Inteligência Artificial faz explodir demanda por energia nos Estados Unidos. Quem vai pagar a conta?
Dados dão conta que se as concessionárias de energia subestimarem a demanda, correm o risco de sobrecarregar a rede atual e há riscos de apagões e instabilidades. Se investem, o custo está sendo dividido por todos os clientes, ação reclamada por analistas de mercado.

Não está fácil para as concessionárias de energia elétrica nos Estados Unidos. A demanda por capacidade por conta de data centers voltados à inteligência artificial só multiplica. A grande pergunta hoje é: quem vai pagar a conta dos investimentos bilionários em infraestrutura? Boa parte dos analistas é taxativa: o consumidor tradicional vai pagar essa conta.
A subsidiária de serviços públicos do Texas da Sempra, Oncor Electric, que atende a área de Dallas, recebeu solicitações de conexão para mais 119 gigawatts — quase quatro vezes o pico de uso de eletricidade do seu sistema. Da mesma forma, a PPL na Pensilvânia relatou solicitações de data center excedendo 50 GW, com pelo menos 9 GW em estágios avançados de desenvolvimento — superando sua capacidade de geração atual de 7,2 GW.
“O que estamos vendo é esse enorme influxo proposto desses projetos abstratos sobre os quais ninguém sabe nada”, disse Jon Gordon, diretor da Advanced Energy United, um grupo comercial de energia limpa cujos membros incluem produtores de energia limpa e grandes usuários de energia, como data centers.
No Kansas e no Missouri, o pipeline de demanda adicional da concessionária Evergy impulsionado por data centers quase dobrou para mais de 11 GW no final de 2024, excedendo ligeiramente a demanda máxima que todo o sistema da concessionária deve enfrentar em qualquer momento em 2025.
Hoje, os data centers respondem por aproximadamente 4% da demanda de eletricidade dos EUA, mas, de acordo com previsões do Lawrence Berkeley National Laboratory, esse número pode aumentar para 12% até 2028 — um aumento de três vezes em apenas três anos. Esse crescimento explosivo é impulsionado principalmente pelas demandas computacionais de sistemas de inteligência artificial.
A questão que se impõe é: como atender a essa demanda sem sobrecarregar os clientes existentes ou criar instabilidade na rede? “Se as concessionárias subestimarem a demanda, elas correm o risco de uma rede elétrica instável com uma chance maior de apagões para seus clientes. Se elas construírem demais, os consumidores pagadores de tarifas podem acabar pagando a conta”, sinaliza Nick Campanella, analista do Barclays.
As concessionárias de energia já anunciaram bilhões em gastos de capital adicionais somente neste ano, com algumas dobrando seus planos de investimento de cinco anos. Mas o modelo tradicional de distribuir os custos de infraestrutura entre todos os clientes está sendo questionado, conforme destacado em um relatório recente da Harvard Law School intitulado Extracting Profits from the Public: How Utility Ratepayers are Paying for Big Tech’s Power.
“As impressionantes demandas de energia dos data centers desafiam a suposição de que todos se beneficiam desses investimentos”, escreveram os autores do relatório Ari Peskoe e Eliza Martin. “Estamos todos pagando pelos custos de energia das corporações mais ricas do mundo.”