Tarifaço de Trump dói pesado no bolso das fabricantes de chips, ações despencam, e mercado de IA desaba
Nvidia anunciou um prejuízo de US$ 5,5 bilhões com as restrições de exportar processador IA para a China. "Trump está empurrando o mercado de IA na China para a Huawei", advertiu o analista da Bernstein, Stacy Rasgon.

O tarifaço do governo Trump está doendo no bolso das empresas de chips. A Nvdia já fala de um prejuízo de US$ 5,5 bilhões após Washington restringir as exportações de seu processador de IA desenvolvido especialmente para a China, enquanto a gigante holandesa de ferramentas para fabricação de chips ASML levantou dúvidas sobre suas perspectivas.
A restrição americana, que também atingiu o processador MI308 da Advanced Micro Devices (AMD), marcou o mais recente golpe para o mercado de chips de IA, que está perdendo força após uma recuperação de dois anos, com ameaças tarifárias e preocupações com os gastos das Big Techs pesando sobre o sentimento do mercado. Na prática, as ações da Nvidia caíram 6,3% no pré-mercado dos EUA, com a empresa devendo perder mais de US$ 160 bilhões em valor de mercado. Já as ações da AMD caíram 6,6% após alertar sobre um impacto de US$ 800 milhões com a última restrição, enquanto outras ações de chips relacionadas à IA, incluindo Arm, Broadcom, Marvell Technology e Micron, que recuaram entre 3,5% e 4,6%.
“A parcela do H20, da Nvidia, foi de cerca de US$ 12 bilhões (da receita total da China), aproximadamente 30 centavos de lucro por ação, o que não é trivial”, disse Stacy Rasgon, analista da Bernstein.”O desempenho do H20 é baixo, bem abaixo das alternativas chinesas já disponíveis; uma proibição basicamente entrega o mercado chinês de IA à Huawei”, pontua o analista.
O desabamento das ações surpreenderam, depois de uma subida de quase 18% na semana passada. A própria Nvdia anunciou investimentos para construir servidores de IA avaliados em até US$ 500 bilhões nos EUA nos próximos quatro anos. Mas Trump já disse que vão vir taxas específicas para o setor de semicondutores. Tais tarifas podem custar aos fabricantes de equipamentos de semicondutores dos EUA mais de US$ 1 bilhão por ano, informou a Reuters.
Efeito dominó
A notícia da mais recente restrição às exportações da Nvidia provocou uma onda de vendas de fabricantes de chips e seus fornecedores em todo o mundo. Na Coreia do Sul, a Samsung fechou em queda de cerca de 3%, enquanto a SK Hynix fechou em queda de 4%. As fabricantes europeias de chips ASM International e Infineon Technologies caíram quase 2%, enquanto a fabricante japonesa de equipamentos de teste de chips Advantest – fornecedora da Nvidia – teve o segundo pior desempenho do Nikkei, com uma queda de 5%.
Ainda assim, alguns analistas afirmaram que as vendas gerais da Nvidia continuaram a crescer, mesmo com a desaceleração da contribuição da China e a forte demanda por chips por parte de grandes empresas de nuvem.
“Embora reconheçamos o provável impacto nos números de curto prazo, gostaríamos de enfatizar que as remessas da Blackwell para as hiperescalers continuam sendo o motor dos fundamentos”, disseram analistas da TD Cowen, referindo-se à mais recente linha de sistemas de IA da Nvidia.
Enquanto isso..
A China está seguindo um caminho diferente. Em um comunicado divulgado na semana passada, uma associação comercial estatal chinesa emitiu diretrizes que isentariam uma parcela significativa de chips avançados das tarifas chinesas sobre os Estados Unidos. A razão, segundo especialistas, é que a China reconhece sua necessidade desses chips e não quer que sua guerra comercial com os Estados Unidos atrapalhe o acesso a eles.
O resultado é que muitos chips avançados projetados por empresas americanas como Nvidia, Apple, Qualcomm e AMD, mas fabricados em Taiwan, não estarão sujeitos às tarifas chinesas. Empresas americanas podem acabar ficando com os chips e, em seguida, vendê-los para empresas chinesas, mas, para fins tarifários, a China não considerará tais chips como originários dos Estados Unidos.
Essa é uma mudança em relação à política comercial típica. Os Estados Unidos e outros países geralmente consideram que os chips foram fabricados no país onde passam por um estágio posterior do processo de produção conhecido como embalagem. A China considerará o local onde os circuitos foram gravados em minúsculas peças de silício como o local de fabricação de um chip.
Tanto Trump quanto seu antecessor, Joseph R. Biden Jr., têm tentado persuadir a TSMC e outras fabricantes de chips estrangeiras a produzir mais chips nos Estados Unidos. Biden atraiu empresas com subsídios federais, enquanto Trump tenta usar a ameaça de tarifas para coagir as empresas a fazerem grandes investimentos.
He Hui, diretor de pesquisa de semicondutores da Omdia, avalia que a abordagem da China também pode beneficiar as próprias fabricantes de chips do país, como a Semiconductor Manufacturing International Corporation.