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“Em 2030, todos estarão usando inteligência artificial em seu cotidiano”, diz Pedro Doria

Jornalista alertou para impactos éticos, sociais e no mercado de trabalho diante da adoção acelerada da inteligência artificial.

Fernanda Ângelo

A inteligência artificial vai se disseminar duas vezes mais rápido do que aconteceu com os celulares. A previsão é do jornalista e escritor Pedro Doria, keynote no primeiro dia do SAP NOW. Segundo ele, enquanto os portáteis levaram 20 anos para ganhar as massas, já em 2030 devemos ver todos usando IA o tempo todo em seu cotidiano – e, justamente por isso, é preciso imaginar desde já como integrá-la de maneira consciente, ética e segura.

Durante sua apresentação, Doria apresentou uma visão histórica e prospectiva sobre a evolução da IA. Ele apresentou uma linha da evolução da tecnologia, projetou tendências para os próximos anos e alertou para os riscos éticos e sociais que precisam ser considerados.

Doria lembrou que, embora a IA pareça recente, sua origem remonta a 1955, quando cientistas da IBM criaram um jogo de damas capaz de aprender conforme as pessoas jogavam. Desde então, a evolução do machine learning foi marcada por avanços em capacidade de processamento e armazenamento, que permitiram sucessivas gerações de machine learning, redes neurais e, mais recentemente, a explosão da IA generativa.

“Por volta de 2030, todos nós usaremos IA o tempo todo em nosso cotidiano. O desafio é imaginar como vamos integrá-la de forma saudável à vida em sociedade”, afirmou. Ao detalhar o funcionamento de modelos de linguagem, Doria destacou os limites da tecnologia. “As IAs não pensam, nem sentem. Elas calculam. Não são sencientes. Ainda assim, estamos diante de máquinas capazes de exercer uma persuasão emocional imensa – e não estamos preparados para lidar com isso”, observou.


Ele também citou o professor Ethan Mollick, da Wharton Business School e especialista em IA aplicada aos negócios. Para o professor, influenciadas pelos filmes de ficção científica, as pessoas sempre imaginaram que a IA seria lógica. “As IAs substituem e emulam a criatividade humana, mas não são lógicas”, afirma Doria. Por isso, segundo ele, o especialista da Wharton sugeriu que tratássemos a IA como “uma inteligência alienígena”. A provocação seria uma espécie de alerta para a necessidade de compreender cada uma das IAs e que elas não devem ser tratadas como racionais.

Mercado de trabalho

O jornalista ressaltou que o impacto da IA no mercado de trabalho já é perceptível. Ele lembrou a declaração recente do CEO da Anthropic, Dario Amodei, de que metade dos empregos de nível júnior em escritórios pode desaparecer nos próximos cinco anos. “De fato, nos Estados Unidos, pela primeira vez, recém-formados já enfrentam maior taxa de desemprego do que profissionais experientes. Precisamos pensar que cortar jovens agora significa comprometer a formação de líderes no futuro”, alertou.

Para Doria, a adoção segura da IA exige uma atenção especial a alguns pilares, incluindo gestão responsável de dados, combate a vieses, proteção da privacidade, transparência nas decisões algorítmicas, segurança e regras em caso de acidentes e, sobretudo, o impacto sobre o emprego. “É preciso responder a perguntas fundamentais, como quais dados devem ser confidenciais, quem é responsável por acidentes causados por IA e como garantir que decisões que afetam cidadãos sejam explicáveis e passíveis de recurso”, disse.

Doria concluiu com uma provocação sobre o papel humano frente à tecnologia. Ele observou que a IA nos permite fazer trabalhos com muito mais rapidez, mas que precisamos garantir que esse avanço seja ético, seguro e inclusivo.

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