Pix como garantia deve funcionar tal como antecipação de recebíveis de cartão de crédito
"Enquanto o Pix automático e o Pix parcelado focam na experiência do cliente, o Pix como garantia é para o lado do vendedor, porque vai permitir que pagamentos futuros sejam usados como garantia de crédito”, explicou Jonatas Giovinazzo, diretor-presidente da Init.

À semelhança da antecipação de recebíveis usando valores como vendas a prazo em cartão de crédito, o Pix como garantia aparece como alternativa para empresas obterem linhas de financiamento dando como garantia valores futuros a serem pagos no Pix. Funciona também como uma resposta ao sistema de pagamentos que vê crescer a fatia paga com Pix. A modalidade ainda não tem data para entrar em operação.
Um dos desenhos que se faz do mecanismo do Pix como garantia se baseia nos recebíveis do tomador da operação de crédito, que dará a previsão do quanto receberá em Pix para obter uma linha de crédito. À medida que o tomador receba os pagamentos, uma parte poderia ser destinada para uma conta em benefício da instituição financeira que concedeu crédito e outra para livre movimentação.
“O Pix parcelado, que deve ser lançado até fim do ano, vai permitir fracionar o pagamento em parcelas, algo similar ao cartão de crédito e o Pix como garantia, ainda sem data definida, tem potencial grande também. Enquanto o Pix automático e o Pix parcelado focam na experiência do cliente, o Pix como garantia é para o lado do vendedor, porque vai permitir que pagamentos futuros sejam usados como garantia de crédito”, explicou Jonatas Giovinazzo, diretor-presidente da Init, ao abrir painel que debateu o tema no Fintouch 2025. A Init é a Associação dos Iniciadores de Transação de Pagamento.
Na visão de negócios, o Pix como garantia tem passos importantes para escalar, incluindo contar com estrutura de registro bem definida, uma clara interoperabilidade que funciona de forma qualificada, conforme apontou Marcos Cavagnoli, diretor de produtos digitais no Bradesco.
Ele levantou questões importantes, tais como o que poderá ser qualificado para ser dado como garantia; como será feito o registro da garantia; como se dará a interoperabilidade e quais serão os custos dela; como será a execução da garantia de forma a ser 100% segura e rápida de exclusão, além da preocupação de segurança.
“A força de uma corrente são os elos e temos de garantir que todos os elos estejam trabalhando com segurança. O potencial de negócio tem uma escala forte e é algo que o mercado demanda; créditos mais rápidos sempre são bem-vindos para PJ”, disse Cavagnoli.
O mercado vislumbra que teria de haver alterações no manual do Pix para prever o produto do Pix como garantia, permitindo que o prestador de serviço de pagamento do tomador registre a garantia e que outra instituição possa consultar para saber se o estabelecimento concedeu o mesmo como garantia para outro — e evitar duplicações. A instituição financeira concedeu o crédito tomando o Pix como garantia também seria obrigada a registrar a garantia em algum lugar para ter unicidade do registro e evitar disputas. O local em tese deveria ser apontado pelo Banco Central.
“Ainda não tem data prevista porque têm muitos desafios para, de fato, ser um produto operacional”, reconheceu Jonatas Giovinazzo.
Adriana Ferreira,responsável por assuntos regulatórios e relação governamental da Stone, acrescentou que, apesar de o Pix ser lançado com desenho orientado para transferências, na prática, ele expandiu sua atuação. “O que observamos no varejo foi uma expressiva adesão de forma que o QR code é amplamente exibido pelos comerciantes. Este cenário despertou o mercado: por que o que temos hoje de recebíveis de cartão não poderia ser estendido para Pix? Hoje existem desafios na concessão de crédito principalmente para pequenos e um dos desafios é justamente com relação à garantia”, analisou a especialista.
Atualmente, o recebimento em Pix aumentou consideravelmente. “O pix como garantia surge para que parte do fluxo do lojista seja usado para amortizar a operação de crédito. Sabemos que o BC deixou isso para 2026 e o que temos debatido internamente é pensar no uso da infraestrutura de [base de endereçamento] DICT. Nós, como credenciadoras, acreditamos muito no potencial destes recebíveis como garantia de operação, você agrega segurança jurídica tão forte que no fim do dia tem potencial de reduzir custo para o varejista. Desafio é pensar no melhor desenho”, acrescentou Ferreira.
De fato, como assinalado por Mariana de Vasconcellos, diretora-jurídica da PagaLeve, usar o fluxo de caixa não é novidade, porque já foi feito com cartão de crédito, sendo necessário estruturar os recebíveis em Pix para o lojista se aproveitar deste crédito. “O desafio é como fazer isso em grande escala. Estruturar os recebíveis vai dar acesso a crédito rápido, barato e eficaz. Mas tem de existir um lastro para garantir que a operação exista”, frisou Vasconcellos.
Marcos Cavagnoli, do Bradesco, disse que o banco enxerga um pleno potencial, até porque se observa a migração das vendas no cartão de crédito para o Pix. “Não vejo apenas como potencial, mas como necessidade, porque o Pix pegou pedaço de outros rails”, assinalou Cavagnoli. “Para o comerciante o tema é urgente, porque ele deixou de ter este recebível no cartão”, concordou Giovinazzo.
No fim do dia, a opção de Pix como garantia pode levar à redução do custo do crédito e à ampliação da concessão. Mas, apesar de existir mercado em potencial, as instituições financeiras só vão embarcar nessa quando tiver segurança regulatória. “Os principais riscos são aqueles que se encontravam nas transações de cartão de crédito, que é como vou ter lastro. É preciso estruturar a governança para não ter transações duplicadas”, ressaltou Vasconcellos.