Infância segura no ambiente digital: regulação, filtros e letramento
A 'adultização' escancara a soma de três grandes ausências: regulamentação efetiva das redes, ferramentas de proteção ativas e educação digital crítica.

Por Laerte Magalhães*
O vídeo “Adultização”, do youtuber Felca, viralizou e expôs um problema que há muito tempo cresce no silêncio: crianças estão vulneráveis no ambiente digital. Em poucos dias, a denúncia mostrou como algoritmos e falhas nas plataformas podem facilitar a aproximação entre predadores e vítimas. Mais do que um choque momentâneo, o caso escancara a soma de três grandes ausências: regulamentação efetiva das redes, ferramentas de proteção ativas e educação digital crítica.
Ter internet não significa estar seguro. A exploração sexual de menores, a exposição indevida de imagens e a adultização precoce são sintomas de uma lacuna que não se resolve apenas com mais conexão. É preciso que as plataformas adotem mecanismos rigorosos de verificação de idade, moderação e restrição de conteúdo; que famílias acompanhem e orientem o uso; e que políticas públicas incluam segurança e cidadania digital desde a alfabetização.
O letramento digital — a capacidade de interpretar, avaliar e agir com consciência no ambiente online — é parte essencial dessa equação. Ensinar crianças e adolescentes a reconhecer riscos, identificar manipulações e reagir de forma segura complementa outras medidas, como a implantação de filtros de conteúdo e controles parentais. Mas, isoladamente, não é suficiente.
Uma estratégia eficaz para proteção infantil online combina dois eixos complementares: oferecer internet segura para escolas públicas, com filtros que bloqueiem conteúdos inapropriados, e promover práticas de letramento digital que preparem professores e alunos para um uso responsável e protegido da tecnologia. Essa integração entre infraestrutura, proteção e educação é fundamental para criar um ambiente digital saudável.
Se quisermos de fato proteger nossas crianças, precisamos agir em três frentes simultaneamente:
- Regulação e responsabilização das plataformas — com regras claras de moderação, verificação etária e penalidades por negligência.
- Ferramentas de proteção — como filtros de conteúdo e controles parentais, aplicados tanto em casa quanto nas escolas.
- Educação digital — incorporando segurança, privacidade e ética digital ao currículo desde os primeiros anos.
O caso que mobilizou o país mostra que a sociedade está pronta para discutir o tema com a urgência que ele exige. Agora, é hora de transformar indignação em ação, unindo tecnologia, políticas públicas e educação para que nossas crianças cresçam livres, criativas e protegidas.
Porque inclusão digital sem proteção e preparo é como entregar um mapa sem indicar onde estão os perigos.
*Laerte Magalhães é fundador e CEO da Nuhdigital, operadora focada em conexão de equipamentos públicos.