Carreira

Negociação entre patrões e empregados de TI em São Paulo emperra e não há acordo

Dirigentes do Sindpd, que representa os trabalhadores de TI do Estado de São Paulo, e do Seprosp, que reúne o setor patronal, voltaram a se encontrar nesta terça-feira, 24/01, para a terceira rodada de negociações da Campanha Salarial 2017.

A reunião, no entanto, terminou sem nenhum tipo de acordo, já que a comissão patronal manteve na mesa praticamente a mesma proposta salarial que havia sido feita na rodada anterior. Além de não avançarem na oferta de reajuste, os patrões chegaram a recuar em pontos que já haviam sido acertados nos encontros anteriores, demonstrando com isso uma tentativa clara de dificultar a negociação deste ano.

Em relação à oferta salarial, a comissão do Seprosp apresentou nesta rodada uma proposta de 4% de reajuste acrescida de mais 18% de abono a ser pago em outubro. O percentual sugerido foi o mesmo da segunda rodada – a única diferença foi no abono, cuja oferta foi elevada de 15% para 18%. Com isso, a proposta permaneceu muito distante da inflação de 2016, que fechou em 6,58%, de acordo com o INPC.

O Sindicato dos trabalhadores manteve na mesa a reivindicação de 8,58%, resultado da correção integral do INPC de 2016 e mais 2% de aumento real. “Nós só começamos a conversar com a garantia de correção da inflação mais aumento real. Recuperar [as perdas da] inflação é muito importante para nós. Abono pode ser importante para vocês, mas para nós não serve”, afirmou o presidente do Sindpd, Antonio Neto.

Recuo inesperado


Se não houve consenso na parte salarial, a terceira rodada apresentou, de acordo com os trabalhadores, uma situação inesperada. A comissão do Seprosp recuou até mesmo em um ponto que já havia sido acertado no encontro anterior.

Na segunda rodada, ocorrida na última quinta-feira (19), o Seprosp havia aceitado ampliar o percentual de reembolso do auxílio-creche, que hoje é de 40% para filhos com até 24 meses de idade e de 30% para os que têm de 24 a 60 meses. Pela oferta que havia sido feita pelo setor patronal, as duas faixas de reembolso seriam igualadas em 40%.

Nesta terça-feira, no entanto, a comissão do Seprosp recuou e decidiu manter os percentuais atuais. Isso ocorreu logo depois que os patrões ofertaram um reajuste do piso salarial administrativo para R$ 1.141. No argumento da comissão patronal, como o auxílio-creche é calculado pelo salário-base, o aumento do piso inviabilizaria a elevação do percentual do benefício.

A comissão patronal também voltou a apresentar à mesa a sua pauta retrógrada, que prevê a retirada de uma série de direitos dos trabalhadores de TI. Isso inclui a redução no valor da multa que é paga pelas empresas em caso de atrasos de salários, a cobrança de valores complementares nos planos de saúde, retrocessos em relação às negociações de PLR (Participação nos Lucros e/ou Resultados) e até mesmo cortes relacionados ao vale-refeição.

No caso do VR, os patrões ofereceram um vale de R$ 17,50 ao dia apenas para trabalhadores com carga horária de oito horas de trabalho. O Sindpd pressiona para que os valores sejam corrigidos para R$ 20 para quem trabalha mais de seis horas por dia e R$ 18 para os que cumprem carga de até seis horas/dia.

Próxima rodada

Após ouvir as ofertas do setor patronal, o presidente do Sindpd deixou claro o seu descontentamento e foi enfático ao criticar as tentativas de retirada de direitos. “Não tenho nem contrapropostas para apresentar hoje, pois com tudo isso que vocês estão propondo, fica claro que a tentativa é de piorar a nossa Convenção Coletiva”, disse Neto. “Não está nada legal o rumo que essa negociação está tomando”, salientou.

A quarta rodada foi marcada para a próxima quarta-feira (01/02), às 15h, na sede do Seprosp. “Esperamos que até lá a comissão patronal reflita e volte para a mesa com propostas reais, pois o que vimos até agora foram tentativas de acirrar os ânimos, e não de valorizar a categoria. Os trabalhadores são a maior riqueza do nosso setor e não merecem ser tratados dessa forma. Não vamos recuar”, completou Neto.

Principais demandas do Sindpd:

– Reajuste salarial de 8,58% (INPC de 2016 mais 2% de aumento real);

– Redução da jornada de trabalho para 30 horas semanais sem diminuição de salários;

– Pagamento de vale-alimentação;

– Vale-refeição de R$ 20 para jornada superior a 6h/dia e R$ 18 para até 6h/dia.

– Pagamento integral de plano médico, hoje custeado em 70% pelos trabalhadores;

– Auxílio-creche de 50% para crianças de até 72 meses;

– Hora extra de 100% nas duas primeiras horas e 150% nas demais e finais de semana;

– Licença-maternidade obrigatória de 180 dias;

– Seguro de vida equivalente a 30 pisos salariais;

– Garantia de reembolso de km para trabalhadores que usam os próprios veículos;

– Pagamento de vale-cultura;

– Custeio de bolsa de estudo para qualificação profissional.

 O que propôs o Seprosp:

– Reajuste salarial de 4% acrescido de abono de 18% pago em outubro;

– Vale-refeição de R$ 17,50;

– Manutenção da jornada de trabalho em 40 horas semanais;

– Redução da multa para empresas que atrasam salários;

– Desobrigação de continuidade da PLR para empresas que já pagam o benefício;

– Desconto do vale-refeição em caso de faltas ou ausências dos trabalhadores;

– Cobrança de coparticipação em planos de saúde e também dos procedimentos;

– Rejeição a todas as demais propostas feitas pelo Sindpd.

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