Banco Central seleciona 9 projetos em desafio sobre Real Digital
O Banco Central selecionou nove projetos relacionados à moeda digital na edição especial do Laboratório de Inovações Financeiras e Tecnológicas. Segundo o BC, o LIFT Challenge Real Digital atraiu 43 empresas, do Brasil e também da Alemanha, Estados Unidos, Israel, México, Portugal, Reino Unido e Suécia, que apresentaram 47 propostas.
iniciativa visa identificar as características fundamentais de uma infraestrutura para o Real Digital. Essa infraestrutura poderá dar suporte aos casos de usos apresentados que estejam maduros e que tragam valor para a sociedade brasileira.
Os projetos de aplicações foram os mais variados, cobrindo o universo proposto na chamada dos trabalhos, com aplicações de entrega contra pagamento (DvP), pagamento contra pagamento (PvP), internet das coisas (IoT), finanças descentralizadas (DeFi) e soluções de pagamentos quando tanto o pagador quanto o recebedor se encontram sem acesso à internet (dual offline).
“Em cada uma dessas categorias, escolhemos ao menos um projeto, buscando as propostas que pareceram ao comitê facilitar mais a compreensão dos requisitos que serão necessários para a plataforma do Real Digital que será desenvolvida para a fase de projetos piloto”, explica Fabio Araujo, da Secretaria Executiva (Secre) do Banco Central.
Diante do elevado número de projetos de relevância e interesse para o desenvolvimento da iniciativa do Real Digital, o processo de seleção buscou um balanceamento entre a diversidade do portfólio de propostas apresentadas para o laboratório e a necessidade de acompanhamento detalhado dos projetos escolhidos. “As propostas apresentadas foram todas de excelente qualidade, foi bem difícil reduzir o conjunto inicial de 47 propostas até chegar às nove selecionadas. Pensando no uso de varejo, focamos inicialmente nos casos de uso que mais aproximassem o Real Digital da população, que será seu usuário final”, afirma.
Bancos centrais de quase 80 países – que correspondem a mais de 90% do PIB mundial – estão envolvidos com projetos de moedas digitais. “Esse movimento, no qual a inciativa do Real Digital se enquadra, faz parte da transformação digital pela qual vem passando nossa sociedade. Todos estão procurando definir esse espaço e determinar como uma moeda digital de banco central pode ajudar a trazer novas funcionalidade para os cidadãos”, completa Fabio.
As propostas selecionadas foram:
A AAVE reúne recursos de vários poupadores (formando um pool de liquidez) com foco em oferecer empréstimo e garantir a aderência dessas operações às normas do sistema financeiro, empregando ferramentas de DeFi (finanças descentralizadas). “A interação da AAVE com a equipe do Lift Challenge vai trazer importantes elementos para que o regulador possa ampliar sua compreensão sobre esse ecossistema e sobre a melhor forma de trazer essas tecnologias para o dia a dia do cidadão”, observa Fabio.
A proposta do Banco Santander trata de DvP (entrega contra pagamento) e da conversão para o formato digital (tokenização) do direito de propriedade de veículos e imóveis. “Há grande potencial de aprendizado no desenvolvimento desse projeto pois, ao lidar com diferentes estágios indo da plataforma de e-commerce, passando por órgãos de registro como Detran até a liquidação financeira, a proposta irá se deparar com várias questões que terão de ser resolvidas para viabilizar o uso do Real Digital para a liquidação de ativos reais”, comenta.
A Febraban trata de DvP de ativos financeiros, que necessitarão ter funcionalidades diretamente ligadas à arquitetura de operação do Real Digital. Para Fabio, “esse exercício, além de oferecer um caso de uso interessante, dessa associação que representa uma parcela considerável dos participantes do mercado bancário brasileiro, trará luz sobre elementos fundamentais para a definição dos próximos passos da iniciativa do Real Digital”.
A proposta apresentada pela Giesecke + Devrient, empresa com experiência no desenvolvimento e produção de tecnologias criptográficas voltadas a pagamentos, trata de pagamentos dual offline (pagador e recebedor sem acesso à rede). “Essa maturidade deverá enriquecer a discussão do tema que, segundo avaliação atual do BC, enfrenta desafios tecnológicos ainda maiores do que aqueles presentes nas aplicações online de uma CBDC (Central Bank Digital Currency)”.
O projeto do Itaú Unibanco trata de pagamentos internacionais, empregando método de PvP (pagamento contra pagamento) em uma aplicação com a Colômbia. “O projeto é de grande interesse para a iniciativa do Real Digital de uma forma geral e servirá ainda de subsídio para discussões em fóruns internacionais no presente esforço de melhoria dos canais de pagamentos transfronteiriços conduzido pelo G20 com o apoio de vários países e organismos internacionais”, destaca.
O Mercado Bitcoin se associou à Fundação CPQD e à Bitrust para trazer um caso de uso de DvP de ativos nativamente digitais, com foco em criptoativos. A proposta complementa as propostas do Santander e da Febraban, agregando ao leque de opções de potenciais ativos a serem negociados em uma plataforma baseada no Real Digital: ativos reais, ativos financeiros e criptoativos.
A proposta da Tecban combina elementos de DvP a uma solução de IoT (internet das coisas) para oferecer uma solução de logística, em um sistema potencialmente aberto de pagamentos e entrega, onde diferentes plataformas de e-commerce poderão ter acesso a pontos seguros de entrega.
A associação da Vert à Digital Asset, com o suporte da Oliver Wyman, trata de financiamento rural baseado em um ativo tokenizado programável com valor atrelado ao do Real (stablecoin do Real). Segundo Fabio Araujo, “traz uma proposta de financiamento rural que pretende dar maior fluidez e eficiência ao uso dos recursos ao mesmo tempo em que, através do uso de programabilidade, permite o monitoramento e fiscalização de sua destinação”.
Com objetivo similar de garantir a fluidez e a adequada utilização de recursos de financiamento, a Visa, associada à Consensys e à Microsoft, traz uma proposta que busca demonstrar como uma plataforma de DeFi regulamentada pode ser projetada para permitir que PMEs brasileiras interajam com o mercado financeiro global para obter propostas de financiamentos competitivos, em uma plataforma aberta.
* Com inforações do BC