Opinião

NPUs: o cérebro da nova era da inteligência artificial

Estamos testemunhando o nascimento de uma nova camada da computação pessoal, que não depende mais de promessas futuristas nem da boa vontade da nuvem. A IA deixou de ser uma abstração para se tornar algo local, direto e imediato. E a NPU é o chip que torna isso possível.

Por Cinthya Ermoso*

Enquanto muita gente ainda discute se a inteligência artificial vai “substituir empregos” ou “dominar o mundo”, a verdadeira revolução tecnológica já está em curso — e passando despercebida. Não está nos laboratórios de grandes empresas, nem restrita a servidores em nuvens distantes. Está na palma da nossa mão, embutida em dispositivos que usamos todos os dias, transformando silenciosamente a forma como interagimos com a tecnologia. A protagonista dessa virada tem nome e sigla pouco conhecida fora dos círculos técnicos: NPU, ou Neural Processing Unit. É ela que tem redefinido o significado de ter inteligência artificial no cotidiano. Com respostas instantâneas. Sem precisar da internet. Com mais privacidade e muito menos consumo de energia.

Estamos testemunhando o nascimento de uma nova camada da computação pessoal, que não depende mais de promessas futuristas nem da boa vontade da nuvem. A IA deixou de ser uma abstração para se tornar algo local, direto e imediato. E a NPU é o chip que torna isso possível.

As Unidades de Processamento Neural (do inglês Neural Processing Units) vêm assumindo um papel cada vez mais estratégico na evolução da computação. Trata-se de microprocessadores especializados, projetados para executar tarefas de IA com velocidade, precisão e consumo energético muito mais eficiente. Inspiradas na arquitetura do cérebro humano, as NPUs representam o próximo grande salto tecnológico. Podemos compará-las ao que as GPUs (Graphics Processing Units) representaram na década passada.

Enquanto as CPUs (Central Processing Units) seguem como processadores versáteis e as GPUs revolucionaram o processamento paralelo para gráficos e jogos, as NPUs chegam com uma missão específica: proporcionar um ambiente otimizado para que a IA opere diretamente nos dispositivos, o que dispensa a dependência constante da nuvem ou de servidores remotos. O impacto disso é profundo. Representa mais privacidade, menos latência, menor consumo de energia e uma experiência de uso significativamente mais fluida.


Essa transformação já é realidade. Em notebooks, por exemplo, as NPUs viabilizam recursos como tradução em tempo real, reconhecimento de voz, aprimoramento de videoconferências e autenticação biométrica com inteligência. Tudo processado localmente, mesmo sem conexão à internet. O dispositivo deixa de ser apenas um terminal de acesso e passa a ser um agente inteligente — capaz de compreender, aprender e agir em tempo real.

Os números confirmam a tendência: só em 2024, mais de 150 mil computadores com NPUs otimizadas para IA generativa foram vendidos no Brasil no segmento B2C, e essa curva de crescimento tende a se acelerar. Já existem chips no mercado capazes de realizar mais de 11 trilhões de operações por segundo (TOPS). Um desempenho que até pouco tempo atrás era reservado a data centers de grande porte.

É importante destacar que as GPUs continuam fundamentais, especialmente para o treinamento de modelos complexos em larga escala. Mas no dia a dia, quem de fato conduz a transformação da IA em algo pessoal e presente são as NPUs. Projetadas para a etapa de inferência (ou seja, a aplicação prática dos modelos já treinados), essas unidades oferecem respostas instantâneas com um consumo mínimo de energia. Isso as torna ideais para notebooks, smartphones e dispositivos conectados da Internet das Coisas (IoT).

Estamos, portanto, diante do início de uma nova era na computação pessoal. A inteligência artificial não é mais uma abstração restrita a laboratórios ou ao universo corporativo. Ela está nas nossas mãos, embarcada em dispositivos que aprendem conosco e tornam nossas rotinas mais ágeis, intuitivas e eficientes. Ainda há quem enxergue a IA como uma moda passageira. Mas a realidade é que ela já está no nosso bolso, na nossa mochila, no nosso próximo notebook. E quem sustenta esse avanço são chips silenciosos, mas extraordinariamente potentes.

As NPUs são mais do que um avanço técnico. Elas são a peça que faltava para que a inteligência artificial deixasse de ser uma promessa remota e se tornasse parte estrutural da nossa experiência digital diária. Elas consolidam uma virada de paradigma: da IA remota e dependente de servidores para uma IA pessoal, localizada e responsiva. Estamos entrando em uma era em que a inteligência não estará mais “na nuvem”, mas no bolso, no pulso, na rotina de cada pessoa. Ignorar essa transição é mais do que perder uma tendência. É abrir mão de competitividade, relevância e visão de futuro. A tecnologia não para de mudar e quem esperar para acompanhá-la, já terá ficado para trás.

(*) Cinthya Ermoso é gerente de Novos Produtos da Positivo Tecnologia.

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