Febraban Tech 2023

Bancos recrutam talentos para avançar na computação quântica

Itaú Unibanco está indo além da TI e contratando profissionais de Biologia e Física. O JP Morgan, contou a IBM, já usa a computação quântica para análise de derivativos. "Tudo da tecnologia está vindo muito rápido. Isso é desafiador", diz Ana Paula Appel, da IBM Brasil.

Especial Febraban Tech 2023

Apesar de ainda em desenvolvimento, quem não estiver trabalhando para usar a computação quântica vai ficar para trás, pontuou o head de Quantum do Itaú Unibanco, Samurai Brito. Para ele, a computação quântica está próxima de aplicações reais no Brasil, mas ainda há muita estrada e aprendizado. “Para entender as aplicações potenciais e estarmos maduros para sua chegada, precisamos investir muito em formação. Por isso não sabemos se está perto ou longe, estamos na incerteza”, destacou. O executivo participou de um painel sobre Computação Quântica na FEBRABAN TECH, realizada de 27 a 29 de junho, em São Paulo.

Guilherme Pereira, diretor de pós-graduação da FIAP, ressaltou que as pesquisas têm evoluído a partir da compreensão de que, por trás dessa nova tecnologia, está a álgebra. Essa associação tem permitido uma transposição de conhecimento que tem possibilitado interações com um computador quântico e também o teste de algumas hipóteses. Citando a curva de adoção de novas tecnologias utilizada pelo Gartner, Pereira acredita que o mercado está hoje entre o hype e a definição de uso. “Temos que entender para o que a tecnologia vai servir”, disse, citando duas incertezas em relação ao futuro da tecnologia.

A primeira é tecnológica, já que ainda não há um padrão de hardware ou sistema a ser utilizado. A segunda é de formação, ou a falta dela, o que faz com que pouquíssimas pessoas cheguem a este universo. Essa falta de formação, por outro lado, tem aberto as portas da tecnologia para profissionais de outras áreas.

A cientista de dados e embaixadora do Quantum na IBM Brasil,  Ana Paula Appel, reconhece que não é física de formação, mas que vem estudando o tema há bastante tempo. Ela ressalta que a falta de formação é só uma parte de todo um ecossistema que ainda precisa ser formado em torno da tecnologia, permitindo que ela seja acessível a todos. Para tentar minimizar o problema, a IBM vem atuando em diferentes frentes.


“Há a questão da linguagem de programação, então a plataforma da IBM é toda em Python, que é uma linguagem que a maioria sabe usar”, explica. Sobre os algoritmos e o material criado a partir do desenvolvimento, ela lembra que tudo tem sido feito em open source, com toda a documentação aberta aos interessados. A fabricante também criou a Quantum Network, que hoje reúne mais de 200 empresas, universidades e instituições e tudo o que é desenvolvido é testado por eles.

Samuraí lembra que o Itaú Unibanco é parte da Quantum Network porque o banco entendeu a necessidade de explorar o tema. Para isso, ela conta hoje com uma equipe formada por biólogos, físicos e programadores. “Começamos a expandir nosso time e desenhar o perfil desse profissional foi desafiador, porque requer conhecimento de computação tradicional e quântica”, lembra. O foco não é apenas testar, mas entender o poder que a computação quântica tem para melhorar o atendimento aos clientes.

Essa preocupação é parte da preparação para o futuro. Ana Paula afirma que as empresas precisam pensar na jornada. “A computação quântica não é para agora, mas as coisas estão vindo muito mais rápido do que há alguns anos”, destacou. Pereira concordou e disse que, em um momento em que não se tem certeza do caminho, é preciso investir na competência da agilidade no aprendizado.

Uso prático

Enquanto sugere que o mercado se prepare, a IBM vem trabalhando no desenvolvimento de aplicações práticas. Um dos casos citados por Ana Paula foi o do banco JP Morgan, que está utilizando redes neurais do Quantum para realizar análise de derivativos. “Recentemente a Boeing assinou com a IBM para utilizar a plataforma na análise de materiais e há clientes a utilizando em detecção de fraudes, mas tudo ainda é exploração”, afirmou.

Samuraí enfatizou que estas explorações não trarão benefícios apenas no futuro. Ao contrário, o processo de aprendizado pode trazer novos pontos de vista, permitindo criar soluções agora mesmo. Citou uma pesquisa feita por sua área na utilização da computação quântica para mapear clientes propensos a deixar o banco. “Parte dos resultados foi utilizada na solução de machine learning que utilizamos hoje, dobrando nosso potencial de identificar esses clientes”, revelou.

Essa complementariedade, aliás, é parte do que será o futuro. Ana Paula defende que a computação quântica não deve matar a tradicional, mas complementá-la. “O futuro é computação hibrida. Teremos partes que vão rodar em computação quântica. Essas mudanças começarão pequenas e depois pensaremos em outros algoritmos e métodos que vão tirar proveito do computador quântico”, disse.

O ponto reforçado por todos é a necessidade de começar a se interessar pelo assunto e estudá-lo pensando em futuras aplicações. “A Kodak não poderia prever que as fotos digitais dominariam o mundo, mas não poderia ignorar a tendência”, comparou Samuraí, lembrando que preparar significa pensar em formação, envolver outras áreas e começar a educar toda a organização, entendendo os riscos e potencialidades. “Nosso trabalho é deixar esse caminho mapeado e explorar casos de uso que terão de fato potencial competitivo no futuro com o uso da tecnologia”, prevê.

 

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