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Extinção da CEITEC liquida política brasileira de semicondutores

O Governo Bolsonaro sinalizou a intenção de extinguir a CEITEC, a estatal de chips, criada em 2008, localizada no Rio Grande do Sul, de acordo com reportagem divulgada nesta quinta-feira, 10/01, no jornal O Estado de São Paulo. Oficialmente, o MCTIC, por meio de um comunicado, diz que a informação não procede, mas sugere que ‘ainda não existe decisão ou confirmação de que a CEITEC será liquidada pelo governo federal’. Hoje, a estatal produz chips para identificação de animais, medicamentos, hemoderivados e veículos.

A CEITEC – criada para recolocar o Brasil na rota da indústria mundial de semicondutores – nasceu em 2008, no Governo Lula. Hoje a companhia tem mais de 200 empregados, dos quais quais quatro são pós-doutores, 10 doutores e 46 têm mestrado. Mas a sua trajetória, nos últimos 20 anos, foi marcada por mais baixos do que altos.  Os projetos não andaram como o esperado, nem trouxeram resultados estimados. Vale lembrar que uma indústria de chips consome muito dinheiro, e como é uma estatal, significa receber recursos do governo. Segundo dados oficiais, a CEITEC recebeu mais de R$ 1,08 bilhão de investimentos e muito pouco produziu de retorno.

É verdade também que os projetos que poderiam dar sustentabilidade à CEITEC não andaram. O principal deles – o programa SINIAV, que previa colocar chips em toda a frota de carros do Brasil, estimada em 60 milhões de automóveis ativos. O projeto – que teria chip da CEITEC – não andou por disputas entre Estados, pelo interesse da indústria privada em abocanhar esse filão e pelo desinteresse do governo federal em aderir à novas tecnologias.

A massificação da Internet das Coisas era enxergada como uma oportunidade sem igual para a CEITEC. Como IoT tem volume, o que representa escala, a produção de chips poderia, enfim, decolar. Estatal também ficou conhecida por produzir o chip do boi, para identificação nacional.

Dados divulgados pela Associação Brasileira da Indústria de Semicondutores (Abisemi) mostram que o segmento de semicondutores movimenta cerca de US$ 450 bilhões por ano no mundo. No Brasil, são entre US$ 10 bilhões e US$ 11 bilhões, mas apenas em torno de US$ 1 bilhão são de vendas de empresas brasileiras.


Enquanto o Brasil discute o fim da CEITEC, na Europa, no final de dezembro passado, França, Alemanha, Itália e Reino Unido anunciaram a concessão de 1,75 bilhão de euros em auxílio estatal a um projeto conjunto de microeletrônica que incentivará investimentos em dispositivos conectados à internet. Pelo menos 29 empresas e 20 instituições de pesquisa estão envolvidos, como Bosch, Infineon, STMicroelectronics, OSRAM, Carl Zeiss e Murata.

No ano passado, outro projeto de fazer chips no Brasil morreu com a venda dos ativos da BRPhotonics – joint-venture entre o CPqD e da norte-americana GigOptix, depois comprada pela IDT -por US$ 350 mil à norte-americana Lightwave Logic. A derrocada da BRPhotonics, anunciada com pompa e circustãncia pelo governo e pelo MCTIC em 2014, foi considerado um baque no sonho brasileiro de produzir componentes. Como descreveu uma fonte, “a história não acabou como se gostaria, mas a tecnologia estava na bancada, havia uma fila de clientes interessados, mas infelizmente não houve tração no mercado para financiar a tempo. Faltou dinheiro. Fazer microeletrônica, fazer chip exige muito capital”.

*Com Estado de São Paulo e MCTIC

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