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Rompimento de cabos submarinos deixa a Internet com mais latência pelos próximos 30 dias

"Ataques no Mar Vermelho obrigaram uso de rotas alternativas", diz o CTO da Angola Cables, Lucenildo Júnior. Sobre Fortaleza: nenhum lugar do mundo tem uma usina de dessalinização tão perto dos cabos.

Nos próximos 30 dias, o usuário da Internet vai perceber uma latência maior para acessar sites, especialmente, os hospedados fora do Brasil e, mais ainda, os da região asiática. Isso porque três cabos submarinos foram danificados no Mar Vermelho por conta de um uma ação militar dos Houthis (grupo militar ligado ao Irã que atua no Iêmen) numa disputa com os Estados Unidos. O rompimento causa um problema global, uma vez que a Internet é uma rede das redes e totalmente interligada.

Lucenildo Júnior

“Uma falha dessa impacta toda a Internet. Os cabos são interligados. As rotas de redundâncias foram acionadas, mas se tem consequências. A Europa, por exemplo, está tendo seu tráfego desviado para Los Angeles, nos Estados Unidos, para depois ir para a Ásia. A Internet funciona, mas fica sobrecarregada. O tráfego aqui na América do Sul foi impactado. Fortaleza, onde temos 17 cabos submarinos, está sendo muito mais demandada”, explica o CTO da Angola Cables, Lucenildo Júnior.

Boa parte do tráfego internacional da Internet para a Ásia está sendo feito por cabos submarinos operados pela Angola Cables, via África do Sul, para chegar a Singapura. “Essa é uma rota muito mais longa que a tradicional. Isso significa que a latência no tráfego de dados aumenta. É como ir para um lugar pela rota mais longa. Vai chegar? Vai, mas vai se levar muito mais tempo”, detalha o especialista.

Lucenildo Júnior adiciona que os dados dos Estados Unidos estão sendo encaminhados do ponto de interconexão de Miami para o de Fortaleza (via cabo Monet) e, de lá, enviados para o ponto de interconexão de Luanda (via cabo South Atlantic Cable System, o SACS). O mesmo acontece com os dados da Europa, que estão sendo enviados para Luanda, pela costa oeste da África (via West Africa Cable System, o WACS).

Indagado sobre o impacto da usina de dessalinização da água do mar na Praia do Futuro, em Fortaleza, projeto do Governo do Ceará, que receberá mais de R$ 520 milhões em investimentos, e que criou uma saia justa com as empresas de telecomunicações, o CTO da Angola Cables diz que ‘em lugar nenhum do mundo existe projeto semelhante perto de cabos submarinos”. Para Lucenildo Júnior, o risco para os cabos submarinos é evidente.


“O mar tem suas peculiaridades, incidências de correntes e outras variáveis. De novo: em lugar nenhum do mundo se tem uma usina dessalinazadora junto a cabos submarinos. Na Austrália e em Israel, as usinas ficam bem longe dos cabos e de lugares com população”

Lucenildo Júnior

“A usina de dessalinização quebra todas as normas internacionais de proteção aos cabos submarinos. Temos de entender que ao contrário de uma fibra óptica- que é apenas luz – mas quando é rompida numa rodovia, causa um estrago grande à conectividade, os cabos submarinos além dos dados também transmitem energia, uma vez que debaixo dos oceanos há equipamentos que regeneram o sinal para retransmissão por conta da distância. Um possível rompimento em Fortaleza vai levar mais tempo ainda para corrigir. A equipe de restauração mais próxima fica em Curuçao, no Caribe. Se um dos 17 cabos forem rompidos, teremos uma grande possibilidade de apagão da internet no Brasil”, pontua.

Segundo ainda o CTO da Angola Cables, a revisão do projeto feito pelo Governo do Ceará – que afastou a usina em 500 metros na praia do Futuro – tem impacto zero. “O mar tem suas peculiaridades, incidências de correntes e outras variáveis. De novo: em lugar nenhum do mundo se tem uma usina dessalinazadora junto a cabos submarinos. Na Austrália e em Israel, as usinas ficam bem longe dos cabos e de lugares com população”, completa Lucenildo Junior.

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