Governo precisa mudar urgente modelo de contratação de computação em nuvem
O governo vem ganhando experiência no uso de serviços de computação em nuvem na administração federal, mas os processos de contratação ainda sofrem crises de incompatibilidade. Como destacado durante o Tech Fórum Brasil, realizado pela Network Eventos, em parceria com o Converegência Digital, em Brasília, o modelo de licitação tem amarras que dificultam a disseminação da cloud.
“Hoje existe dificuldade muito grande dos órgãos de prever o que vão usar. Nascem seis ou sete serviços novos por dia em nuvem. É muito difícil prever isso na contratação. Existe um debate grande que a Secretaria de Governo Digital está coordenando, os órgãos de controle envolvidos, de como se contratar mudando o mindset de que preciso predefinir o que eu tenho que contratar porque preciso saber exatamente o preço daquilo que vou usar. Isso não se aplica para a nuvem”, ressaltou o gerente de parcerias do Serpro, Eduardo Cardim.
Ele insistiu que “a nuvem é dinâmica. Quando mais usuários entram, a tendência é que o custo de uso diminua. Existem mudanças de unidades de medida daquele recurso computacional. Os órgãos de controle precisam entender que a dinâmica de contratação de nuvem é diferente de uma dinâmica de contratação de software. Essa mudança de mindset é fundamental para que possa proporcionar aos órgãos que contratem sem restrição de acesso aos serviços”.
Enquanto isso, os gestores vão buscando adaptações diante da necessidade natural de uso crescente de sistemas de computação em nuvem. “Nosso grande objetivo é agilidade. Dentro do Banco do Brasil estamos tendo um trabalho muito extenso de revisão dos nossos processos de contratação. A gente está olhando os obstáculos. Contratação SaaS hoje é uma realidade. Está no nosso portfólio, a gente os nossos desenvolvedores para uma construção seja para o core do Banco do Brasil. E o que é commodity, o que o mercado oferece, que a gente cada vez mais vá para a cloud, para fornecedores que tragam isso”, apontou o gerente executivo da diretoria de tecnologia do BB, Cássio Portela.
“Um exemplo de onde conseguimos tirar obstáculo foi no processo de experimentação. Fazer uma POC no BB há seis meses tinha mais obstáculos do que hoje. Hoje, rapidamente, pela camada de integração, de segurança, pelo processo formal de parceria, em pouco tempo a gente já consegue estar experimentando e aí sim partir para um processo de contratação mais assertivo”, completou o gerente da Ditec.
Creso Barca, diretor de tecnologia da BBTS, reforça. “Na BBTS, estamos adotando um conceito de contratação em que o cliente deixa de contratar o fornecedor, vai contratar o serviço. Para isso a gente traz operações ligando em cloud e serviços de parceiros. A solução, que é um grande hubs, vai ligar serviços e vai ligar clientes. Estamos auxiliando a acelerar o open banking, open finance, mas estamos falando de cloud, de conectividade, de fazer os serviços ficarem mais próximos, mais imediatos.”
Um ponto relevante, destaca o diretor da BBTS, é que a nuvem muda o planejamento de dispêndios dos órgãos públicos. “O ponto de atenção para o governo, quando a gente fala de nuvem, é que estamos falando de despesa, orçamento de despesa. E quando falamos em on premises, é orçamento de investimento.”
Para os debatedores, há uma aproximação gradual do serviço público com os serviços em nuvem. Esse movimento foi acelerado pela Covid-19 e as demandas impostas pela pandemia, mas também pela busca de maior segurança diante das crescentes ameaças digitais.
“A nuvem é mais segura. Que me desculpe o Datasus, mas para a gente foi muito bom. Muitos projetos que estavam engavetados passaram a acontecer coma pandemia. Com o ataque ao Datasus, os órgãos sem backup passaram a ligar querendo serviço imediatamente. Estou há um ano e meio na área e não tinha noção da precariedade que o governo tem. Quando tem esse tipo de ataque, precisa usar para acordar para a realidade. O que aconteceu ajudou governo e CIOs a perceberem que o risco está muito mais perto”, apontou o gerente de desenvolvimento de negócios em nuvem da Huawei, Edson Costa.