O acesso a serviços com a tecnologia de quinta geração (5G), no momento, é o mais rápido, permite mais dispositivos funcionarem simultaneamente e com menor tempo de resposta (baixíssima latência); especialmente para o emprego de facilidades, como “Internet of Things”, “Smart Cities, Vehicles and Traffic”, “Smart Factories and Farms” e “Smarter Healthcare”. Essas facilidades, ou oportunidades, influem no ensino, educação, saúde, segurança pública, relações pessoais, governos, automação industrial e agrícola, entre outros aspectos, pois o 5G é muito mais uma revolução do que uma evolução.
O artigo publicado no site Lifewire, em 2022, assinado por Tim Fisher, engenheiro e escritor americano, com o título: “5G: Here´s Everything That´s Changing”, aborda tópicos a respeito do tema aqui destacado. Tais mudanças estão muito próximas das potenciais necessidades das pessoas e da sociedade que se conectam digitalmente no planeta Terra. Resta saber se haverá aceitação dessas inovações de forma massiva, de modo a viabilizar economicamente os investimentos. As operadoras certamente o sabem, pois não entram nos leilões sem que elaborem circunstanciados planos de negócio (business plan).
Até agosto, mais de 540 empresas operadoras investiram em 5G pelo mundo, a envolver cerca de US$ 50 bilhões em leilões para utilizar radiofrequências atribuídas à tecnologia 5G. Um dos desafios para as empresas é o emprego de frequências mais altas que, embora, como já dito, propiciem maior velocidade, mais dispositivos conectados e menor latência, têm alcance reduzido, no qual cada estação rádio base 5G cobre uma área menor em comparação ao 4G. Pois ao subir a frequência, necessariamente as células tornam-se muito pequenas. Estimativa da Moody’s Investors Service aponta que para adquirirem as licenças do espectro 5G essas operadoras aumentaram significativamente suas dívidas ao final de 2022.
Segundo relatório de um fabricante, desde o início de 2020, há tendência de crescimento positiva nos 20 principais mercados 5G relacionados à migração dos consumidores aos planos 5G. O crescimento médio da receita nos últimos dois anos foi de 3,2% ao ano, o que demonstra o potencial para o crescimento contínuo de receitas. Mesmo assim, o sucesso dessas mudanças é apenas relativo, uma vez que a cobertura das redes 5G ainda é baixa, principalmente nas macrorregiões da Eurásia, África, Oriente Médio e América Latina.
Uma pesquisa da Omdia, mostra que em junho deste ano, Hong Kong tinha a maior taxa de penetração 5G do mundo, com 74% da sua população assinando serviços. Classificadas em segundo e terceiro lugar estavam a China continental e a Coreia do Sul, que registaram taxas de assinatura móvel 5G de 60% e 59%, respetivamente. Nos EUA, 43% das pessoas tinham assinaturas móveis 5G – o 10º lugar no ranking mundial.
No Brasil, segundo dados da Anatel relativos a Setembro de 2023, o SMP (Serviço Móvel Pessoal) contava com 253 milhões de acesso, dos quais 8,3% (21 milhões) em 2G; 8,2% (21 milhões) em 3G; 77,1% (195 milhões) em 4G e 6,4% (16 milhões) em 5G. O leilão de 5G SA (5G Standalone), realizado ao final de 2021, no valor econômico de R$ 47,2 bilhões, permitiu já em julho de 2022 ativar parte das diversas frequências atribuídas. Como se vê nos dados da Anatel, a tecnologia 4G é a dominante e assim o será por algum tempo, não só no Brasil, mas em várias partes do mundo.
Implementadas na América Latina em 2022, as redes 5G poderão assumir na Região, até 2025, uma proporção de usuários superior a 30% e o tráfego suportado pelas redes 5G será mais de três vezes maior que o atual; conforme previsão de um fabricante de equipamentos. Assim, por parte dos fabricantes, o desenvolvimento ocorre em todos os países da região onde, para atender às mudanças, procuram focar na cadeia industrial do ecossistema.
Do lado das operadoras, a grande preocupação tem sido a construção de redes de alta qualidade, capacitadas para ofertar novas experiências aos usuários, uma vez que a infraestrutura de transmissão dessa tecnologia é cara. Tanto que as empresas operadoras que investiram em tecnologia 5G mundo afora endividaram-se para montar a infraestrutura necessária.
Desafio importante que as operadoras têm pela frente, além da prestação dos serviços de Telecomunicações, é como elas poderão se envolver nas potencialidades, funcionalidades e aplicações que as Redes 5G – e futuramente as Redes 6G – permitirão implementar. Nesse particular apresentam-se as oportunidades de desenvolvimento de mudanças nos negócios em diversos ramos de atividade, nos quais inventividade, engenhosidade e empreendedorismo poderão inovar de modo revolucionário.
Importante também é como monetizar os investimentos nas redes 5G. No Brasil, as operadoras têm conseguido se antecipar aos compromissos regulatório e editalício. Estrategicamente buscam identificar para onde o mercado está a mudar. Essa monetização não tem a ver só com capacidade, tem a ver com a adequação de sistemas para criação de novos produtos, com preparação para as APIs (Applications Programming Interfaces), redes abertas com APIs de terceiros etc.
As mudanças para o crescimento das operadoras passam por novos modelos de negócio. Há o mercado Enterprise, o FWA (Fixed Wireless Access), a criação de novos serviços, seja por APIs ou novos serviços próprios das operadoras. Há ainda a possibilidade de montagem de redes privadas – um sistema construído segundo os mesmos padrões de um serviço móvel de alta velocidade, mas adaptado a uma empresa que opera numa área menor como um escritório ou uma planta industrial. Essas redes podem conectar uma variedade de computadores, sensores, robôs etc.
Como diz o dirigente de uma das indústrias – O setor é de capital intensivo e continuará a ser. Quem fica como o ônus do investimento é quem pode mudar. No caso das redes neutras, que hoje estão suportadas na rede fixa, existem players que montam seus negócios em redes móveis. O consumidor final, seja uma empresa, um porto, um aeroporto, uma fazenda, uma indústria, uma mina, vai estar com o 5G intrínseco as suas operações. Substituem o cabo, o WiFi e utilizam o 5G, a digitalizar tudo com Cloud, Computer Vision e Inteligência Artificial. Em síntese, o consumidor revoluciona as suas operações.
Mas, para que as operadoras consigam entregar esses novos serviços, elas têm que integrar operações e vendas. Depois, têm que preparar as mudanças para chegar nos modelos de negócios a envolver comercialização de fatiamento de redes (Network Slicing) e redes privadas. Do ponto de vista do consumidor final, ele pode comprar da operadora ou dos provedores de conteúdo. Os provedores de conteúdo têm isso como core business, assim, a chance do volume poderá ser maior entre os desenvolvedores de aplicativos.
Tudo isso desperta atenção, sem entrar na ardorosa e delicada discussão em torno do Fair Share, tópico que diz respeito a como as grandes plataformas geradoras de tráfego (as Big Techs) deveriam contribuir para a construção de redes. Mas temos de lembrar que quando da implementação do 4G faltou habilidade para as operadoras monetizarem seus investimentos. Agora com o 5G a propensão para solução do problema requer uma equação maior. Mas, o tema Fair Share – Teles vs. Big Techs – demanda outro minucioso artigo.
* Juarez Quadros do Nascimento é Engenheiro Eletricista. Foi ministro de Estado das Comunicações e presidente da Anatel