Internet

Coleta desenfreada de dados, desinformação e propaganda enganosa ameaçam a Internet

Ao lembrar o 28º aniversário da proposta de criação da World Wide Web, neste domingo 12/03, seu criador, Tim Berners-Lee, elencou três tendências que, acredita, são ameaças para o futuro da rede: a coleta desenfreada de dados, as notícias falsas e as propagandas políticas enganosas. 

“Imaginei [a web] como uma plataforma aberta, permitindo que qualquer um, onde quer que estivesse, pudesse compartilhar informações, acessar oportunidades e colaborar entre fronteiras geográficas e culturais. Nos últimos 12 meses, contudo, tenho estado cada vez mais preocupado com três novas tendências, que acredito que devemos combater para que a web possa alcançar seu verdadeiro potencial como ferramenta a serviço de toda a humanidade”, diz Berners-Lee em carta. 

O primeiro problema, alerta o ‘pai’ da web, é que perdemos controle o sobre nossos dados pessoais. “Quando nossos dados são armazenados em espaços particulares, longe de nosso alcance, perdemos as benesses que poderíamos ter caso tivéssemos controle direto sobre os dados e escolhêssemos quando e com quem gostaríamos de compartilhá-los”, diz Berners-Lee

Segundo ele, “a coleta disseminada de dados por empresas também apresenta outros impactos. Em colaboração – ou coerção – com empresas, os governos passaram a observar todos os nossos movimentos online, e aprovaram leis extremas que atropelam nossos direitos à privacidade (…). Mesmo nos países em que acreditamos que os governos trabalham em prol de seus cidadãos, vigiar todas as pessoas o tempo todo está indo longe demais.”

A segunda ameaça, explica, é que “é muito fácil difundir desinformações na web”. Como ressaltou, muitas pessoas se valem “de um punhado de sites e mídias sociais e mecanismos de busca” para se informar. Mas como clicar em links apresentados é também uma forma de monetização, há incentivos para mostrar tendências específicas. 


“O resultado é que esses sites nos mostram conteúdo que acreditam que nós vamos querer clicar – o que significa que desinformação ou “notícias falsas”, que têm títulos surpreendentes, chocantes, criados para apelar aos nossos preconceitos, podem se espalhar como fogo. Pelo uso da ciência de dados e de exércitos de bots, pessoas com más intenções podem jogar com o sistema para disseminar desinformação para ganhos financeiros ou políticos.”

Finalmente, o ‘pai’ da web lembra que a propaganda política também se sofisticou, com o uso de algoritmos e ‘tanques de dados pessoais’, capazes de adotar campanhas sob medida para cada eleitor, mesmo que isso signifique disseminar versões diferentes de informações. 

“Uma fonte sugere que nas eleições de 2016 nos Estados Unidos, mais de 50 mil variações de anúncios foram lançadas diariamente no Facebook, uma situação quase impossível de se monitorar. E suspeita-se que alguns anúncios políticos – nos Estados Unidos e pelo mundo – estão sendo usados de maneira antiética para conduzir eleitores para sites de notícias falsas, por exemplo, ou para manter pessoas longe das pesquisas eleitorais. Anúncios direcionados permitem que uma mesma campanha lance informações diferentes e possivelmente contraditórias para grupos diferentes. Isso é democrático?”, provoca Berners-Lee. 

As soluções não serão simples, reconhece. Ainda assim, ele aponta o que podem ser caminhos para enfrentar essas três ameaças. “Precisamos trabalhar junto com empresas da web para estabelecer um equilíbrio que coloque o controle de uma quantidade considerável de dados de volta às mãos das pessoas”, inclusive, “explorar modelos alternativos de receita, como assinaturas e micropagamentos”.

Berners-Lee também lembra que é preciso “lutar contra o alcance excessivo de dados por governos através de leis de vigilância”. “Precisamos nos opor às desinformações, incentivando portais como Google e Facebook a continuarem se esforçando para combater o problema, ao mesmo tempo evitando a criação de centrais que decidam o que seria ‘verdade’ ou não”. 

Além disso, ele entende ser necessário maior transparência nos algoritmos e “talvez estabelecer um conjunto de princípios comuns a se seguir”. “Precisamos, com urgência, fechar o ‘ponto cego da internet’ na regulamentação das campanhas políticas”

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