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Fundador da gestora SPX nega bolha de IA, mas teme pelo retorno dos altos investimentos feitos

Rogério Xavier foi entrevistado pela chefe de análise da Indê, Luciana Seabra, em podcast gravado com plateia no Memorial da América Latina, em São Paulo

O fundador da SPX Capital, Rogério Xavier, disse não acreditar que exista retorno para a quantidade de investimentos que estão sendo feitos em inteligência artificial. “Individualmente, eu acho que uma dessas companhias, que eu não sei qual é, eu tenderia a achar que o Google vai ser o vencedor pelo lado americano. Não acho que tem bolha, mas um valuation muito alto que precisa passar por correção”, afirmou Xavier, em podcast gravado com plateia no Memorial da América Latina, em São Paulo, com a chefe de análise da Indê, Luciana Seabra.

A gestora SPX administra R$ 42 bilhões de patrimônio e tem escritórios em Londres, Nova York, Cascais, Singapura e está montando mais um em Abu Dhabi. Xavier fundou a SPX em 2010 após passagens pelo Banco de Investimentos Garantia entre 1985 e 1988 e pelo Banco BBM entre 1989 e 2010. Neste último, foi diretor-responsável pela Tesouraria entre 1997 e 2007. Em 2008, assumiu a diretoria-executiva da unidade de Gestão de Recursos de Terceiros; e deixou o BBM em 2010. Atualmente, preside o conselho e é operador de juros da SPX.

Nessa linha, Xavier afirmou que, quando se olha para o agregado de tudo, não tem retorno para o tamanho do investimento. Por isso, em algum momento, os modelos de negócios serão discutidos. “As empresas hoje são intensivas em capital, energia, ativos físicos, os datacenters, warehouses. Mudou o negócio, o business dessas companhias. Antigamente, elas vendiam anúncios nas suas plataformas, vendiam softwares. Agora, estão botando satélite no espaço com datacenters para usar a temperatura da estratosfera para esfriar o clúster e para pegar luz solar e painéis para gerar energia. Olha o custo disso”, justificou.

Mas qual país sairá vencedor? Para ele, será a China, mas o país não ganhará a guerra porque sofrerá boicote do Ocidente. “O grande vencedor disso vai ser a China. Quando eu comparo a China com os Estados Unidos, a China tem custo de capital mais barato que os Estados Unidos. Não é à toa que o que o Trump fica batendo no Fed; ele quer juro mais baixo, porque o juro na China é perto de zero e subsidiado e, nos EUA, está perto de quatro e não é subsidiado. E tem a geração de energia. A China, nos próximos cinco anos, vai colocar 3,2 terrawatts no mercado e os EUA, na melhor das hipóteses, 400 GW”, explicou.

Isso significa que a China, que tem um modelo de distribuição de energia centralizado, terá um potencial de energia praticamente dez vezes maior que a dos Estados Unidos, cujo modelo é descentralizado. Além disso, o fundador da SPX ressaltou o fato de que a China vem reduzindo a lacuna em relação à potência intelectual.


Mas, então, por que a China, na visão de Xavier, não vai ganhar essa guerra? “Porque o Ocidente vai boicotar da mesma maneira que boicotou a Huawei. Vai proibir que nós ocidentais usemos, por exemplo, o DeepSeek ou o Alibaba. Então, o que vai acontecer é que vão ter dois blocos”, apontou.

Isso não significa que a China não vai ganhar dinheiro. “Ela vai ganhar e vai ser dominante na Ásia. No ocidente vão ficar companhias, mas elas vão ser menos rentáveis. Na minha avaliação, elas vão passar por um processo de reavaliação dos seus múltiplos, de valuations. Elas vão quebrar? Eu não acho que vai ter gente quebrando. Não acho que vai ter uma quebradeira do setor de inteligência artificial. Acho que os múltiplos vão ser diferentes”, detalhou.

Para Xavier, se houver uma reversão de valuations, as pessoas vão questionar mais os investimentos que estão sendo feitos.

Ele falou também sobre o papel do Brasil nesse cenário, ressaltando o fato de o País ser o segundo maior produtor de terras raras. “A gente é estratégico e tem muito espaço para datacenters aqui, porque a geração de energia é bastante boa e grande. Mas depende muito de que governo a gente está falando. Se a gente tivesse um governo, focado em dar espaço para o setor privado se desenvolver, eu acho que a gente seria um polo de atração de investimentos muito forte. Então, você diminui o valuation das companhias, mas não necessariamente para de produzir data centers, porque isso é irreversível.”

Com relação à demanda por chips, o fundador da SPX destacou o papel da Nvidia. “Quando a gente fala da Nvidia, você pode discutir o valor eixo da Nvidia, mas eu não acho que a demanda por chips vai diminuir. Eu acho que é exponencial esse negócio; não vai parar. O preço muda, mas a quantidade sobe.”

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