Futurecom 2023

Revolução dos dados passa pela orquestração e pela governança

A evolução da cultura direcionada a dados foi o tema de um dos painéis realizados nesta terça-feira, 3/10, no Futurecom 2023. Mais do que mostrar como estão direcionando suas iniciativas internas, representantes de diversas empresas apontaram as oportunidades e os obstáculos que o mercado deve enfrentar nos próximos anos.

Falando das possibilidades do mercado, o gerente de negócios e vendas da Embratel, João Del Nero, lembrou que uma pesquisa realizada pelo IBGE em 2022 com indústrias com mais de 100 colaboradores mostrou que 74% delas já adotavam computação em nuvem. Por outro lado, apenas 23% utilizavam análises com big data e um percentual ainda menor tinha projetos com Inteligência Artificial (IA). “Isso mostra que há muito para crescer”, disse.

Este crescimento, no entanto, vai depender de um processo de aculturação e amadurecimento do mercado. O próprio Del Nero destacou que, quando oferece bases de dados a clientes do varejo ou da indústria, muitos recusam, alegando não ter recursos ou tecnologia para trabalhar esses dados. “Estamos em evolução e precisamos avançar na análise de dados. As empresas já sabem que os dados são relevantes, mas precisam entender em que nível de maturidade estão”, alertou.

Mesmo concordando com a necessidade de amadurecimento, há um consenso de que o mercado evoluiu muito na última década. Para o Chief Data Officer (CDO) do Banco Pan, Samir Migliani, o Brasil caminha hoje para um cenário mais maduro. “No setor bancário, há um cenário bastante maduro e o grande desafio é extrair valor dessas informações.”


O head de Data Analytics e IA da Alelo, Daniel Martins, reconhece que hoje as áreas de dados já estão incorporadas nas empresas, que precisam amadurecer em itens como governança e orquestração de informações. “Não estamos onde gostaríamos de estar, mas evoluímos muito. Há muita oportunidade no Brasil”, defendeu.

Mais que governança e orquestração, o CDO do Itaú-Unibanco, Moisés Nascimento, colocou a questão cultural como central para o amadurecimento do uso de dados. “Uma empresa será tão boa em dados quanto serão seus executivos em dados. A transformação cultural é essencial”, disse.

Pensamento semelhante tem o diretor de estratégia, evolução e dados do Sicredi, Luis Felipe Feldens, para quem o mercado vem deixando o movimento de tecnologia para iniciar um movimento cultural. “Começamos um movimento que partiu da tecnologia e só agora estamos fazendo o caminho de volta, clarificando a estratégia de negócios e, a partir dela, repensando nossa estrutura e tecnologia”, disse. O diretor de TI do Banrisul, Jorge Krug, concordou e lembrou que grande parte das estruturas organizacionais das empresas ainda não entende como funciona a tal cultura de dados.

Para a mediadora do painel e head de Data e Analytics da NTT Data, Daniela Griecco, essa cultura deve passar também por cuidados que as empresas devem tomar ao desenvolver suas soluções. Nesse sentido, Nascimento, do Itaú-Unibanco, reforçou que as empresas devem estar atentas ao desenvolvimento responsável de soluções. “No Itaú desenvolvemos um processo baseado em gestão de riscos e com o suporte de um comitê que está trazendo questões de riscos e compliance.” Destacou que, como sociedade, é preciso organização e compreensão sobre a necessidade de regulação e a adoção de contextos éticos.

O caminho para isso, de acordo com o sócio da Gigante Consultoria, Fabrício Laguna, é a constante realização de fóruns e a conscientização de todos sobre os riscos. “Quando falamos em IA, um dos grandes riscos com os quais temos que lidar é o do viés. A IA repete comportamentos que tivemos”, afirmou. Esse cuidado precisa ser tomado para que distorções não sejam potencializadas quando novos dados forem gerados a partir de dados gerados por IA.

Governança e IA generativa   

Um dos caminhos apontados para que esses cuidados sejam garantidos é a governança. Para Feldens, da Sicredi, esta é uma questão que precisa ser desenvolvida junto com a estratégia de dados. “Temos pensado a governança desde o início dos projetos de dados, como item obrigatório. Isso tem se mostrado importante e evitado problemas”, ressaltou.

Falando da experiência da cooperativa, o executivo lembrou que nem tudo definido nos modelos de análise é seguido à risca. “Os colaboradores na ponta conhecem nossos associados e sabem coisas que a máquina não sabe, por isso temos tentado desenvolver isso de forma a eliminar os vieses, deixando o modelo com o jeito Sicredi de ser”, disse.

Del Nero, da Embratel, enfatizou que a companhia criou uma camada adicional em sua estrutura, que roda sobre a nuvem dos clientes, com o objetivo de criar governança de dados. “Muitos dos nossos clientes não têm cientistas ou engenheiro de dados. Temos que trazer plataformas para ajudá-los nesse processo.”

Para Krug, do Banrisul, a governança é fundamental para que as áreas possam interagir com dados e atingir resultados, como a redução de custos. “Vejo que antes do modelo de redução de custos, está a preparação das áreas da empresa para serem orientadas a dados”, disse. Para Migliani, do Banco Pan, tudo está correlacionado, o que torna quase impossível separar a eficiência da operação do uso de dados.

Ao mesmo tempo em que investem em governança, as empresas também buscam otimizar o uso da IA Generativa. Martins, da Alelo, lembrou que o universo de aplicações é fantástico, com a previsão de fortes impactos em áreas como atendimento ao cliente e geração de produtos digitais. “A área de educação, como conhecemos hoje, também deve mudar, assim como a medicina. Há uma era antes e outra depois da IA e tudo vai depender de como vamos utilizá-la como sociedade”, acrescentou.

Nascimento, do Itaú-Unibanco, foi além e disse que a IA Generativa vai transformar fundamentalmente toda a sociedade. “No desenvolvimento de produtos, por exemplo, veremos ciclos cada vez mais rápidos de inovação. Por isso, a fundação de dados é essencial e as empresas precisam investir em questões éticas, de pesquisa e desenvolvimento”, defendeu.

Para Laguna, da Gigante Consultoria, a chegada da IA Generativa está mostrando uma nova onda da transformação da interação entre homens e máquinas, que já passou pelo cartão perfurado, pela linha de comando, pela interface gráfica e pela internet. “Agora conversamos com a aplicação sem a necessidade de conhecer menus ou comandos. Isso muda o modo como interagimos com máquinas e todas as aplicações passarão a ter esse tipo de interface”, disse, lembrando que com a evolução da governança e a adoção dos modelos adequados, todos tendem a ganhar.

Feldens, do Sicredi, reforçou, no entanto, que governo e sociedade precisam participar desse processo, debatendo e definindo aspectos regulatórios que devem mudar o mercado como um todo. Isso traz, obviamente, uma necessidade premente de transformações culturais nas empresas.

E essas transformações devem começar pelo topo das empresas. Del Nero, da Embratel, ressaltou que deve ser uma cultura de board, sem deixar de lado a capacitação de todos os colaboradores. “Na Claro começamos um programa há dois anos e meio que treina pessoas nessa cultura de dados. Até aqui, foram mais de 300 pessoas treinadas. O caminho foi esse”, disse, revelando que os treinamentos incluem também cursos de ética. 

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