Open Finance: Banco Central cobra mais criatividade dos bancos
Instituições admitem uma espécie de "efeito tostines", ou seja, não entregam produtos inovadores porque dependem das informações atualizadas dos clientes, que só querem autorizar o compartilhamento de dados com a garantia de um benefício.
Massa de dados de qualidade, tecnologia e integração entre as instituições. Estes insumos do Open Finance dependem de uma ação simples dos clientes: a autorização para a troca de informações. Mas as instituições financeiras vivem uma espécie de “efeito tostines”, não entregam produtos inovadores porque dependem de informações atualizadas dos clientes e estes, por sua vez, aguardam os benefícios prometidos pelo setor no compartilhamento dos dados.
Durante painel mediado por Gustavo Paul, diretor-adjunto de Comunicação da Febraban, executivos do Banco Central, Bradesco, Itaú Unibanco e do Open Banking Excellence (OBE) debateram os próximos passos do Open Finance, apontando os avanços e as dificuldades. Helen Child, CEO e fundadora da OBE, reforçou que o Brasil é referência em inovação no setor financeiro.
Matheus Rauber, assessor sênior no departamento de Regulação do Banco Central do Brasil, pontuou que a criatividade está aquém do esperado pelo órgão regulador. “Reconhecemos que as empresas estão muito comprometidas em implementar as novas regulações, mas o BC espera mais criatividade e a entrega de novos produtos ao consumidor”, disse Rauber, em uma espécie de provocação aos bancos, que têm apontado muitas possibilidades, porém poucos produtos.
“Para alavancar a adesão do cliente é preciso entregar tangíveis”, respondeu Isis Galote, gerente de Estratégia do Itaú Unibanco. Reforçando que o Open Finance permite transformar um produto em uma oferta adequada para cada perfil de cliente, ela disse que a segunda avenida a ser trafegada pelos bancos é a entrega de uma experiência personalizada ao cliente. “Pode usar as informações para melhorar a experiência de navegação, de atendimento. Usar informações para adequar as jornadas às soluções”, afirmou, dizendo que estas duas avenidas dependem da adesão do cliente para avançar.
Cristina Pinna, software engeneering director do Bradesco, lembrou que além de aderir ao Open Finance os clientes precisam renovar periodicamente o consentimento de autorização para a troca de dados, e disse que este é um ponto que ainda não foi incorporado à rotina dos clientes. Ela também apresentou as possibilidades de novos produtos e disse que o Banco trabalha em diferentes áreas para extrair dados qualitativos que possam ser transformados em produtos customizados.
“Estamos construindo um ambiente que agregue valor ao ecossistema. Para isto, precisamos de qualidade”, afirmou a executiva, ao citar que o Bradesco utiliza analytics avançado e inteligência artificialpara extrair informações dos dados e gerar ofertas diferenciadas e customizadas aos clientes. Um exemplo, segundo ela, é o gerenciador financeiro, que agrega informações transacionais, como saldo, extrato, crédito, investimento, e entrega insights ao cliente, como avisos de possíveis novos investimentos.
Apesar da dificuldade dos clientes de perceber os benefícios do Open Finance, o que justifica a adesão abaixo da expectativa, Cristina pontuou que, no curto prazo, eles poderão vivenciar ações mais tangíveis de hiperpersonalização e iniciação de pagamento. “Estamos trabalhando com parceiros de e-commerce para oferecer a iniciação de pagamento com pouca fricção.”