Teles e big techs fazem guerra de narrativas sobre pagamento pela rede
Representantes das operadoras de telecomunicações e das empresas de internet promoveram no Futurecom 2023 o que o presidente da Anatel, Carlos Baigorri, chamou de guerra de narrativas sobre o custeio das redes de telecom.
De sua parte, as teles reclamam de que um punhado de gigantes da web concentra mais da metade de todo o tráfego nas redes – 80% no caso das redes de telefonia celular.
“O 5G vai ter impacto em todo o tecido econômico da sociedade, no agro, na indústria, na saúde etc, e isso não pode ser prejudicado pela ocupação das redes por meia dúzia de empresas. É um caso típico de situação em que a regulação tem que avançar. É discutir quem vai contribuir para o sobreinvestimento necessário para construção das redes”, afirmou o presidente-executivo do sindicato nacional das grandes teles, Conexis Brasil Digital, Marcos Ferrari.
Tomás Paiva, da Câmara Brasileira da Economia Digital (camara-e.net), rebateu a alegação de que as big techs são meros caronas nas redes de telecom, lembrando que essas empresas também constroem infraestrutura.
“É uma falácia dizer que OTTs não investem em infraestrutura. São investimentos substanciais em datacenters, CDNs, cabos submarinos, soluções satelitais de baixa órbita. E não há nada no ordenamento jurídico que impeça acordos privados – caso do zero rating, ou dos pacotes de telecom com SVA, acordos privados que permanecem na economia de livre mercado. A discussão é a necessidade de intervenção estatal, de o Estado determinar ou permitir uma taxação ou um subsídio de uma indústria para outra quando hoje temos uma relação simbiótica”, afirmou.
O presidente do conselho da Telcomp e CEO da Datora, Tomas Fuchs, ressaltou que ao mesmo tempo em que reclamam dos aplicativos que consomem muita banda, as teles móveis mantêm os mais populares entre eles no modelo de zero rating. Ele também destacou que acordos entre as grandes precisam alcançar também os pequenos do setor (leia aqui).
Alinhado às operadoras de telecom, o presidente da Anatel reclamou que a ideia de neutralidade de rede – considerada uma barreira ao mercado de duas pontas que as teles querem instituir – foi uma invenção dos Estados Unidos para beneficiar as gigantes da internet.
“Toda a discussão de neutralidade de rede foi criada pelo governo americano e espalhada pelo mundo para defender interesse de corporações americanas, como se o Mark Zuckerberg fosse o grande defensor dos valores ocidentais”, disparou o presidente da Anatel. “O problema é o excesso de regulação. A regulamentação e a legislação criaram rigidez no mercado de telecomunicações em um contexto que não faz mais sentido. Não é falha de mercado, é uma falha de modelo.”