Na reinvenção do sistema financeiro, bancos relutam em abrir suas APIs para o mercado

O Brasil tornou-se um polo global relevante no segmento de fintechs, contando com entre 250 e 300 empresas de acordo com dados das principais consultorias e entidades que monitoram o segmento como a Clay Innovation, a Finnovation e a ABFintech. As startups de finanças estão divididas em cerca de dez categorias que incluem empréstimos, cartões, contas digitais, recuperação de crédito, seguros, investimentos e gestão financeira, entre outros segmentos. E os bancos – que não gostam de ameaças – decidiram aproximar essas startups para perto das suas fronteiras.

No Ciab FEBRABAN 2017, realizado de 06 a 08 de junho, as fintechs tiveram brilho próprio. Um dos temas em debate foi o papel das APIs – as instruções e os padrões de programação para acesso a um aplicativo ou software – para o desenvolvimento das fintechs. As APIs são um importante instrumento de integração de negócios, mas os bancos ainda são reticentes em abrir o acesso a seus sistemas. Mas Jimmy Lui, executivo de tecnologia da Accenture, alertou que o conceito de Open Banking é o que ele classificou como um “futuro inevitável”.

“Na Europa, a abertura das APIs está sendo forçada pelos reguladores. É inevitável que os ambientes fechados dos bancos sejam abertos. Os dados não são dos bancos e sim dos clientes, que podem dar acesso a qualquer pessoa ou empresa.  Há oportunidades para produtos de comparação e agregação e serviços de nichos explorados por fintechs. Além disso, o GAFA (Google, Apple, Facebook e Amazon) fará parte do sistema financeiro. Os bancos devem estar atentos a oportunidades de novos serviços”, analisou Lui.

Paulo De Iudicibus, vice-presidente de Customer Success da Salesforce, informou que, em 2006, a empresa criou um marketplace de aplicações que já conta com 3 mil aplicações e 4 milhões de instalações. “Cerca de 50% vêm de APIs. A meta é chegarmos a 10 mil instalações até o final do ano”, sinalizou Iudicibus. Cristina Coelho de Abreu Pinna, superintendente executiva da Scopus, empresa de tecnologia do Bradesco, reconheceu que as pessoas querem serviços cada vez mais empacotados e que essa jornada do cliente exige um ecossistema expandido, complementado por startups e fintechs. Mas o banco ainda não tem uma estratégia de abertura de APIs para o mercado e sim em projetos internos. “Para o Next, o banco digital do Bradesco, há integração de parceiros como a Natura”, informou Cristina.

Já a Mastercard mantém o programa Mastercard Developers com todas as APIs abertas. Valério Murta, vice-presidente de produtos e soluções da Mastercard Brasil e Cone Sul, observou que ocorreram mais mudanças em cinco anos no segmento de meios de pagamentos do que nos últimos 50 anos: indústrias estão sendo reinventadas, barreiras de entrada estão sendo reduzidas para novos entrantes em busca de oportunidades e o consumidor está demandando novas experiências mais integradas e mais simples.


“O movimento de parceria com as fintechs é irreversível. O surgimento do negócio como plataforma e novas tecnologias como IoT, inteligência artificial, chat bots, assistentes digitais e robótica trazem novos desafios. O Mastercard Developes já tem mais de 30 serviços disponíveis, kits de desenvolvimento e mais de seis linguagens. São APIs abertas e também APIs experimentais de serviços que ainda estão em desenvolvimento” elencou Murta.

Para Gustavo Bahia, superintendente executivo do Santander, o mundo transacional perde importância e a indústria tem de se antecipar às novas demandas da nova ordem social com velocidade de resposta e processos mais simples. “O foco deve ser sempre a experiência do usuário. Criamos o Santander Radar para conectar e trocar experiências com as fintechs e desenvolver uma nova cultura comportamental. O foco é a geração de negócio. O programa teve 344 startups inscritas e duração de sete meses para capacitação de cinco empresas”, informou Bahia.

Já o BB investe em um programa de laboratórios com o Labbs Brasil e o Labbs Vale do Silício. Wagner Leão, diretor do banco, informou que a instituiçãoa também mantém contatos com empresas como Google e Apple e uma série de programas como o Pensa (banco de ideias), Insight BB (empreendedorismo) e o Hackaton.

Flávio  Pripas, diretor do Cubo, apresentou o projeto de coworking do Itaú e da Redpoint que já conta com 11 empresas apoiadoras, 250 residentes e 56 startups. “Todo o processo visa a reduzir risco. O Itaú, percebendo a velocidade da mudança, optou pelo melhor modelo de apoio a startup para enfrentar os desafios que abrangem escala (grande empresa), velocidade (startup) e execução (grande empresa). Das 56 empresas, apenas quatro são fintechs”, disse Pripas. O Ciab FEBRABAN 2017 foi palco de uma competição entre 21 fintechs. As vencedoras foram Dataholicks, Fullface e Tem.

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