Agile reescreve a carreira do desenvolvedor de software
Quando surgiu, a metodologia Agile revolucionou o setor de desenvolvimento de software, que abandonou os longos projetos em favor das entregas de resultados em períodos mais curtos. Com o tempo, a prática de quebrar grandes projetos em pequenas e rápidas entregas se espalhou para outras áreas, e isso está impactando tremendamente o mercado de trabalho. Este foi um dos temas debatidos na terça-feira, 11, durante o CIAB Febraban 2019.
O CEO e cofundador da ZUP, Bruno Pierobon, lembrou que um dos impactos mais evidentes disso é a busca pela velocidade. As empresas hoje buscam velocidade de aprendizagem, que lhes permita saber o que fazer ou não antes de seus concorrentes. Por conta disso, o executivo acredita que, em dez ou vinte anos, todas as empresas serão de tecnologia. “É preciso entender isso para competir no futuro”, provocou.
A primeira mudança, segundo o executivo, virá no modelo operacional das empresas, em que os funcionários deixarão de executar funções para pensar e entregar valor. É a organização por fluxo de valor, em que os times serão responsáveis por esta entrega e, para isso, serão necessários profissionais com novas habilidades.
“Isso significa mudança nas carreiras. O profissional precisa entender que o sucesso da carreira depende do sucesso do fluxo de valor”, explicou Pierobon, lembrando que estes profissionais deverão se preocupar não apenas com sua função, mas com toda a entrega. Aqui entram habilidades que já vêm sendo discutidas no mercado: habilidade de cooperação, colaboração, comunicação, capacidade analítica e, claro, algum conhecimento de tecnologia.
Neste ponto, o executivo acredita que o Brasil sai atrás do restante no mundo, já que estas habilidades estão mais presentes nas formações de Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática. “Hoje, apenas 17% dos formandos brasileiros são destas áreas. No ano passado, foram 170 mil, contra seis milhões na China”, comparou, justificando a existência de desemprego no País com tantas vagas especializadas em aberto.
Concorrência
Outro resultado dessa transformação é a concorrência pelos poucos profissionais restantes. Hoje, empresas de todos os setores disputam os bons profissionais que demonstrem estas habilidade. “A concorrência é feroz. Precisamos estar constantemente formando pessoas dentro da empresa e em todos os níveis”, disse Rodolfo Linhares, diretor de Serviços de Modernização de Aplicações em Nuvem da IBM.
Justamente para compensar eventuais perdas – e manter o time atualizado –, Linhares defendeu que os processos de aprendizagem sejam contínuos. Mas só isso não basta. “É preciso também gerar valor constantemente para os clientes. Só assim os profissionais se sentem engajados. Eles veem o propósito e o valor que o seu trabalho gera”, enfatizou.
No caso do Banco do Brasil, esse processo é mais complexo, já que as contratações só se dão por concurso público. O gerente executivo da diretoria de Tecnologia do BB, Marcio Mota Teixeira, lembrou que a instituição vem procurando mudar a postura de seus profissionais. “Não podemos mais ter profissionais que esperam ordens, que não sabem o que fazer”, afirmou.
Para Teixeira, essa nova postura exige propósito, vontade de encarar desafios e vontade de aprender o tempo todo. “Não estamos falando de transformação tecnológica, mas comportamental. Os bancos já entenderam isso e estão procurando se adaptar a esse movimento”, sublinhou.
No Itaú Unibanco, esse processo de transformação de postura já está em curso e começou pela própria instituição. O superintendente de Governança de Arquitetura, Processos e Práticas de TI do Itaú Unibanco, Cecílio Cosac Fraguas, disse que durante um tempo o banco até conseguia contratar os profissionais certos, mas não conseguia retê-los.
“Descobrimos que eles queriam se sentir em casa, queriam poder experimentar, se comunicar”, lembrou. Como resultado, o banco adotou pequenas mudanças que, de acordo com o executivo, fazem toda a diferença para estes profissionais, como eliminar o dress code e permitir acesso à internet e a redes sociais.
“A transformação digital é uma jornada e tem três grandes pilares: é preciso melhorar a infraestrutura de aplicações; é preciso melhorar o ambiente de trabalho, que deve favorecer a comunicação; e é preciso entender como as pessoas se relacionam com esses dois outros pilares”, defendeu.