Mecanizou se apoia em IA para fazer match de peças automotivas
Criada há pouco mais de dois anos, a Mecanizou conecta oficinas mecânicas a diferentes players da indústria de autopeças. Para fazer o “match”, a startup usa de mecanismos de inteligência artificial com objetivo de, a partir de informações simples, como a placa e o modelo do veículo, vasculhar o banco de dados para apontar, em poucos segundos, qual é a peça ideal para aquele carro, onde ela está disponível, as possíveis formas de pagamento e garantir que ela será entregue na oficina em menos de uma hora.
A empresa nasceu com foco em ajudar o mecânico, que é quem acaba tomando muitas decisões do setor automotivo, a encontrar as peças necessárias para o conserto dos carros. “O primeiro desafio é saber onde está a peça para reparar o carro e a dor que queríamos resolver é que ninguém estava ajudando o mecânico nessa tarefa”, contou ao Convergência Digital, Ian Faria, CEO da Mecanizou, completando que a única tecnologia que facilitou o trabalho do mecânico foi o WhatsApp, mas, ainda assim, ela apenas o ajuda a conectar-se mais facilmente a quem tem as peças e ele precisa já ter os contatos.
A Mecanizou queria ir além e colocar a cliques de distância diversos fornecedores de peças, de modo que o mecânico pudesse informar o que necessita — como tipo de peça, para qual veículo, modelo e ano — e recebesse prontamente os valores e quem poderia fornecer a peça. Mas, para isso, a Mecanizou precisava vencer alguns desafios, a começar pelo fato de que esse não é um profissional digitalizado. E mais: a cadeia de suprimentos não é simétrica, envolve montadora, fábrica de peças automotivas, distribuidores e varejistas até chegar ao mecânico, que é quem vai comprar a peça. Além disso, uma peça pode servir para vários modelos.
“Criamos a tecnologia que faz o match entre a peça e o carro, mostrando as peças certas”, explicou Ian Faria. No site da Mecanizou, o mecânico coloca dados do veículo e qual peça busca. A plataforma pesquisa nos dados que tem e traz de volta os resultados das peças de múltiplas marcas e informações detalhadas, como, por exemplo, para quais outros carros a peça funciona. Também aponta os valores e faz a entrega das peças por meio de parceiros logísticos.
Faria diz que a peça chega em poucas horas, diminuindo o tempo que o carro do cliente fica parado na oficina. “Melhoramos a vida do mecânico por termos um ciclo mais rápido e isso impacta o cliente final”, disse o CEO. Atualmente, a plataforma atende apenas a cidade de São Paulo e tem cadastrados 300 fornecedores e 1200 oficinas mecânicas. Há uma fila de espera com 2 mil oficinas mecânicas querendo ingressar na plataforma. “Lançamos e cresceu muito rápido a plataforma. O primeiro ano foi caótico, crescia 70% mês contra mês o que mostrava que existia ineficiência do mercado. Levantamos capital em 2023 e reconstruímos algumas coisas da plataforma”, contou Faria.
A plataforma, desenvolvida internamente, baseia-se em inteligência artificial (IA), permitindo que sejam analisados os vastos conjuntos de dados, levando em consideração especificidades técnicas, disponibilidade no mercado e históricos de desempenho. Com essa capacidade analítica, é possível oferecer recomendações personalizadas, automatizar tarefas de busca e comparação e economizar tempo. “Reprocessamos as bases de dados com machine learning e aprendemos com a informação. Por exemplo, quando vendemos a peça para o mecânico e ela está errada, a informação volta para a plataforma e com IA conseguimos aprender. O próximo que solicitar não terá esta dor”, detalhou o CEO.
A IA também é usada para fazer a precificação das peças. Os fornecedores sugerem os valores a serem cobrados pelas peças, mas é a Mecanizou que estipula quanto irá cobrar. “Se eu quiser vender mais barato ou mais caro, é uma decisão interna. E IA ajuda na precificação”, explicou o CEO.
As bases de dados são compostas por informações oriundas de variados parceiros, que vão dos diversos fornecedores de peças à conexão com dados de informação veicular e de fábricas para ter informações de catálogos, além de ligar a parceiros logísticos. As conexões nem sempre são estabelecidas por meio de APIs (já que a cadeia não é totalmente digitalizada) e muitas vezes vêm de documentos em PDF.
Ao usar o Mecanizou, as oficinas mecânicas também conseguem comparar preços e saber quanto tempo leva a peça que precisa leva para chegar até o local. Todo o dado da plataforma está atualizado, segundo o CEO. O acesso à plataforma é gratuito e a Mecanizou capitaliza em cima de comissão da venda de peças. “Toda plataforma baseada em IA e machine learning, com 100% do desenvolvimento sendo nosso. É onde nos destacamos como negócio, a gente consegue olhar para o mercado por meio de tecnologia. Nós vendemos peças através de tecnologia, que é o nosso core”, destacou Ian Faria.
O atual CEO contou que a Mecanizou nasceu em uma casa alugada na Zona Norte de São Paulo, quando ele e o sócio começaram a testar vários modelos de negócios até chegar à cadeia de peças. “Nascemos em um Excel… Criamos um banco de dados na planilha que formatava um PDF e, assim, vimos que era possível fazer. Rodamos um pequeno teste em 40 oficinas para ver se o modelo funcionava. Éramos sete pessoas e construímos”, relatou.
Com o modelo de negócios, conseguiram investimento semente de US$ 4 milhões liderado pela Monashees, Alexia e H20 Capital. Depois, mais consolidados, partiram para investimento série A, quando conseguiram US$ 14,5 milhões com Monashees, Alexia, FJ Labs e Dalus Capital. “Com a seed, a gente viu que dava para fazer e que teríamos de fazer em grande escala. Na seed, ficamos apenas na Zona Norte e, agora, expandimos.” A meta atual é levar a plataforma para atender às zonas metropolitanas de SP, além de expandir o catálogo que, hoje, conta com 700 mil peças, além de incluir as oficinas que estão na lista de espera.