Opinião

Descalabro na TI do Governo: Concurso Público Nacional Unificado expõe negligência crônica

Por Thiago Aquino*

Um verdadeiro desastre se desenha no cenário da Tecnologia da Informação no setor público federal. O mais recente Concurso Público Nacional Unificado, promovido pelo Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, deveria ser a porta de entrada para profissionais de TI qualificados, mas se converteu em um símbolo de omissão, falta de planejamento e negligência.

Das 300 vagas inicialmente ofertadas para o curso de formação, 95 candidatos recusaram ou sequer manifestaram interesse na primeira chamada. Quando a segunda convocação chegou, outros 23 candidatos abandonaram o processo. Agora, uma terceira chamada já é anunciada, escancarando a incapacidade do Ministério em conduzir uma seleção eficiente e atrativa.

Não bastassem os números vexatórios, o quadro se agrava com as previsões para a etapa de matrícula: segundo a ANATI, uma associação representativa da área, a expectativa é de que outros 30% dos que manifestaram interesse acabem desistindo. Trata-se de um sinal claro de que a carreira de TI no governo federal se tornou irrelevante para os profissionais que ela deveria atrair.

O mais revoltante, contudo, é a postura do Ministério. Diversos alertas da Associação Nacional dos Analistas em Tecnologia da Informação – ANATI- foram solenemente ignorados. Estudos detalhados, pesquisas de mercado, dados irrefutáveis: tudo foi negligenciado. Não houve qualquer esforço sério para estudar as propostas, para analisar a realidade do mercado ou para ajustar a remuneração e as condições de trabalho. Esse desprezo pela carreira de TI não só desestimula novos talentos, como também está levando muitos dos Analistas de Tecnologia da Informação atuais a buscar alternativas. Muitos já apontam para cargos no TSE Unificado ou em concursos do próprio CNPU, que oferecem remuneração e condições muito superiores.


O resultado dessa condução desastrosa é um verdadeiro golpe na estratégia de governo digital. Em um momento crítico da transformação digital do Estado, com tecnologias emergentes como inteligência artificial e internet das coisas impulsionando a eficiência pública, o Ministério simplesmente deixa a área de TI à deriva. Sem talentos qualificados, a segurança de dados brasileiros, o suporte técnico aos Estados e Municípios e a inovação na prestação de serviços públicos estão em risco.

Uma questão essencial precisa ser respondida: como é possível que um concurso de TI no Brasil precise de três, ou até mais chamadas, para preencher suas vagas? Ministra Esther e sua equipe devem explicações urgentes. Não se trata apenas de incompetência administrativa; é uma afronta aos princípios de gestão pública eficiente e responsável. Chegou o momento de cobrar mudanças drásticas e efetivas, antes que o setor de TI do governo federal desmorone de vez.

A ANATI propôs a Emenda Nº 311 – CMMPV 1286/2024 com intuito de resolver na causa raiz esse problema, um plano de carreira justo e exequível, inclusive com um impacto só em julho de 2026, temos certeza que se tivermos o apoio do governo na supracitada emenda, estaremos resolvendo esse problema de retenção e atração de profissionais de tecnologia, que se estende desde 2013.

Thiago Aquino é presidente da ANATI

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