Tokenização para as pessoas passa por guerra das wallets e padrões abertos
"Precisamos de atenção a padrões, especialmente em um país que tem 50 formas diferentes de se identificar", adverte o diretor de Identidade da Secretaria de Governo Digital, Hudson Mesquita.
Enquanto o País prepara o Real Digital, com foco nas transações interbancárias, pesquisadores, especialistas e governo já discutem que a tokenização tende a chegar para as pessoas em geral por meio do que é chamado de identidade soberana: algo como a agregação, via token, das diversas formas e atributos de identificação pessoal.
Mas no caminho desse desenvolvimento, além de avanços tecnológicos que envolvem a adoção de blockchain e criptografia, por exemplo, há uma guerra de padrões também em curso, como lembrou a consultora em Blockchain e Aplicações de Identidade da Fundação CPqD, Maria Teresa Aarão.
“Na Europa, estão realizando quatro grandes pilotos. Alemanha e Canadá usam Indy, como nós. Mas vários estados dos EUA emitem carteiras de motorista em cima do padrão da ISO, que não é compatível. Portanto estamos em meio a uma guerra de wallets. Já vivemos a guerra dos sistemas operacionais, a guerra dos browsers, e agora estamos na guerra das wallets. A Google tem wallet, a Apple tem wallet, são superpoderosas e fazem acordos com organizações. E no meio disso tem o W3C também definindo padrões. E o pessoal de Indy, de Hiperledger, também agora começou a convergir para ter credenciais que são interoperáveis”, destacou.
Um ponto fundamental da tokenização da identidade é a descentralização dos dados. “A identidade digital soberana pressupõe a descentralização da informação, cada usuário sendo seu próprio controlador da informação, não uma entidade, como hoje. Já está melhor que na web 1, que exigia cadastro para cada produto. Tivemos uma segunda fase de maior facilidade em cadastros via Google, FB, Twitter, e ainda caminhando para a descentralização. Mas a identidade digital soberana é caminho para que todas as informações possam transitar sem intermediários pelo blockchain. Isso será porta para a nova economia, vai trazer inclusão financeira, facilidade no acesso ao crédito dessa economia tokenizada”, afirmou a consultora para América Latina da empresa de infraestrutura de criptoativos Fireblocks, Nicole Dyskant.
O chair da Hyperledger Brasil, Josélio Teider, lembrou que questões de comprovação de identidade já são um problema, notadamente para parcelas mais vulneráveis da população. “Existem problemas de identidade digital que fazem com que pessoas não consigam alcançar benefícios. Durante a pandemia teve gente que precisava de benefício e não conseguia”, disse. Ele apontou que a tecnologia cria as condições, mas o País ainda tem lacunas de conectividade. “Internet ubíqua, criptografia, software livre constroem um ecossistema digital. É uma tempestade perfeita, tudo convergindo para um ecossistema digital com a pessoa no centro, para que pessoa decida o que faz com seus dados, algo ainda não possível no modelo atual. Para quem tem acesso, é lugar comum. Mas há lugares em que a conectividade não chega.”
O diretor do departamento de Identidade Digital da Secretaria de Governo Digital do Ministério da Gestão, Hudson Mesquita, reforçou a importância da padronização e dos padrões abertos. E lembrou que será preciso superar também questões culturais.
“Não podemos perder a oportunidade de garantir alinhamento de tudo que estamos construindo com padrões abertos, para governo, academia, mercado privado. Precisamos caminhar juntos e ficar atentos aos padrões, especialmente em um país que tem 50 formas diferentes para a gente se identificar. E trazer esse poder para o cidadão. Será muita briga, porque se tem 50 identidades, são 50 entidades com algum poder para isso. Por isso é importante a sociedade entender e cobrar.”