento humano será suportado por ferramentas poderosas”, resumiu Aguiar, do Santander. Para Tania Cosentino, da Microsoft, junto com a aceleração digital consequência da pandemia, as empresas de todos os segmentos de mercado passaram a entender os benefícios que a IA traz para o negócio e a vislumbrar o que conseguem fazer a partir de uma adoção planejada.
Cosentino afirmou que estamos diante de uma fronteira inteligente com bilhões de dispositivos conectados gerando dados e a IA é que vai fazer os dados virarem insights. Segundo ela, se adotada massivamente no Brasil, a inteligência artificial pode trazer crescimento de PIB de até quatro pontos porcentuais até 2030. Para tanto, é necessário criar um ecossistema dinâmico, formando e qualificando profissionais para fazer, de fato, essa adoção massiva acontecer e habilitar o crescimento econômico.
No curto prazo, a IA aumenta a produtividade de várias atividades e, no longo, ela leva os países para o que se está chamando de Sociedade 5.0, conforme pontuou Fábio Cozman, da USP. “A Sociedade 5.0 é quando máquinas e seres humanos interagem de forma harmoniosa. Temos de concretizar esta visão de harmonia. Como melhorar a interpretabilidade das decisões tomadas por máquina, como garantir que não haja discriminação, como garantie que o ser humano consegue interagir?”, assinalou Cozman, acrescentando que é necessário chegar à personalização e à empatia nos agentes conversacionais.
“Outro aspecto é que hoje a área de IA está marcada pela análise de dados, mas há pouca interface com conhecimento que está nos livros. Como combinar os mega dados com conhecimento que temos nos livros?”, questionou. Já para Marcelo Braga, da IBM, o uso da IA em escala é tão útil quanto o tanto que se confia nela. “A IA tem de ser usada de forma correta, sem vieses discriminatórios”, enfatizou. Para ele é necessário também que a IA conte com modelos que sejam auditáveis e pelos quais se consiga saber como a IA tomou a decisão para que correções possam ser feitas. “Acho que cada vez mais a IA estará embutida, distribuída em todas as formas de tecnologia. Ela tem de ser mais distribuída, confiável e que traga retorno à sociedade”, disse.
No mercado financeiro, a inteligência artificial tem sido usada para, por exemplo, habilitar a personalização de serviços. E esse segmento, destacou Cosentino, da Microsoft, vai crescer muito com open banking. Em open banking, o que vai diferenciar uma instituição de outra e reter cliente é a capacidade de criar os serviços mais adequados para aquela pessoa”, explicou.
Outra adoção é na área de cibersegurança na qual IA e machine learning têm sido essenciais para o monitoramento de eventos. “A Microsoft monitora por dia mais de oito trilhões de sinais no mundo inteiro e com isso conseguimos antecipar um ciberataque”, apontou Tania Cosentino. Para as instituições financeiras, monitorar é essencial para identificar os comportamentos dos clientes no bankline e se adiantar a possíveis fraudes.
“A inteligência artificial é extremamente poderosa, mas é importante ter uso ético da IA. Ela tem de ser acessível para o maior número de pessoas, precisa ser inclusiva, respeitar a privacidade de dados, não pode ter vieses, tem de ser transparente e ser responsável”, assinalou a executiva da Microsoft. “IA é meio e não fim”, acrescentou Braga, da IBM.
Há, porém, alguns alertas a serem observados. Adaptar os modelos de IA à realidade de forma mais rápida é chave para tirar maior proveito da tecnologia.”As coisas acontecem cada vez mais rapidamente; comportamentos e dinâmicas mudam. Observamos que os modelos de IA têm perecibilidade acelerada e por isso precisam ser adeptos, como modelos de crédito e de risco. Por exemplo, antes da pandemia, o consumidor tinha um comportamento que mudou, deixando o modelo obsoleto e precisando ser alterado”, disse Marino Aguiar, CIO do Santander Brasil.