Ian Beacraft: Maioria das habilidades da IA ainda é desconhecida
Futurista-chefe da Signal and Cipher, Ian Beacraft lembrou que o uso da Inteligência Artificial deve impactar a sociedade como nunca antes visto e que o desenvolvimento de habilidades é fundamental para evitar a formação de abismos sociais ainda maiores.
Ao participar da FEBRABAN TECH, que acontece esta semana em São Paulo, o futurista-chefe da Signal and Cipher, Ian Beacraft, sustentou que a Inteligência Artificial em geral, e o ChatGPT em particular, estão nesse momento no hype, o que significa que as expectativas estão muito acima do como a tecnologia realmente deve ser utilizada. “Estamos percebendo agora que ela não pode resolver todos os nossos problemas. Isso é bom, porque abre espaço para que possamos pensar em produtividade e no que ela pode resolver de fato”, enfatizou.
E isso deve acontecer muito rapidamente. Comparado com outras empresas, o ChatGPT levou apenas dois meses para atingir 100 milhões de usuários, o que é muito rápido em comparação com os 78 meses levados pela Google, ou os 30 meses do Instagram. Para Beacraft, a boa notícia é que a evolução da tecnologia chega no momento em que a sociedade vive um ponto de inflexão.
“A revolução industrial tornou possível que uma máquina fizesse o trabalho de 100 homens”, disse, lembrando que grandes cidades, como São Paulo, só se tornaram possíveis graças à revolução industrial. Isso aconteceu porque, ao longo desta evolução, a melhoria de cada pequena parte ajudou a melhorar todo o processo.
Algo semelhante deve acontecer com a IA, só que ao invés de mecanizar o trabalho, como fez a revolução industrial, ela vai digitalizar habilidades. O impacto disso, para Beacraft, é claro: nascidos em uma era em que tinha que se especializar, o ser humano começa a se mover para uma era em que deve se tornar um generalista criativo.
Beacraft citou o exemplo de um amigo que desenhava histórias em quadrinhos e queria fazer um filme. “Ele utilizou seu conhecimento em design e IA para dar movimento aos personagens que desenhava, e fez isso sozinho, criando um filme”, disse. Na prática, a sociedade caminha para um modelo em que será necessário ter algumas habilidades e complementá-las com o uso da tecnologia.
O especialista lembrou que a grande maioria das empresas está estruturada hoje sobre papéis predefinidos: há cargos, salários, job descriptions e promoções. “Ao me tornar um criativo generalista, poderei fazer o que for requerido e não uma função específica e isso já é possível agora, com ferramentas disponibilizadas pela Microsoft e pela Google, por exemplo”, acrescentou.
Com esse novo perfil de funcionários, as empresas passarão a contar com pequenos grupos de pessoas capazes de realizar mais que as grandes equipes de hoje, levando ao que Beacraft chama de just-in-time skills e expertise on demand. “Se o time for generalista criativo, a organização será. Isso não significa que vamos perder nossos empregos, mas eles serão mais baseados no valor que podemos gerar do que nas funções que exercemos”, disse, reconhecendo que nem todos serão vencedores. Para ele, os benefícios desse novo mundo não serão distribuídos igualitariamente.
A revolução no trabalho vai mudar o modelo da educação, que deve abandonar o modelo atual, de memorização e pensamento crítico, e adotar um modelo em que é preciso saber fazer as perguntas corretas. “Uma habilidade fundamental para as próximas gerações será saber identificar problemas e pesquisar soluções para eles, por isso a educação tem que mudar do pensamento crítico para uma visão mais geral do mundo”, afirmou.
O fato é que a grande maioria das possibilidades a serem criadas pela IA ainda são desconhecidas, mas já há o consenso de que, ao mesmo tempo em que pode criar oportunidades para todos, a tecnologia pode concentrar outras oportunidades para pouquíssimas pessoas. “Quem abraçar a IA mais cedo, vai ganhar vantagem”, concluiu Beacraft.