Internet

IPv6 move 45% da internet no Brasil, mas faltam roteadores e conteúdos

Quinze anos depois de começar a implementação da versão 6 do protocolo IP no Brasil, o país tem aproximadamente 45% do tráfego internet em IPv6. E embora essa proporção seja comparativamente alta – a depender da fonte, o Brasil é o terceiro país que mais usa IPv6, atrás da Índia e dos EUA – o percentual é muito baixo frente ao crescimento da rede e do completo esgotamento de endereços IPv4. 

Como destacado em seminário promovido pela Anatel nesta quarta, 5/4, o ritmo de preparação para o IPv6 varia profundamente. Enquanto as redes de telecomunicações das maiores operadoras estejam 100% preparadas para funcionar tanto em IPv4 como em IPv6, assim como praticamente todos os smartphones, há uma série de dispositivos muito atrasados nesse processo. 

“Um dos maiores problemas é o suporte em equipamentos – como CPEs, smart TVs, consoles e games. Há equipamentos que até conseguem ser homologados, mas com problemas”, apontou o gerente de projetos do NIC.br, Antonio Moreiras. As CPEs, vale lembrar, são basicamente os roteadores domésticos. O que significa que pouco adianta a fibra ótica com rede pronta para IPv6 se a conexão dentro de casa não suporta o novo protocolo de endereçamento. 

“Temos casos de CPEs que têm desempenho diferente no IPv4 e no IPv6. Aí, na hora que o tráfego IPv6 começa a subir, não vai. Ou então, uma CPE que requer alguma configuração de usuário, porque o IPv6 não vem ativo por padrão. Também são muitas as Smart TVs que não suportam IPv6, sendo que as estatísticas já apontam que mais da metade da população já acessa internet com elas. Não adianta nada a operadora, o provedor entregar IPv6 para o usuário se na hora de navegar o dispositivo não tem suporte”, emendou Moreiras. 

Também vale destacar que, de forma semelhante, os consoles de vídeo games e, especialmente, jogos suportados por meio de servidores na rede, em sua grande maioria não estão aptos ao tráfego em IPv6. “É todo um ecossistema que precisa ainda ser educado para o uso do IPv6. Esses pontos atrapalham bastante a implantação do IPv6 no Brasil e no mundo”, disse o representante do NIC.br. 


Para além dos dispositivos, também faltam conteúdos em IPv6. Segundo levantamento do NIC.br, são pouquíssimos os bancos (8,7%) ou jogos online (8,3%) com suporte ao protocolo. Entre 11 plataformas de streaming avaliadas, só 36,4% estavam preparadas, ou 42,3% dos portais de notícias. Mesmo entre as redes sociais, apenas 56,6% delas funcionam em IPv6. 

Mas nada se compara ao descaso dos conteúdos de governo. “Praticamente nenhum site do governo federal ou de governos estaduais estão funcionando com IPv6. Se alguém tivesse só IPv6 em casa, não seria possível, por exemplo, entregar a declaração do Imposto de Renda. O papel do governo é importante, porque ajuda a puxar a cadeia como um todo”, ressaltou Antonio Moreiras. 

O ajuste é fundamental especialmente porque não existem mais endereços IPv4 disponíveis. Eles se esgotaram em escala global ainda em 2011 e mesmo a administração dos últimos blocos alocados terminou – no caso da América Latina, desde 2020 não existem nem mais as sobras. O que significa que um novo provedor internet precisa entrar na fila e torcer para a redistribuição de blocos que deixaram de ser usados, como quando uma empresa que detém alguns encerra as atividades. Mas no LACNIC, do qual o CGI.br faz parte, a fila tem 1.006 na espera – sendo que o primeiro já aguarda há 778 dias. 

Outra encrenca é a segurança. Com a falta de endereços IPv4, se popularizou a gambiarra conhecida como GTNAT-44, que permite o compartilhamento de IPs. Mas uma das consequências é a impossibilidade de se identificar efetivamente um endereço que cometeu algum delito na rede, por exemplo. 

Botão Voltar ao topo