O status de maturidade analítica das empresas brasileiras
Para Luiz Riscado, diretor de negócios do SAS, é complexo analisar a maturidade de um universo vasto e distinto de empresas. Segundo ele, é preciso entender o quanto de legado de dados uma companhia tem e, a partir daí, verificar o que é importante, relevante e crítico.
A nova competição em todos os setores deve se dar no campo da análise. Empresas estão buscando se apoiar nos dados para não perderem a margem operacional ou ficarem fadadas à descontinuidade. Em setores como o financeiro e o de seguros, a análise dos dados é uma questão primordial de sobrevivência. Mas como está a maturidade das companhias brasileiras?
De acordo com Ricardo Santana, sócio líder do centro de excelência para dados, inteligência artificial e automação da KPMG, as empresas brasileiras já têm algum nível de maturidade analítica. Citando o estudo “Building Trusted Analytics”, ele afirmou que perto de 40% das empresas entrevistadas possuem maturidade analítica, isto é, quando a firma já tem estrutura, organograma e pensa a estratégia dos dados.
“Normalmente, as empresas criam um centro de excelência analítica orientado a dados. As empresas que têm estratégia analítica aplicam modelagem para saber e ter vantagem competitiva sobre seus concorrentes e serem mais competitivas”, apontou. No Brasil, adicionou Santana, as empresas que mais têm maturidade analítica são do setor financeiro, TMT (tecnologia, mídia e telecom) e saúde — que são também os segmentos que tradicionalmente mais investem em tecnologias analíticas.
O setor industrial é o mais atrasado, segundo ele. “A gente está vencendo a fase de curiosidade na escala que começa com negação, depois curiosidade, que é a parte mais de prática de uso de dados, logo depois da fase da curiosidade é fase de experimento, quando vem a prática, mas ainda não é processo”, detalhou o consultor Ricardo Cappra. Segundo ele, os Estados Unidos e países mais avançados estão na fase de testes, quando o uso de dados é prática, mas não processo ainda.
No ano de 2020, analistas e pesquisadores do Cappra Institute for Data Science entrevistaram diversos líderes brasileiros com o intuito de mensurar o Índice de Maturidade Analítica (IMA) em algumas organizações. No total, foram cerca de 500 profissionais entrevistados de forma individual, incluindo líderes e seus times, com relação aos tópicos de: analytics (transformação do dado), business (nível gerencial), cultura (C-level) e big data (tecnologia da informação), com base nos pilares da maturidade analítica – Processos, pessoas, políticas e tecnologia.
Alguns fatores mapeados como os principais dificultadores da evolução analítica incluem o distanciamento entre áreas de negócio e técnica; falta de cultura ágil, resistência em mudar a forma de pensar e agir; e acesso limitado aos dados, com as organizações ainda trabalhando em silos, impedindo que a informação circule por todas as áreas e departamentos. Somente é possível ser data-driven à medida em que o acesso aos dados é democratizado. O estudo mostrou que, em média, apenas 35% dos líderes estão usando dados nos seus processos de tomada de decisão.
Para Jefferson Denti, líder da prática digital da área de consultoria da Deloitte, os setores de telecomunicações e finanças estão fazendo bons trabalhos, mas ser uma companhia data-driven requer uma jornada e ainda há muito o que acontecer para alcançar a maturidade. “Ainda estamos tocando a superfície quando falamos deste tipo de tecnologia e aplicação.
Os investimentos, segundo Denti, têm sido acelerados nos últimos anos e quem conseguir perceber este valor e fazer investimentos estará à frente. Contudo, o número de companhias que estão fazendo os investimentos necessários para estarem à frente dos concorrentes é baixo. “Mas, quando a gente olha para os anos de 2020, 2021 e 2022, vemos que esta área está explodindo e os investimentos crescendo dia a dia. O grande desafio que o mercado tem hoje é formar bons profissionais — e isso é global”, analisou.
Qualidade, eficácia, integridade e resiliência
Para Luiz Riscado, diretor de negócios do SAS, é complexo analisar a maturidade de um universo vasto e distinto de empresas. “Eu entendo que a conscientização da importância da orientação a dados para uma boa parte das companhias já é uma realidade. Mas falar de empresas é vasto com 5 milhões de CNPJs”, ponderou.
Segundo ele, é preciso entender o quanto de legado de dados uma companhia tem e a partir daí verificar o que é importante, relevante e crítico. “Entre essa consciência e a intenção de estabelecer plano, adquirir competência, aculturar-se já temos um bom grupo de empresas nessa fase. Quando falamos de execução, o grupo é menor e isso é normal”, explicou Riscado.
Como exemplo, ele citou os bancos tradicionais, que, independentemente do porte, já passaram da fase da conscientização e entraram na fase da execução, de fazer a empresa ser data-driven. No entanto, a complexidade da agenda e o tempo para ela ser executa é diferente de uma fintech, que tem condição de nascer assim, não tem repositórios enormes de dados e nem culturas estabelecidas que precise de change management. “A orientação a dados é uma jornada e a complexidade e duração vão depender do segmento que está e da idade da empresa”, apontou.
Um pilar fundamental para as empresas que buscam tomar decisões embasadas nos dados é confiança. No entanto, uma pesquisa de 2017 da KPMG — Disrupt and Grow: 2017 Global CEO Outlook — mostrou que 1.300 CEOs não confiam plenamente nos dados e análises em que estão baseando suas decisões. Os CEOs apontaram que ser data-driven está no topo de suas estratégias e reconheceram que confiar nos dados está se tornando um tópico mais importante nas agendas, à medida em que cada vez mais estão reconhecendo o valor e a importância de análises confiáveis.
O report “Guardians of trust”, da KPMG, mostrou que compreender que a confiança na análise está fundamentada em quatro âncoras principais: qualidade, eficácia, integridade e resiliência. O estudo apontou que o nível de confiança que os tomadores de decisão depositam em suas análises podem variar significativamente de acordo com a geografia. Enquanto os entrevistados do Reino Unido são os que têm menos probabilidade de confiar em suas análises, com 43% dizendo que tem confiança limitada ou desconfiança ativa, os EUA estão logo atrás com 42% dizendo o mesmo. Mas apenas 8% dos entrevistados da Índia, 15% do Brasil e 19% da França admitiram ter falta de confiança em suas análises.