Recrutadores e a dura tarefa de contratar cientistas de dados
A demanda por cientistas e engenheiros de dados segue em alta e a expectativa é continuar assim pelos próximos anos. Do lado que quem recruta esses profissionais, o desafio tem sido encontrar profissionais adequados às demandas das empresas, principalmente, em um cenário no qual o Brasil é exportador deste tipo de mão de obra para outros países.
Especializado no recrutamento de profissionais para este mercado, Fulvio Nishiyama, sócio-fundador da GFY Consulting, diz que recruta cientistas de dados mesmo antes de este profissional levar este nome. “Em 2011, quando eu comecei a recrutar, os analistas de BI ou data base analytics, que cuidavam da base de dados da empresa, era uma carreira super em alta. Com estas áreas criadas, houve a necessidade de as empresas terem pessoas para analisar isto; e os famosos analistas de modelagem estatística passaram a ser valorizados, porque conseguiam gerar estatísticas em cima da base de dados da empresa”, conta.
A rápida evolução da tecnologia somada ao crescimento exponencial do volume dos dados valorizou ainda mais este profissional. E a corrida para contratar um cientista de dados se acirrou. No Brasil, atesta Nishiyama, este movimento começou, entre 2013 e 2014, com empresas pioneiras se espelhando em companhias estrangeiras.
Em 2015, Nishiyama conta que começou a ter solicitações recrutamento com o nome de cientista de dados. As empresas buscavam pessoas com background em exatas (como estatística, matemática, engenharia e física) e que conhecessem um pouco de linguagem de programação de software.
“O grande problema é que as empresas, em 2015, queriam pessoas com experiência, mas carreira era nova e não havia pessoas com experiência. Quem começou naquele momento a trabalhar com isto trabalha com estatística, exatas”, explica o recrutador. Há cinco anos, vale lembrar, não existia uma formação multidisciplinar para a carreira como existe hoje em universidades.
Atualmente, reflete Nishiyama, existe uma demanda muito alta para a posição de cientista de dados e a dificuldade é ainda maior para encontrar engenheiros de dados. “Existem mais posições que profissionais. E encontramos no mercado pessoas ruins ganhando muito e pessoas muitos boas ganhando muito”, avalia.
Para se ter uma ideia, o recrutador diz que não é difícil que um profissional júnior tenha salário de R$ 10 mil mensais. Já o salário mensal de um cientista de dados com cinco anos de experiência e comprovadamente competente chega a R$ 30 mil.
Caio Nascimento, que responde pela aquisição de talentos para cientista de dados e engenharia de aprendizado de máquina na Wildlife Studios, acrescenta que, além de o mercado de cientista de dados ainda estar aquecido, virou tendência buscar data Science.
“As empresas vêm a evolução de cientista de dados e machine learning em economias que estão mais à frente do Brasil, como EUA e China. Ter ou não área de ciência de dados é um tema que sempre está na pauta de discussão e o Brasil vem amadurecendo e vendo o que pode ou não ser feito”, reflete. Segundo ele, as empresas por aqui expressam vontade de contar com esta área, mas não sabem exatamente como começar, o que pode ser um problema inclusive de oferta e demanda.
Tratam-se, segundo ele, de carreiras promissoras, tanto a de cientistas como a de engenheiros de dados. “Vejo um interesse crescente não apenas setor privado, mas também no público em aplicar machine learning em problemas que se têm hoje e que provavelmente estarão no futuro. O mercado está, cada vez mais, entendendo o que é possível, o que não é possível e como começar. Com este entendimento, escolas e cursos vão preparar melhor estes profissionais para o mercado”, diz.
Profissional requisitado
Preencher uma vaga de cientista de dados não é tarefa simples, até porque o Brasil, há anos, é um celeiro de talentos para EUA, Canadá, Irlanda, Portugal, Alemanha e Inglaterra, com as empresas destes países buscando aqui os profissionais.
“Para conseguirmos fechar uma posição de cientista ou engenheiro de dados, precisamos falar com mais ou menos, abordando por mensagem ou e-mail, quase cem candidatos, conversar com cerca de 40 por telefone e entrevistar dez previamente para passar quatro para a entrevista com cliente que nos contratou. É um processo bem pesado”, relata Nishiyama. Para ele, esta posição deve continuar em alta nos próximos dois a três anos ou até surgir algo novo que vai exigir transformação destas pessoas.
Uma das características que valorizam o cientista de dados é a versatilidade. Ele consegue mudar de segmento de mercado com grande facilidade, porque seu principal foco é entender e analisar dados. Mas é óbvio que conhecer a área de atuação — por exemplo, medicina, finanças, telecomunicações — faz diferença.