Colaboração compartilhada avança na jornada digital
Enquanto o setor público corria para oferecer serviços digitais aos cidadãos em meio à pandemia da Covid-19, o governo brasileiro recebeu uma boa notícia: o País foi classificado em 16º no Índice de Governo Digital (1) da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) relativamente ao ano de 2019. Mas não havia muito tempo para comemorar, já que a pandemia não cedera e a necessidade de digitalização só crescia.
Surgiram – e também estão no forno – vários projetos interessantes e muitos deles têm sido resultado de uma colaboração maior entre a iniciativa privada e a área pública. “Esse clima colaborativo não acabará com o fim da pandemia e a tendência é que essas parcerias se expandam ainda mais”, observa Marcia Ogawa, sócia-líder da Deloitte para Tecnologia, Mídia e Telecomunicações.
“O governo já conduzia a sua transformação digital, independentemente da pandemia, mas o fato é que acelerou a partir da Covid-19. A fim de ajudar os órgãos públicos a enfrentarem esse desafio, diversas empresas de Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) se aproximaram para um trabalho conjunto de desenvolvimento de soluções digitais que beneficiassem o cidadão”, afirma a executiva. Marcia Ogawa evita falar em programas de PPPs (Parcerias Público- Privadas), chamando essa atuação muito mais como uma colaboração compartilhada que, em sua opinião, deverá ganhar novos formatos e ser ampliada para diversas áreas.
União de esforços
A pandemia tem servido para reforçar a ideia de que a partir do compartilhamento de informações específicas – respeitando a legislação de privacidade de dados – é possível uma atuação conjunta para levar a inovação a diversos segmentos, reforça Elias de Souza, sócio da Deloitte para Governo e Serviços Públicos. “Já vimos isso em mercados como os de mobilidade urbana, saúde, portuário, aeroportuário, rodoviário e outros”, exemplifica.
A Deloitte promoveu uma pesquisa denominada Digitalização, Resiliência e Continuidade dos Negócios (2). Nesse levantamento, conta o executivo, a colaboração com a iniciativa privada foi um dos destaques ao mostrar a possibilidade de empresas de tecnologia realizarem parcerias de impacto em grande escala, fornecerem o apoio técnico para a construção de estratégias de transformação digital, garantirem agilidade na oferta de soluções de prateleira mais a capacidade para o desenvolvimento de plataformas customizadas.
O estudo ressalta ainda que há espaço para atuação ao lado de startups, em um ecossistema que envolva os órgãos governamentais e govtechs, especializadas em prover serviços para o setor público. A saúde é um exemplo significativo da efetividade do compartilhamento de iniciativas.
O mercado desse setor esteve bem aquecido nos últimos anos, com o surgimento de grande número de healthtechs com serviços diretamente ligados à telemedicina. A Covid-19 acelerou a liberação do uso da tecnologia de atendimento remoto de forma temporária, através das teleconsultas, rapidamente transformadas em referência no atendimento médico no Brasil nos meses mais agudos da pandemia.
O sistema público não ficou atrás ao implementar serviços a distância pelo TeleSUS, para informações e teleconsultas na atenção primária. Uma das estratégias foi batizada de Consultório Virtual, em parceria com o Hospital Albert Einstein, por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde – Proadi-SUS. Os números provam o sucesso da iniciativa. De acordo com o Ministério da Saúde, o Consultório Virtual fez mais de 25 mil atendimentos, 13 mil prescrições simples, 5 mil prescrições médicas e 5 mil solicitações de exames.
Se a saúde sobressaiu, a educação básica sofreu, lamenta a executiva da Deloitte Marcia Ogawa. Aconteceu a liberação compulsória do EAD (Ensino a Distância), o que envolveria um maior uso de TICs no ensino e acesso à internet. Com deficiência nas duas áreas (baixa conectividade em algumas regiões e pouco acesso a dispositivos para todos os alunos), a adoção nas escolas públicas ficou abaixo dos 20% e, num claro sinal da desigualdade digital nacional, na área privada essa adesão chegou a 85%.
Índice de Governo Digital – 2019 |
1 – Coreia |
2 – Reino Unido |
3 – Colômbia |
4 – Dinamarca |
5 – Japão |
6 – Canadá |
7 – Espanha |
8 – Israel |
9 – Uruguai |
10 – Portugal |
11 – França |
12 – Nova Zelândia |
13 – Noruega |
14 – Luxemburgo |
15 – Itália |
16 – BRASIL |
17 – Eslovênia |
18 – Estônia |
19 – Letônia |
20 – Áustria |
Fonte: OCDE, outubro 2020 |
(2) https://www2.deloitte.com/br/pt/pages/strategy-operations/articles/analise-covid-setores.html