Dados e IA unidos para manter a floresta amazônica de pé
Como a análise de dados e a inteligência artificial podem proteger a Floresta Amazônica da degradação? Com 6,7 milhões de km² de área, sendo maior parte desse bioma (60,1%) em território brasileiro, a floresta, se fosse um país, seria o sétimo maior do mundo, segundo dados do WWF, o Fundo Mundial Para a Natureza. Um dos desafios atuais é manter a floresta de pé e uma das estratégias para preservá-la está no uso de IA para analisar e decifrar milhares de imagens de satélite que revelam a gravidade da devastação da floresta Amazônica.
A iniciativa começou em 2021 em parceria com um instituto de pesquisa europeu que queria provar como usar IA corretamente para ver imagens de satélite da Amazônia, já que a inteligência artificial pode ver milhões de fotos e “não se cansar”, contou I-Sah Hsieh, responsável pela área de inovação social e ética de dados do SAS, em entrevista ao Convergência Digital, durante a sua passagem pelo Brasil, em setembro passado.
O executivo é o gerente principal do programa de ética de dados da líder global em analytics, com um faturamento anual na casa dos US$ 3,3 bilhões e também é o responsável pelas parcerias da SAS com a Organização das Nações Unidas.
O projeto na Floresta Amazônica parte do princípio de que a inteligência artificial não consegue fazer tudo sozinha e por isso pediu a participação das pessoas para identificar os sinais de desmatamento que o modelo não aprendeu a detectar. A iniciativa de crowdsourcing foi aceita em um periódico acadêmico e, portanto, todos os aprendizados sobre a ciência do crowdsourcing, treinamento e modelo de IA para observar o desmatamento na Amazônia estarão disponíveis publicamente.
Com isso, será possível que governos aproveitem-se do conhecimento e das melhores práticas possam aplicá-los. “Você sabe que uma das coisas boas da análise de dados é que, quando você responde a uma pergunta, você vem com mais cinco perguntas pela frente. Então, quando a Associação de Conservação da Amazônia viu nosso trabalho, eles disseram: ‘ei, isso é fantástico, mas, em vez de dizer, sim, houve desmatamento por causa humana ou não, podemos ir mais fundo”, contou o executivo.
O que a SOS Amazônia quis entender foi a origem do desmatamento, porque, a depender de quem causa — por exemplo, desmatamento causado pela mineração ilegal de ouro ou oriundo de um grande incêndio —, há grupos diferentes de pessoas a serem contatadas. Assim, entender as causas do desmatamento levaria a um melhor monitoramento. “A Associação de Conservação da Amazônia quer ajudar os povos indígenas, que eu aprendi que as terras indígenas representam 30% da Amazônia, a proteger e monitorar melhor”, explicou o executivo do SAS. É neste estágio que o projeto está atualmente. Trata-se de um segundo projeto de conservação da Amazônia.
Principais ganhos de analytics
Questionado sobre quais têm sido os principais benefícios que analytics aportou à preservação da Amazônia, I-Sah Hsieh disse que há algumas maneiras de responder a esta pergunta. “Uma é que gostamos de poder trabalhar questões difíceis que as pessoas não responderam antes. A primeira parte do projeto foi sobre crowdsourcing e pessoas foram capazes de ensinar IA a olhar para imagens de satélites, mas como podemos envolver sistematicamente o público para treinar modelos?”, apontou.
Para além de avançar com a ciência do crowdsourcing, o próximo passo é fazer previsões. “Agora que a IA pode observar com precisão onde está acontecendo o desmatamento, podemos se começar a alimentar com muitos dados a cada três ou cinco dias por um período de tempo que posso começar a prever. Ok, vemos o desmatamento acontecendo nesses padrões, podemos começar a prever onde poderá ocorrer o desmatamento e com que rapidez, certo? E é aí que o poder da análise e da IA pode ser realmente valioso”, assinalou.
Falando sobre a evolução de IA — para o bem e para o mal —, I-Sah Hsieh apontou que, do ponto de vista de tecnologia, é um momento muito emocionante e descartou que as pessoas percam de fato seus empregos para IA. “Na verdade, IA vai ajudar você a fazer seu trabalho. Quando a calculadora foi lançada, lembra? Sinto que estamos em um momento semelhante em que posso passar o dia todo e descobrir sozinho [como resolver uma equação] ou posso obter rapidamente a resposta com a calculadora e passar para coisas importantes”, disse.
Nesse cenário, o especialista indica que as pessoas terão de descobrir como fazer coisas que o computador não consegue e acrescentou que a IA por si só, agora, ela não pode ser deixada sozinha. Ela precisa da supervisão humana. “Você tem problemas quando as pessoas deixam a IA sozinha. Ela é como qualquer ferramenta.” Também lembrou que a inteligência artificial existe há muito tempo e bem antes do advento de ChatGPT. “Esses grandes modelos de aprendizagem, como o ChatGPT, são muito mais inteligentes e funcionam de maneira completamente diferente de outros tipos de IA.”