Brasil em encruzilhada: estamos preparados para ser AI First?
A inteligência artificial acelera mudanças e impõe uma escolha estratégica. O fracasso não é uma opção: precisamos estar preparados para assumir o protagonismo nessa nova onda de crescimento.

Por Rodolfo Fücher*
Vivemos um momento decisivo para a economia digital. A IA deixou de ser acessório para se tornar o centro de gravidade das estratégias corporativas. O conceito de Empresas AI First já não é mais tendência, mas realidade: trata-se de estruturar processos, modelos de negócio e competências a partir da IA como motor principal de inovação e competitividade.
Mas para o Brasil ser efetivamente AI First, é preciso encarar uma verdade incômoda: cerca de 60% dos dados produzidos no país ainda são processados fora dele. Em um cenário onde a IA depende de infraestrutura massiva de dados, a autossuficiência digital passa a ser condição estratégica para a soberania e a competitividade brasileira.
Os números reforçam a urgência. O mercado brasileiro de TI movimentou US$ 58,6 bilhões em 2024, crescimento de 13,9% em relação ao ano anterior, acima da média global. Para 2025, projeta-se expansão de 9,5%, consolidando o Brasil como um dos dez maiores mercados mundiais e líder na América Latina. Esse dinamismo encontra sustentação na transformação digital em larga escala, onde agentes de IA já ocupam espaço estratégico em setores críticos — do varejo à saúde, do agronegócio às finanças.
Contudo, a infraestrutura precisa acompanhar esse ritmo. Com o avanço da IA, a tendência é que o dimensionamento de Data Centers no Brasil dobre nos próximos cinco anos. Nos Estados Unidos, a expectativa é quase triplicar no mesmo período. Nesse contexto, a recente Medida Provisória conhecida como REDATA é um passo importante.
Mas precisamos de muito mais: uma estratégia nacional que assegure a autossuficiência em Data Centers, conectando não apenas questões tributárias, mas também investimentos pesados na malha de transmissão energética e em toda a infraestrutura de telecomunicações. Sem isso, não haverá bases sólidas para sustentar nossa autonomia digital. A virada também exige uma reconfiguração profunda no capital humano…
Rodolfo Fücher é vice-presidente do Conselho da ABES