Febraban Tech 2023

Economia tokenizada: privacidade de dados ainda é um problema não resolvido

O Brasil avançou na tokenização, mas o mercado ainda é incipiente, afirmam especialistas. Com a privacidade, a regulação também é um ponto não transparente.

Especial Febraban Tech 2023

O Brasil está avançando com a tokenização, mas há questões cruciais a serem trabalhadas. E a privacidade dos dados encabeça a lista de preocupações, conforme apontaram executivos do Santander, Bradesco, Paxos e Hathor Labs, ao participar de painel sobre economia tokenizada no FEBRABAN TECH 2023, em São Paulo. “Nossa preocupação maior é com os requisitos de privacidade, que entendemos que é algo ainda não resolvido e que vamos ter problema na forma como o mercado opera”, avaliou Fernando Freitas, superintendente-executivo de Inovação do Bradesco.

Evandro Camilo, head de produto (digital assets) do Santander, fez coro: “Se pudesse decidir, seria aplicar em blockchain não permissionada aberta. Hoje, a principal dor é a privacidade. A primeira massa crítica sobre a qual  temos de debruçar é a privacidade. Temos várias características e há vários tradeoffs para entender, mas, por design, tem de olhar para privacidade e regulação”, destacou.

Para Juliana Felippe, gerente de Parcerias Empresariais da Paxos, é preciso que toda a cadeia envolvida seja muito diligente, olhando para atividades ilícitas. “Temos muitas fraudes que envolvem muitos segmentos. Mas é preciso ter equilíbrio para que a regulação não iniba a inovação”, disse a executiva.

O Brasil caminha a passos largos rumo à economia tokenizada, contando com uma infraestrutura legal e avançando com o real digital, a CBDC (moeda digital emitida por banco central) do Brasil. Além disso, o mercado financeiro enxerga que os reguladores têm tido boa vontade em  conversar com as empresas e permitir que os produtos saiam do papel.


“O processo de inovação financeira tem três pilares: o da tecnologia, o das empresas oferecendo os produtos e o pilar do consumidor. Vejo com bons olhos o caminho que tem tomado no mundo. Mas é preciso entender que blockchain é a tecnologia e não o produto. O produto financeiro quem cria são as fintechs e os bancos”, ressaltou Marcelo Brogliato, CTO da Hathor Labs.

Para Evandro Camilo, do Santander, quando se fala em tokenização, o primeiro pilar é o cliente deter o dado e poder compartilhar; o segundo é poder interagir com outras pessoas de forma engajada como comunidade e é poder transacionar. “Blockchain veio para ficar e a cripto é a primeira aplicação prática. É inacreditável que hoje o mercado financeiro opere igual há 20, 30 anos”, argumentou Juliana Felippe, da Paxos, defendendo que haja uma mudança por meio da tecnologia para aportar eficiência e atender a demandas como tempo real e agilidade em remessas internacionais.   

Para onde caminha 

O mercado, contudo, ainda é incipiente, conforme assinalou Freitas, do Bradesco. “Hoje, ativos regulados e não-regulados podem ser tokenizados, mas se somar todas as emissões ainda é muito pequeno, ainda é uma fração do que é o mercado”, justificou. “O cenário hoje está muito embaralhado e o Banco Central vem fazendo o desenho do que acha que será o futuro”, acrescentou.

Os executivos concordaram que a atuação dos reguladores brasileiros está contribuindo para o debate e para o desenvolvimento do mercado. Evandro Camilo, do Santander, assinalou que o Banco Central do Brasil, a Comissão de Valores Mobiliários e a Superintendência de Seguros Privados vêm contribuindo para a aproximação com a  inovação financeira — tendo como exemplos o Lift e sandbox.

Da perspectiva de tecnologia, Marcelo Brogliato, da Hathor Labs, apontou que o diálogo tem sido “muito aberto e sincero entre todas as partes”, com o regulador levantando quais são os riscos e preocupações. “Vejo disposição gigante por parte do BCB e da CVM”, disse. Um ponto fundamental será a velocidade com que as instituições financeiras vão tokenizar. “A ideia é democratizar e tornar tudo mais programável e inteligente. Mas qual aplicação será tão bem sucedida como Pix?”, acrescentou Juliana Felippe, da Paxos.

Já Freitas, do Bradesco, disse não ter claro para si qual será o papel do regulador e se ele será parte da cadeia ou não. “Testes do Real Digital mostram que ele será um ente relevante da cadeia, como é no Pix. Me parece que ele vai entrar nesta seara e isso vai trazer questões para frente”, justificou. Para ele, haverá uma arquitetura em blocos com tokenização, carteiras digitais e o mundo de finanças descentralizadas (DeFi).

“Entendemos que, se é algo proprietário do banco ou de parcerias, olhamos para tokenizadoras para ativos não regulados e, para os regulados, entendemos que será rede do Bacen. Das carteiras digitais, falamos em ativos 100% digitais, que perante o mercado são algo pequeno, mas parece que com o metaverso, com tudo se colidindo à frente, será maior. Estamos olhando e construindo com parceiros para estarmos prontos. E entendemos que o Bacen está moldando o mundo de DeFi para a competição do mercado”, adiantou.  

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