
A Basf vem expandindo o uso de inteligência artificial em suas operações no mundo. A companhia, que inicialmente concentrava seus esforços em machine learning para áreas como marketing, vendas, supply chain e processos produtivos, expandiu o escopo para grandes modelos de linguagem (LLMs), visão computacional e IA generativa, criando uma área dedicada a explorar o potencial dessas tecnologias e incentivando a colaboração entre seus colaboradores para idealizar novas aplicações.
Em entrevista à Convergência Digital, Wagner Kool, líder de transformação digital da Basf, explicou que o avanço da implantação de inteligência artificial é percebido inclusive pelo perfil das pessoas envolvidas. “A inteligência artificial generativa trouxe uma certa democratização do tema, temos uma tecnologia que é conversacional e não precisa ser o rei da tecnologia para tirar proveito”, assinalou.
Em 2022, Edson Akiyama, diretor de customer enabling na Basf na América do Sul, já havia relatado ao Convergência Digital que, na América do Sul, a Basf promoveu o desenvolvimento de uma cultura para inspirar as pessoas por meio de transformação de mentalidade, capacitação e, depois, um programa de empreendedorismo para aplicação da IA no dia a dia. O objetivo era fazer com que os funcionários entendessem a inteligência artificial, seu potencial e buscassem casos de uso de projetos nos quais a IA poderia ser adotada.
“A gente adotou um passo a passo para colocar as pessoas a bordo disso”, lembrou Wagner Kool, detalhando que o primeiro passo teve como base muita comunicação do que é a IA e do porque é relevante ter cuidados para manejá-la. “A gente sabia que explicando ou não as pessoas iriam usar IA e seria irresistível levar para dentro da companhia, mas não queríamos que pessoas usassem ferramenta que está do lado de fora do firewall. Fizemos um trabalho grande de conscientização em 2023”, apontou Kool.
Jornada do conhecimento
Na América do Sul, a estratégia de adoção da IA segue uma jornada de três etapas. A primeira é desmistificar o conceito utilizando palestras, treinamentos e workshops. A segunda passa pela criação de ambientes seguros para experimentação, com plataformas de teste e comunidades internas que permitem aos colaboradores explorarem a IA sem risco de expor dados confidenciais da empresa. No fim de 2023, mais de 7 mil funcionários em todo o mundo já participavam de discussões tirando dúvidas, aprendendo e ensinando sobre potenciais usos de IA na companhia por meio das comunidades. E a terceira etapa concentra-se na aplicação da tecnologia em problemas de negócio relevantes.
A Basf está posicionando a inteligência artificial como um elemento crucial de sua nova estratégia global, anunciada em setembro de 2024. Os exemplos são vastos e vão de uma versão interna do ChatGPT, o chatBASF, pelo qual os funcionários podiam fazer perguntas, ajudando-os nas tarefas diárias, até projetos mais ambiciosos como recomendações agronômicas e monitoramento climático via IA; drones com IA para detecção de plantas daninhas e áreas de baixo rendimento, reduzindo defensivos e previsão de janelas de aplicação de fungicidas para maximizar eficiência.
“Quando o chatGPT ficou febre geral, a gente tem uma área na Alemanha de inovação que viu que fez campanha de ideação e recebeu muitas ideias, testou e viu o poderia ser escalado”, contou líder de transformação digital da Basf. daí surgiu a ferramenta plantGPT, que é um LLM treinado com dados da planta produtiva dos Estados Unidos para segurança de processos. Isso foi em 2024.
O plantGPT funciona como um assistente digital da Basf para plantas de produção e tem um chatbot especializado, inspirado no ChatGPT, mas desenvolvido para operações industriais. Ele atua como copiloto para operadores de plantas de produção, respondendo perguntas e oferecendo orientações técnicas, ajudando a acelerar e otimizar o trabalho diário, especialmente nas salas de controle e facilitando o onboarding de novos colaboradores, tornando o processo mais rápido e eficiente.
O robô de inteligência artificial generativa foi treinado com cerca de 800 documentos, incluindo manuais de engenharia, materiais de treinamento e informações coletadas das equipes de turno. Em situações de operação anormal ou dúvidas, o plantGPT fornece orientações imediatas para solução de problemas, sugestões para otimização do consumo de energia e recomendações para evitar paradas não planejadas.
“Somos uma empresa que gosta dos dados”, ressalta Wagner Kool.
No Brasil, a IA foi utilizada para aprimorar a eficiência no tratamento de efluentes na planta industrial de Guaratinguetá (SP), a maior da empresa no continente. A melhora acontece na eficiência operacional, permitindo a tomada de decisão em tempo real. Antes da solução, ela variava de acordo com cada situação. Com o uso da IA foi possível considerar 87 parâmetros de monitoramento — antes, apenas 15% desses critérios eram possíveis de serem identificados pelo trabalho exclusivamente humano.
A fábrica também conta com mais de 150 câmeras que operam 24 horas por dia. Dada a complexidade de um ambiente fabril, a equipe de digitalização para produção e tecnologia desenvolveu uma solução baseada em inteligência artificial que detecta a movimentação de pessoas em locais não autorizados, o uso de EPIs e sinais de fumaça, além de realizar esse monitoramento em câmeras rotativas (360 graus) para otimizar a vigilância. Tudo isso integrado ao sistema de segurança atual, assegurando que apenas as imagens com atividade relevante sejam exibidas e, assim, elevando a eficácia das operações de segurança.
Ao avaliar os projetos de IA como um todo, o líder de transformação digital disse que avalia o que está acontecendo como um ganho de produtividade individual. “Com o uso de ferramentas com interface conversacional, você reduz e-mails, ligações, Teams. Um exemplo bobo, mas que fala demais é que fazemos muitos treinamentos e uma secretária me ligou contando que fez um agente para ajudar ela a responder as perguntas mais feitas para ela — antes eram mensagens pipocando o dia todo”, contou.
A partir do compartilhamento de conhecimento, os funcionários estão empreendendo jornadas de inteligência artificial, vislumbrando possibilidades e despertando aplicações em todos os campos. Do lado de projetos, várias provas de conceito estão em andamento.
E mais: isso tudo ocorre enquanto mantém projetos mais clássicos como o uso de big data e IA para melhorar a experiência do cliente, antecipando demandas futuras e personalizando o atendimento. Uma dessas iniciativas é o “Early Warning”, uma ferramenta inteligente para monitoramento de alterações nos processos de importação. Ela detecta potenciais atrasos, estima os impactos no estoque e incorpora um modelo preditivo para antecipar riscos.
Adoção de longa data
O uso da inteligência artificial na multinacional alemã maior produtora de produtos químicos do mundo teve início, mais ou menos, em 2015 pela área de supply chain dentro de um movimento global. Mais de uma década depois, a companhia segue investindo em inteligência artificial e expõe uma adoção abrangente.
Na América do Sul, a inteligência artificial (IA) respalda o desenvolvimento de produtos e serviços. Um exemplo citado por Akiyama, em 2022, foi o uso de IA no dispositivo desenvolvido pela startup Noar, que emite cheiro seco com fragrâncias com apoio do aplicativo B-Scent, e o mapeamento digital de plantas daninhas, levando à redução do consumo de herbicidas no controle de plantas daninhas resistentes e de difícil controle.
Desde então, os casos de uso na produção aumentaram. Na agricultura digital, por exemplo, o xarvio Digital Farming provém recomendações agronômicas e monitoramento climático via IA. também usa drones com IA para detecção de plantas daninhas e áreas de baixo rendimento, reduzindo defensivos e faz a previsão de janelas de aplicação de fungicidas para maximizar a eficiência. A inteligência artificial é tratada como pilar dentro estratégia global anunciada há um ano, em setembro de 2024, com foco em automação, chatbots industriais, precificação preditiva, transparência na cadeia de suprimentos e personalização de serviços.