Tarifaço Trump: compartilhe as dores com fornecedores para salvar o supply chain
“É fundamental discutir o redirecionamento de origem dos produtos e revisar os modelos de precificação com os clientes", afirma o diretor de consultoria estratégica da Kearney, Rafael Bastos.

Em participação no SAP NOW AI TOUR 2025, o diretor da consultoria estratégica da Kearney, Rafael Bastos, advertiu para os efeitos em cascata da guerra tarifária iniciada pelos Estados Unidos. De acordo com o especialista, a imposição de tarifas a mercados globais acentuou de forma drástica a instabilidade econômica, afetando diretamente cadeias de suprimentos em todo o mundo. “Nem a pandemia do Covid gerou incerteza como as que vemos hoje. A resposta imediata é a desaceleração no crescimento e dos investimentos”, afirmou Bastos durante sua apresentação.
Dados da própria Kearney revelam que o índice de incerteza econômica global, monitorado pela consultoria, ultrapassou os 800 pontos no início do segundo trimestre de 2025, quando as primeiras altas nas tarifas passaram a valer. Para efeito de comparação, em 2020, no auge da pandemia de COVID-19, esse índice se manteve em torno de 500 pontos. A disparada atual reflete não apenas o impacto comercial direto, mas também a insegurança gerada em torno de decisões políticas e econômicas globais.
Bastos destacou que os efeitos não se restringem à economia. A resposta internacional, o risco da dívida pública, a inflação persistente, a resiliência do sistema financeiro, além do comportamento dos consumidores, estão todos sob pressão. “Tudo isso impactará também as decisões e o apoio dos eleitores norte-americanos nas eleições de 2026”, observou o diretor, reforçando que o ambiente de incerteza se estende ao campo geopolítico e social.
Diante desse cenário volátil, a Kearney recomenda que empresas atuem em diferentes frentes estratégicas. Bastos apontou que o momento exige tanto respostas imediatas quanto planos estruturais de médio prazo. “É fundamental compartilhar dores com fornecedores, discutir o redirecionamento de origem dos produtos e revisar os modelos de precificação com os clientes”, afirmou, acrescentando que essas conversas não podem ser adiadas.
Para o médio prazo, as alternativas passam por reconfigurar cadeias produtivas, buscar regiões menos afetadas por tarifas, revisar o design de produtos para minimizar exposição tarifária e formar coalizões do setor para pleitear isenções. A depender do rumo que as negociações internacionais tomarem, os resultados podem variar entre uma recuperação econômica baseada em acordos comerciais ou um mergulho em recessão com desemprego histórico.