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Meirelles, Locomotiva: cartão de crédito é capital de giro no Brasil

“O quanto de crédito é uma necessidade de um empreendedor que, ao não ter linhas de crédito para empresários ou políticas de créditos efetivas, tem de usar cartão de crédito como meio de ter capital de giro para o negócio?”, questionou Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva, ao palestrar no evento “Como os brasileiros lidam com o dinheiro e como fazer para melhorar”, realizado nesta terça-feira, 21/05, na FGV Direito SP. 

Meirelles lembrou que 86% dos brasileiros se consideram classe média e que metade das 72 milhões das famílias brasileiras ganha menos de R$ 3.600, somando todas as rendas. É, portanto, um montante muito baixo e razão pela qual a população depende do parcelamento para conseguir adquirir bens. 

“O crédito, muitas vezes, serve para garantir que a pessoa possa ter hoje o que não teria — uma máquina de lavar, capital de giro para o negócio, uma roupa para entrevista de emprego. Temos de olhar pela lógica das pessoas. Como vou dizer que um pai ou uma mãe de família que sustenta família ganhando um salário mínimo não tem educação financeira?”, provocou Meirelles. 

Para ele, tão (ou mais) importante que a educação financeira é a redução da taxa de juros cobrados no rotativo. 

“Têm juros que chegam a mais de 400% ao ano; o cartão de crédito não é o vilão, quem é são os juros”, assinalou. “Não consigo imaginar que é possível ter educação financeira sem redução de juros, porque senão corremos o risco de culpar a vítima por ter ficado inadimplente”, acrescentou.


O presidente do Instituto Locomotiva explicou que, ao analisar o perfil de quem está inadimplente, constata-se que a inadimplência é muito semelhante ao perfil sociodemográfico da população brasileira. A inadimplência é transversal às classes econômicas do Brasil. “Falta educação financeira para os mais ricos, mas para os mais pobres isso não basta: precisa de redução de juros”, assinalou. 

A inadimplência também afeta a saúde mental dos brasileiros. Dando números de uma pesquisa que entrevistou 1.500 inadimplentes, nove de cada dez pessoas relataram impactos no estado emocional; 78% na vida amorosa e 42% pararam de atender telefone por causa de cobrança, gerando um grau de tensão.  

Ao encerrar sua fala, Meirelles fez uma provocação sobre o quanto culpar o consumidor por um não letramento financeiro é suficiente para acabar com a inadimplência no Brasil. É preciso colocar na balança o outro lado, que é sustentar a família com um ou dois salários mínimos, sujeitos a juros que são, nas palavras dele, “absurdos e extorsivos” e do lado do empreendedor que usa o cartão de crédito para ter crédito.

A boa notícia, disse, é que, hoje, quando você pergunta para os inadimplentes se eles acham que poderão pagar as suas contas, 39% afirmaram ter a certeza de que conseguirão e seis em cada dez disseram considerar que irão pagar. “Basta ter oportunidade sinceras de renegociar a dívida, porque boa parte já foi paga se considerar a Selic.” 

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