Por Roberta Prescott
O Colégio Santa Marcelina de São Paulo integrou a inteligência artificial ao seu currículo educacional como uma forma de preparar os estudantes para o futuro e para os desafios de um mercado de trabalho cada vez mais digitalizado. Ao longo da jornada de aprendizagem, os estudantes desenvolvem habilidades como pensamento computacional, reconhecimento de padrões em dados e informações, criatividade, inovação, design thinking e prototipagem.
O professor de tecnologia educacional do Santa Marcelina Marcelo Vieira explicou que o colégio trabalha com a tecnologia no currículo de maneira transversal, o que possibilita aprofundamento nos projetos desenvolvidos. “Por exemplo, quando vou introduzir inteligência artificial em uma matéria chamada computação, humanidade e criatividade (CHC) consigo trazer conceitos técnicos, assim, quando o aluno escuta sobre IA, ele já tem os conceitos”, disse ele ao Convergência Digital.
A CHC na instituição é iniciada desde o ensino fundamental e tem se mostrado de suma importância. “Alunos demonstram ser mais consumidores de tecnologia que produtores e não interessados em tecnologia. Então, se você não passar pelo processo de letramento digital, o jovem dificilmente vai estar preparado para o mercado de trabalho”, apontou o professor.
É justamente essa lacuna que o colégio visa a preencher. A inserção de IA tem como objetivo fomentar uma abordagem crítica, reflexiva e em constante avaliação para garantir que a IA seja utilizada de forma responsável e eficaz para impulsionar o sucesso dos nossos jovens, segundo o professor.
O processo de introduzir as tecnologias iniciou-se em 2005 e, desde então, o colégio vem se estruturando para acompanhar as mudanças sempre com foco em conduzir a fluência digital. “A IA está acelerando a disrupção. Na época que só tinha o Google, os alunos tinham de aprender técnicas de buscas e já víamos cópias de conteúdo. Mas o processo anterior era melhor se comparado com a inteligência artificial generativa, porque exigia separar, indexar… e hoje, simplesmente, se aluno transpor a questão do professor, a IA vai responder. É uma situação preocupante do ponto de vista educacional”, avaliou Marcelo Vieira.
Para preparar os alunos, abordar ética é fundamental para que eles saibam lidar com o mundo digital. Também é importante estruturar o pensamento computacional e isso se dá por meio de aulas de robótica e de programação, com gradual inserção de dificuldades para instrumentalizar os jovens para resolver problemas. “O trabalho de formação permite ao aluno entender que a IA preditiva pode ser usada para fazer um carrinho se movimentar, mostrando imagem ou seta para andar. Ou a inteligência artificial generativa sendo usada para criar uma persona para conversar com D. Pedro II para saber o que estava acontecendo no Brasil na época. É eles se darem conta de não usar a ferramenta para burlar o sistema”, explicou.
Implantação para todos
Nos anos iniciais, a introdução à IA na instituição se dá de forma lúdica e intuitiva, utilizando robôs e jogos para atividades que desenvolvem o pensamento computacional a fim de que os estudantes aprendam a solucionar problemas, pensar de forma lógica e identificar padrões, preparando-os para o futuro contato com a IA. Marcelo Vieira explicou que, em vez de simplesmente apresentar a IA como um conceito abstrato, se busca despertar o interesse das crianças pela tecnologia, mostrando a elas que a IA é uma ferramenta poderosa que pode ser utilizada para construir um futuro melhor.
Já nos anos finais do ensino fundamental, a IA ganha corpo e forma, segundo explica Vieira. “Introduzimos o conceito de IA preditiva, explorando o aprendizado de máquina e suas aplicações na vida real, como em sistemas de recomendação e análise de dados, assim os estudantes compreendem como a IA pode auxiliar na tomada de decisões e na resolução de problemas complexos”, disse.
No ensino médio, o estudo da IA atinge um novo patamar com o “Itinerário Formativo de Tecnologia”, em que a IA generativa é explorada em profundidade. Os estudantes mergulham no mundo da criação de conteúdo com IA explorando ferramentas como ChatGPT e Midjourney, e desenvolvendo projetos práticos que demonstram o potencial da IA na produção de textos, imagens, vídeos e música.
“Com essa abordagem progressiva, garantimos que nossos estudantes desenvolvam não apenas o conhecimento técnico sobre IA, mas também a consciência crítica e ética sobre suas implicações sociais, preparando-os para lidar com as transformações que a IA trará para o futuro”, ressaltou o professor.
Entre as ferramentas implementadas pelo Colégio Santa Marcelina de São Paulo, estão plataformas de ensino como o Khan Academy, que utiliza IA para oferecer conteúdo personalizado e feedback instantâneo aos estudantes, adaptando o ritmo de aprendizagem de acordo com o progresso individual de cada um. O uso dessas tecnologias não apenas melhora o desempenho acadêmico, mas também contribui para um ambiente educacional mais inclusivo e eficaz, segundo a instituição. A IA também facilita o trabalho colaborativo entre os estudantes, oferecendo soluções digitais que incentivam a troca de conhecimento e a construção de projetos colaborativos.
Fundado em 1838 por monsenhor Luigi Biraghi, com o auxílio de Marina Videmari, em Milão, na Itália, o Instituto Internacional das Irmãs de Santa Marcelina, atualmente, está presente em oito países,em três continentes — no Brasil, está em 17 municípios e nove Estados, incluindo São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná e Tocantins.